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Com uma crescente nos casos da Covid-19, a aldeia indígena Espinheiro, do povo Pankararu, confirmou na terça-feira (1º) o seu primeiro óbito pela doença. Dona Lourdes, de 64 anos, como foi identificada, vivia em Tacaratu, no Sertão de Pernambuco, um dos três municípios ocupados por esse mesmo povo na região, e estava internada em um hospital em Serra Talhada, também no Sertão.

Segundo o boletim de saúde gerado pelos próprios Pankararu, Lourdes era diabética e faleceu por comorbidades associadas à Covid-19. A informação foi divulgada pela Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).

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Ainda segundo a nota da Apoinme, a aldeia luta também pela vida da filha de Lourdes, Sinésia, que se encontra internada em uma Unidade de Terapia Intensiva em Serra Talhada. À população, Larissa Santos, neta de Lourdes e prima de Sinésia, deixou uma mensagem em apelo.

“Mulher forte, guerreira, especial, uma das pessoas mais importantes que já conheci, e que dava e sempre dará orgulho para todos. Um vírus terrível a tirou de nós, mas tudo é como Deus quer. Peço que se conscientizem, a vida é só uma e é passageira, passa num piscar de olhos e a gente não percebe. A prova que esse vírus é cruel e existe, ele não escolhe nem cor nem raça. Se cuidem e usem máscara”, escreveu a familiar.

O caso de Sinésia é um dos 43 ativos entre as três aldeias do povo Pankararu: Espinheiro, Agreste e Macaco. De acordo com o boletim, o povo já confirmou 74 casos, mas recuperou 31 deles e os demais estão sob monitoramento. Foram descartados 202 casos, dos quais 197 passaram pelo teste rápido com resultado negativo, e cinco realizaram o exame RT-PCR em laboratório.

Há ainda 47 casos suspeitos. Em distribuição por aldeia, são 38 casos na aldeia Espinheiro, onde vivem cerca de 480 pessoas; quatro casos na aldeia do Macaco, e um caso na aldeia Agreste.

O Ministério Público Federal (MPF) conseguiu que a Justiça impedisse a realização de campanhas eleitorais em terras indígenas de Pernambuco, sob aplicação de multa de R$ 10 mil. Decisão é dessa quarta-feira (11). Em outubro, após solicitação das próprias comunidades, o órgão já havia recomendado que os candidatos consultassem caciques para antes de realizar atos de campanha nos territórios.

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Mesmo após a recomendação referente ao acesso mediante autorização de lideranças, candidatos entraram ilegalmente nas terras do povo Pankararu, no Sertão. Na decisão, o MPF reforça uma portaria da Fundação Nacional do Índio (Funai), que já havia estabelecido medidas de prevenção contra a Covid-19.

Na ocasião, as Promotorias Eleitorais de Tacaratu, Jatobá, Itacuruba, Floresta e Petrolândia já haviam acionado o MPF expedir recomendações aos partidos e garantir que a Funai também fosse comunicada sobre a realização de atos de campanha. Contudo, muitas das siglas não informaram sobre o acatamento do documento, aponta o MPF.

A DC anunciou que a heroína Mulher-Maravilha terá uma versão indígena e brasileira. A personagem foi batizada de Yara Flor. A primeira arte da personagem e sua HQ ficaram a cargo da escritora e artista Joelle Jones.

A Mulher-Maravilha brasileira fará parte de uma nova saga de HQs da DC, "Future State", que será publicada a partir de janeiro de 2021. As histórias vão abordar uma nova geração de super-heróis, além dos personagens clássicos.

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Foto: Reprodução / DC Comics

No Twitter, o fã Marcus Lucon revelou ter entrado em contato via Instagram com Joelle e comentou com a artista que achou a personagem semelhante a atriz brasileira Suyane Moreira, que participou da novela "Os Mutantes: Caminhos do Coração", da Record TV. O que ele não esperava era que a quadrinista fosse responder e confirmar que Suyane foi referência para criar Yara.

A protagonista da HQ "Future State: Wonder Woman" viverá aventuras junto ao filho de Clark Kent, Jon, que assume o manto de seu pai como novo Superman.

O povo indígena Pankararu, localizado entre os municípios de Jatobá, Tacaratu e Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, decidiu que não vai permitir a entrada de candidatos não indígenas nos territórios para fazer campanha. Candidatos indígenas que vivam fora das terras também não poderão entrar para fazer campanha a não ser que decidam fixar moradia em algum desses territórios.

A decisão foi tomada após reuniões que contaram com participação de caciques, pajés e pré-candidatos a vereadores dos três municípios. Segundo as lideranças Pankararu, a medida é uma forma de evitar proliferação e contágio da Covid-19.

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Em um documento assinado por três caciques e um representante de cacique, os Pankararu dizem estar proibida a entrada na terra Pankararu e Entre Serras Pankararu de candidatos indígenas e não indígenas que residam fora das reservas. Os não indígenas que pretendam fazer campanha nos territórios devem fixar moradia em um desses locais antes do início da propaganda eleitoral.

A comunidade permitirá que indígenas de fora do território façam visitas a familiares de 1º e 2º grau desde que não promovam eventos políticos. Os interessados em montar comitês para organização da campanha precisarão cumprir todos os protocolos de saúde, como utilização de álcool 70% e máscaras.

Israel testou negativo para a doença. (Reprodução/Facebook)

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Secretaria de Saúde do Distrito Federal disse que houve erro no atestado de óbito de Israel Martins; unidade federativa segue, portanto, sem óbitos em decorrência do coronavírus A Secretaria de Saúde do Distrito Federal retificou a informação de que o indígena Israel Martins faleceu em decorrência da covid-19. Na verdade, ocorreu um erro no atestado de óbito, que apenas registrava suspeita da doença. Israel testou negativo para a covid-19.

Assim, o Distrito Federal segue sem nenhuma morte causada pelo coronavírus. Leia a nota da Secretaria de Saúde da unidade federativa na íntegra:

“ A Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal, informa que o caso amplamente divulgado na noite de ontem (27), como sendo a primeira vítima do Covid-19 no DF, *testou negativo* em exame definitivo realizado pelo Laboratório Central (Lacen) segundo teste molecular para detecção de SAR-COV2 por reação de PCR em tempo real utilizando o protocolo Berlim. O desencontro de informações se deu, em virtude da indicação de suspeita da doença no atestado de óbito que, em si só, não confirma a causa morte. Portanto, o Distrito Federal continua sem nenhum óbito registrado até o momento”.

A primeira morte provocada pela covid-19 no Distrito Federal foi a de um indígena da etnia Pareci. A vítima, Israel Tiago Martins, de 46 anos, não vivia em uma aldeia, conforme a Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde.

Martins morava desde fevereiro na capital federal, em um assentamento na Rota do Cavalo, zona rural. No local, vivem moradores indígenas e não-indígenas. Ele era natural de Cáceres (MT) e antes vivia em São Carlos (SP).

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Ele deu entrada na sexta-feira, 27, em uma Unidade de Pronto Atendimento em Sobradinho, com febre e dificuldade de respiração e tinha histórico de hipertensão e diabetes. O óbito foi confirmado no mesmo dia por complicações respiratórias.

Aldeias

Os Distritos Sanitários Especiais Indígenas estão em alerta, em fase de contenção da covid-19.

Atualmente, há 13 casos considerados como suspeitos de infecção pelo novo coronavírus em acompanhamento pela Secretaria Especial de Saúde Indígena. Sete deles são de índios que vivem nas regiões Sul e Sudeste do País, nos distritos Interior Sul (4) e Litoral Sul (3).

Outras duas suspeitas de infecção de xavantes já foram descartadas pelo Ministério da Saúde, indica o mais recente boletim epidemiológico.

Risco

A secretaria orientou os indígenas a evitarem deslocamentos das aldeias a centros urbanos, assim como não permitirem a entrada de pessoas externas em suas terras.

Conforme o ministério, 800 mil indígenas vivem em aldeias sob responsabilidade de atendimento dos 34 distritos sanitários especiais em todo o País.

Fronteiras

A maior suscetibilidade dos indígenas a infecções respiratórias foi usada pela secretaria para pedir o fechamento de fronteiras e medidas efetivas para garantir a efetiva proibição da entrada de estrangeiros.

Conforme dados do ministério, 79 mil índios vivem em terras Yanomami e do Leste de Roraima, perto da Venezuela e da Guiana; 76 mil índios, na região do Alto Solimões e Vale do Javari, próximo ao Peru e à Colômbia. Outros 13 mil estão na região do Amapá e Norte do Pará, vizinhas à Guiana Francesa.

O Ministério Público Federal (MPF) solicitou, nessa quarta-feira (25), que a Polícia Federal (PF) investigue uma suposta expedição missionária à Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. Para órgão, a entrada de pessoas de fora da aldeia representa grave risco à saúde dos nativos, o que pode acarretar em um aumento expressivo da taxa de mortandade em decorrência da pandemia.

A suposta intenção do missionário americano Andrew Tonkin de invadir o território Igarapé Lambança, tomado por indígenas em isolamento voluntário, poderia ser irremediável. Pois, os moradores são "extremamente vulneráveis a doenças", aponta o MPF. Além do risco, a entrada não autorizada no território pode configurar crime contra a saúde pública, dentre outros ilícitos penais, visto que, a Constituição determina uma política de não contato com povos indígenas isolados.

Além de requisitar a abertura do inquérito, o MPF solicitou informações ao próprio missionário e à Fundação Nacional do Índio (Funai). A intenção é saber quais providência serão adotadas para impedir a entrada de pessoas no território. Andrew Tonkin tem 24 horas para se manifestar e revelar se tem autorização oficial, quem financia a expedição e a identidade dos envolvidos na jornada.

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Nessa segunda-feira (23), a Funai seguiu a recomendação do MPF para alterar a Portaria 419/2020 - que estabelecia medidas temporárias de prevenção à infecção e propagação da covid-19 em terras indígenas - para prever que só a Coordenação Geral dos Índios Isolados e de Recente Contato possa autorizar, em caráter excepcional, atividades no território.

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) recomendou à Secretaria de Educação de Palmares e à Gerência Regional de Educação (GRE) Mata Sul que o currículo das escolas públicas e privadas do município seja aprimorado em 2020. O objetivo é garantir o cumprimento da legislação que determina o ensino de cultura afro-brasileira, africana e indígena. 

De acordo com o 3º Promotor de Justiça Cível de Palmares, João Paulo Pedrosa Barbosa, a Secretaria de Educação do município deveria reconhecer que o tema é importante e ter informado o MPPE sobre ações realizadas em escolas municipais. No entanto, nenhuma orientação sobre as ações desempenhadas junto às demais escolas de modo padronizado foi apresentada ao órgão.

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O Ministério Público recomendou que o município modifique seu plano de ação para o ano letivo de 2020 no sentido de incluir livros de referência para adequar o ensino às exigências legais para inclusão da temática histórica e cultural afrobrasileira e indígena. A recomendação também orienta a prefeitura a estimular a capacitação continuada de professores das escolas de Palmares, preparando-os para trabalhar os conteúdos ligados à cultura africana, indígena e afro-brasileira em todo o currículo escolar. 

A Secretaria de Educação tem um prazo de 30 dias para comunicar as mudanças realizadas para cumprir as recomendações à Promotoria de Justiça de Palmares. Tanto a GRE Mata Sul quanto o município devem ainda enviar relatórios anuais, sempre 30 dias antes do início de cada ano letivo, informando sobre o programa de capacitação continuada dos professores dos sistemas municipal e estadual de ensino. 

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--> Saiba como funciona as Comissões de Verificação de Cotas

Policiais que participam das manifestações que estão acontecendo na Bolívia cortaram de seus uniformes o símbolo do Whipala, reconhecido como um símbolo do Estado Plurinacional da Bolívia que, segundo afirmado pela deputada Taliria Petrone, “incorporou as diversas nações indígenas no seio da institucionalidade boliviana desde a instauração da atual constituinte”. 

A Whipala é apontada como um símbolo de identificação cultural dos povos da Bolívia, representando a unidade, a solidariedade e a harmonia entre as diferentes etnias da região. Taliria, por meio de sua conta do Instagram, diz que “não é à toa que ela (Whipala) passou a ser muito atacada pelos ‘setores golpistas’, pois vai contra todo o racismo, colonialismo e fundamentalismo cristão que norteia os golpistas bolivianos”.

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A situação política da Bolívia se complicou depois que Evo Morales foi reeleito para um mandato de 6 anos. Oposição e até a Organização dos Estados Americanos (OEA) apontaram falhas no processo eleitoral como "manipulação ao sistema de computação de voto e assinaturas falsificadas". 

Nesta última semana, Morales renunciou ao seu mandato após três semanas de protestos contra a sua reeleição e depois de perder o apoio das Forças Armadas. Atualmente existe um vácuo no país e ninguém sabe quem está comandando a Bolívia. Nesta segunda-feira (11), o agora ex-presidente boliviano aceitou a oferta de asilo oferecida pelo México.

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Foi-se o tempo em que se acreditava que os indígenas não convergiam com o ambiente tecnológico. Fugindo de estereótipos e abraçando as diferentes necessidades dos povos originários plataformas mobile, ou feitas para desktop, promovem a integração de uma população que precisa, cada vez mais, elevar sua voz para garantir seu lugar em uma sociedade que tem que reaprender a dar valor às suas pautas. Para celebrar o Dia Internacional dos Povos Indígenas e dar um pouco mais de luz à essa cultura tão rica, separamos cinco plataformas com conteúdos e soluções voltados à essa parcela de brasileiros. Confira:

Alerta Clima Indígena 

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Um dos vencedores do prêmio Desafio de Impacto Social Google 2016, o aplicativo foi pensado para solucionar a dificuldade dos povos indígenas em terem informações frequentes e de qualidade sobre os impactos das mudanças climáticas. Criado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM, o Alerta Clima Indígena envia informações sobre focos de calor, desmatamento e risco de seca para as Terras Indígenas da Amazônia brasileira. 

Avañeʼẽ - Dicionário Guarani - Português

Como o próprio nome já diz é um app que se propõe a traduzir palavras do Guarani para o Português e vice-versa. A ferramenta ainda permite a possibilidade de incluir palavras, fazer buscas por grupo de palavras usando as iniciais da letra, além de também funcionar off-line, após a primeira vez em contato com a internet para carregar o banco de dados.

Kiriri

Kiriri ou Quiriri é um povo indígena que habita na região norte da Bahia e serviu de inspiração para a criação de um aplicativo que ensina a valorizar a água. Como a população do Quiriri é ribeirinha o app foca em ensinar sobre o uso racional do elemento e, por meio de jogos e quebra-cabeças, aborda temas como o ciclo hidrológico associado à conservação de solos.

Vídeo nas Aldeias

Saindo um pouco dos aplicativos para mobile e indo para outras plataformas online, nos deparamos com o Vídeo nas Aldeias. Funcionando como uma espécie de locadora online, onde é possível comprar e alugar produções, o site disponibiliza mais de 88 filmes resultado da formação de cineastas indígenas. Mantido por um projeto homônimo que busca a produção e difusão de seus filmes, a plataforma é uma das mais importantes, funcionando como arquivo audiovisual da realidade indígena contemporânea.

Rádio Yandê

A webrádio é, talvez, um dos projetos mais importantes de visibilidade indígena dentre todos. Feita por indígenas para a população de povos originários o veículo de comunicação traz programas informativos e educativos abordando um pouco da realidade indígena brasileira. A intenção é levar não apenas um conteúdo confiável para as aldeias, mas também desfazer antigos estereótipos e preconceitos ocasionados pela falta de informação especializada em veículos de comunicação não indígenas.

Paula Fernanda entrou por cotas indígenas em 2012, no curso de medicina veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) / Foto: Arquivo Pessoal

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A tribo Pankararu é um grupo de indígenas que habita nas proximidades do Rio São Francisco, nos limites entre os municípios de Tacaratu e Petrolândia, em Pernambuco, com o Norte da Serra do Ramalho, na Bahia. E de lá são as origens da médica veterinária Paula Fernanda, 23 anos. A jovem hoje é mestranda da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), localizada no município de Ilhéus, mas seu trajeto educacional começou muito antes. O início de sua história com a ciência começou quando Paula fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2012. Ao se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a garota viu que poderia optar pela candidatura por cotas para indígenas.

Paula não pensou duas vezes e marcou a opção de cotista. Foi selecionada e aprovada para o curso de medicina veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), localizada no Recife. “Daí em diante procurei a documentação exigida para comprovação (indígena)", relembra. Essa documentação consiste em um padrão solicitado pelas instituições públicas de ensino superior e deve conter comprovante de baixa renda - composto pelos três últimos contracheques do estudante ou responsáveis, carteira de trabalho e saldo bancário -, reconhecimento de indígena pela Fundação Nacional do Índio (Funai), documento disponibilizado pela Funai contendo assinaturas de três lideranças indígenas e autodeclaração. 

O peso da aprovação carrega muito mais do que o ingresso no ensino superior, como também a oportunidade de ser um orgulho para seus familiares. Paula tem pele branca, mas a ancestralidade indígena é trazida consigo. Reconhecida como índia pela Funai, a jovem passou a infância e adolescência na cidade para poder estudar. “Mas todo final de semana eu estava na aldeia. Meu pai e tios moravam na aldeia, mas mudaram-se para a cidade junto com minha avó para terem estudos. Os homens da família precisavam ir para a aldeia cuidar dos bichos e das plantas”, explica. 

De baixa renda e oriunda de escolas públicas, Paula enfrentou dificuldades de aprendizado. Os relatos são de um ensino médio defasado e com diversas falhas, com desestímulo por parte dos próprios docentes. “Grande parte do que sei do ensino médio foi porque estudei sozinha em casa ou porque a universidade me forçou a voltar atrás para aprender, senão nunca eu ia acompanhar a turma”, revela. 

A luta para alcançar a aprovação veio de muito esforço, seguido do reparo oferecido pela Lei de Cotas, que dá a oportunidade de igualar pessoas em situações de vida distintas. Paula já presenciou situações que mostram a dura realidade da educação dos povos indígenas. “Já presenciei parentes chegando atrasados nas aulas, porque estavam trabalhando na aldeia, alguns desistindo dos estudos, pois precisavam trabalhar para ajudar no sustento da família, e mesmo conseguindo terminar o ensino médio, a única opção é trabalhar, porque não há universidade próxima, não há capital para investir em estudos”, lamenta. 

Para Paula Fernanda, sem as cotas não seria possível estar no ensino superior. “A cota me permitiu ingressar na universidade assim que terminei o ensino médio em escola pública, ajudou muito, pois mesmo estudando em casa todos os dias, eu não tinha um suporte educacional bom, então minha nota não foi tão alta”. A jovem também foi aprovada em biomedicina, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Também inserido no contexto indígena das cotas está João Victor Pankararu, de 21 anos. Victor foi aprovado no curso de farmácia na Universidade Federal de Sergipe (UFS). A escolha da graduação veio por meio das necessidades da aldeia. “Tentei por muitos anos medicina, mas não consegui. Então pesquisei e vi que existia outro curso que tinha uma ementa próxima da realidade que vivo com meu povo, que é o processo de cura por meio de plantas medicinais, o processo de reza, os remédios de naturais. A partir disso foi que eu pude perceber que havia cotas indígenas nessa universidade e foi onde eu optei”, relata.

Para Victor, as cotas vieram como uma reparação histórica e uma forma de igualar as necessidades e os anseios de quem divide a vida na aldeia e na cidade. “Hoje vemos profissionais capacitados e qualificados para atuar dentro dos seus povos - e nas sociedades não indígenas também -. E são oportunidades como essas que mostram novos horizontes aos indígenas. Essa, sim, é a maior forma de reparação histórica”, ressalta.  

A caminhada do estudante rumo à universidade começou na aldeia. Victor sempre morou em um vilarejo indígena localizado a 500 quilômetros do Recife, capital pernambucana, e a 240 quilômetros de Aracaju, em Sergipe. A educação regular foi dividida entre parte do município de Aracaju e parte do território da aldeia. “Convivi com o racismo estrutural, muitas vezes mostravam os materiais e os livros de história, sempre víamos os índios do Norte e os índios de outros países, mas nunca os índios do Nordeste, muito menos os índios da região”, lamenta. 

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Reparação histórica e obrigatória

O especialista em cotas e professor da UFPE, Michel Zaidan, acredita que as cotas para a população indígena fazem parte de uma obrigatoriedade do governo com os índios. “Nós tratamos os indígenas de uma maneira muito ruim do ponto de vista civilizatório, quase como um processo de extermínio das etnias. Então eu acho que tem que haver mesmo um tratamento muito diferente, talvez igual aos quilombolas, porque são populações remanescentes que ou habitavam o Brasil ou que ajudaram a colonizar o Brasil e com as quais nós temos um imenso passivo histórico com as quais temos que, de alguma maneira pagar”, opina Zaidan.

Os dados mais recentes da Sinopse Estatística da Educação Superior, referentes ao ano de 2017 e disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC), mostram que do total de 8.286.663 matriculados em cursos de graduação presenciais e a distância no Brasil, 56.750 eram indígenas. Isso significa que 0,68% do total de discentes dentro do ensino superior é índio ou de origem indígena.

De acordo com um levantamento do site 'Quero Bolsa', quase 90 mil indígenas ingressaram no ensino superior desde 2010. Confira a seguir os dados detalhados:

Além das cotas

O especialista Michel Zaidan também defende uma educação diferenciada para os indígenas. “Seria muito interessantes não só cotas, mas uma educação voltada para a etnia indígena, com a língua, a gramática, a história, a questão das raízes étnicas porque simplesmente colocar os indígenas numa escola pública iguais às outras, isso é mais um capítulo do etnocídio, mais um capítulo do extermínio dessas etnias”, garante.

A questão apontada pelo professor é a existência da aculturação, em que as raízes de um povo são desvalorizadas e submersas nos moldes culturais capitalistas de uma determinada região. “Eles nunca vão se integrar totalmente porque são povos residuais e o risco da aculturação é a perda por completo dos seus antepassados, disso a educação jamais deveria fazer porque está perpetuando outro tipo de etnocídio contra os indígenas. Então, devem ser criadas mais do que cotas, devem ser criadas uma escola ou um ensino voltado para a etnia desses grupos”, esclarece o docente.

Reportagem faz parte do especial "Para que servem as cotas?", produzido pelo LeiaJá. O trabalho jornalístico explica a importância das cotas para a equidade e democratização dos espaços de educação brasileiros. Confira as demais reportagens:

1 - Cotas: sanção da lei marca o ensino superior

2 - A perspectiva social que explica a criação das cotas

3 - Cotas raciais valorizam diversidade no ensino superior

4 - Saiba como funciona as Comissões de Verificação de Cotas

5 - Inclusão de pessoas com deficiência marca Lei de Cotas

6 - Cotas rurais garantem ensino ao povo do campo

8 - Cotas para trans esbarram em preconceito no ensino básico

9 - ProUni: inclusão social no ensino superior particular

10 - O que é mito e o que é verdade sobre a Lei de Cotas?

11 - Como seria um mundo sem cotas? 

O Campo dos Índios, ou Campo do Guarani, em Águas Belas, Agreste de Pernambuco, vai virar um estádio. O gramado fica localizado na aldeia indígena Fulni-Ô.

De acordo com a Prefeitura de Águas Belas, haverá melhoria no piso do campo, que contará com nivelamento e sistema de drenagem. O campo vai ser cercado com 340 metros de alambrado e contará com telas de proteção. Para abrigar os torcedores, 100 metros de arquibancada com três lances de degraus serão construídos.

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O estádio será completamente murado e os vestiários passarão por reforma. O campo é utilizado pelo time do Guarani, que estava sem poder realizar jogos no local por conta de irregularidade no piso. A última partida aconteceu em fevereiro deste ano. Desde então, ocorrem apenas treinos, interrompidos por carros e motos que passam a todo instante dentro do campo.

Para o presidente do Guarani, Daniel de Amorim Torres, a reforma terá um impacto significativo na comunidade. "É um incentivo a todos os jovens e crianças da aldeia. É algo que vai ajudar porque eles vão querer jogar no estádio e vão se dedicar ao esporte, não a outro mundo", destaca.

Além da prática esportiva, a expectativa é que o estádio contribua com geração de renda, com realização de eventos. A obra foi iniciada na sexta-feira (5) e a previsão para conclusão é de 80 dias. O investimento é de R$ 280.714,73.

O Papa Francisco recebe nesta segunda-feira no Vaticano o líder indígena Raoni, um importante aliado na defesa da Amazônia, um dos grandes desafios do primeiro pontífice latino-americano.

O indígena brasileiro iniciou em 12 de maio uma excursão de três semanas pela Europa, onde foi recebido por chefes de Estado, marchou com jovens em favor do clima e agora se reúne com o Papa.

"Com este encontro, o Papa Francisco quer reiterar sua atenção pela população e pelo meio ambiente da região amazônica e seu compromisso com a proteção da Casa Comum", explicou no domingo o porta-voz do Papa, Alessandro Gisotti.

Considerado o pontífice mais sensível aos problemas ecológicos após a publicação em 2015 da encíclica "Laudato Si", o Papa argentino convocou para outubro deste ano um sínodo ou assembleia de bispos sobre a Amazônia, a fim de proteger os povos desta região que abrange nove países e é considerada o pulmão do planeta.

"A audiência com Raoni também faz parte da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Panamazônica, a ser realizada de 6 a 27 outubro, com o tema 'Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para Ecologia'", precisou Gisotti.

O líder Kayapó, que viaja acompanhado de outros três líderes indígenas do Xingu, tem sofrido a devastação de seu vasto território, ameaçado pelo desmatamento, pelo agronegócio e pela indústria madeireira.

Um fenômeno que o próprio Papa denunciou quando visitou Puerto Maldonado em janeiro de 2018, uma cidade rural no sudeste do Peru, cercada pela floresta amazônica.

A preocupação do Papa com as ameaças contra esse santuário da biodiversidade coincide com a de muitas populações amazônicas, determinadas a defender sua identidade e seus costumes.

É a primeira vez que a Igreja Católica apoia oficialmente atividades concretas em favor do cuidado ambiental, inclusive nas paróquias.

A viagem de Raoni acontece em meio a tensões com o presidente Jair Bolsonaro, que tem se mostrado favorável à exploração de áreas protegidas.

O cardeal brasileiro Cláudio Hummes, próximo ao Papa, relator geral do Sínodo a ser realizado de 6 a 27 de outubro, reconheceu recentemente em Roma que a defesa da Amazônia gera muitas "resistências e incompreensões".

"Os interesses econômicos e o paradigma tecnocrático são contrários a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se imporem com força, violando os direitos fundamentais das populações no território e as normas de sustentabilidade e proteção da Amazônia", explicou Hummes.

A igreja de Francisco também está empenhada em proteger "os esquecidos" da floresta amazônica, as populações mais pobres.

A Amazônia é habitada por 390 povos com uma identidade cultural e uma língua própria, e tem cerca de 120 aldeias livres em isolamento voluntário.

Este território, compartilhado por nove países e habitado por cerca de 34 milhões de pessoas, abriga 20% da água doce não congelada do mundo, 34% das florestas primárias e 30-50% da fauna e flora do planeta.

  A partir deste sábado (4), o Sesc Pernambuco dá início a 22ª edição da Mostra Sonora Brasil no estado. Com o mote “A Música dos Povos Originários do Brasil”, o evento tem programação gratuita e focaliza na comunidade indígena. As atividades acontecem na Região Metropolitana do Recife, no Agreste e Sertão de Pernambuco.

A mostra conta com oficinas, contação de histórias e exibição de filmes. Além de promover rodas de conversas com povos locais como os Kapinawã, Pankararu e Tuxá, e nacionais, como os Mbyá-Guarani (RS), Kariri-Xocó (AL) e Karitiana (RO).

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“Estamos com uma programação que se dividiu em etapas, conforme se mostraram ligações, diálogos, fazeres artísticos e experiências culturais, a partir e presente nos artistas locais e suas criações”, afirma Sônia Guimarães, curadora do projeto.

O Sonora Brasil segue até o dia 22 de maio. Durante o período, haverá programação no Centro Cultural Benfica, na Madalena, no Sesc Casa Amarela, no Sesc São Lourenço da Mata e no Cine Teatro Samuel Campelo, em Jaboatão dos Guararapes. A programação completa pode ser conferida no site do Sesc

Serviço

Mostra Sonora Brasil

4 a 22 de maio

*Com informações da assessoria 

Os artistas e músicos indígenas acabam de ganhar um canal para divulgar o seu trabalho. A Radio Yandê, rádio online de cultura indígena, lançou neste mês de abril o podcast 'Originárias', o primeiro do gênero voltado exclusivamente para os artistas indígenas. 

Com produção e apresentação da cofundadora da Yandê, Renata Machado, do povo Tupinambá, o podcast vai apresentar grupos, bandas e cantores indígenas através de entrevistas e da veiculação de sua música. A entrevistada do programa de estreia é a mineira Brisa Flow, a Mapuche.

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O podcast originárias está disponível em nove plataformas, incluindo o Spotify e no próprio site da Rádio Yandê e pode ser acessado gratuitamente.

O indígena Dyakalo Farato Matipu conquistou o primeiro lugar no vestibular de medicina realizado na aldeia Kuikuro, localizada no Alto do Xingu, no Mato Grosso. Ao total, o processo seletivo do vestibular indígena da Universidade Brasil ofereceu seis vagas para medicina, cinco para odontologia e duas para medicina veterinária.

Segundo informações do portal de notícias G1, Farato já é formado no curso de técnico de enfermagem, passou, no final de 2018, em primeiro lugar no curso de ciências matemáticas da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Ao LeiaJa.com, Foratu informou que não irá conceder mais entrevistas por conta dos comentários agressivos devido à repercussão da sua história.

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Ao G1, Farato contou que sofreu racismo por ser indígena, mas que nunca desistiu do seu sonho que era estudar. O indígena só começou a frequentar a escola aos dez anos. Até então, Farato vivia pescando e jogando futebol com outras crianças da aldeia. Quando teve a oportunidade de ler e escrever, precisou sair da escola pois sua família se mudou da aldeia. Então, Farato pegava jornais e revistas do lixo e tentava ler as palavras.

Aos 13 anos, ele descobriu a paixão pela área de saúde quando ajudava os monitores que verificavam as condições dos indígenas. “Eu me perguntava se poderia ser igual a eles. Sempre ia na casa desse monitor, até que ele me chamou para acompanhá-lo. Eu ficava responsável por gotejar os remédios, verificar a temperatura e eu gostava muito”, disse, em entrevista ao G1.

Em 1997, ele fez o processo seletivo para ser agente indígena de saúde, no posto Orlando Villas Bôas. Após a mudança para a cidade de Canarana, em 2013, ele decidiu pedir demissão do emprego para se dedicar aos estudos. Na época, ele ganhava R$ 600, que eram gastos em livros e lanternas, já que o local não tinha energia elétrica.

As dificuldades financeiras também afetaram as condições básicas de vida. “Meu café da manhã era água, meu almoço era água, minha janta era água. Meu sonho era cuidar do meu povo, mas ninguém me dava oportunidade”, disse.

Farato ainda contou que estava pronto para voltar para a aldeia quando foi aberto o processo seletivo para o curso de técnico em enfermagem. Aprovado, ele passou dois anos e 8 meses realizando seu sonho. A formatura foi em dezembro de 2018.

O jovem só soube que a aldeia teria vestibular de medicina um dia antes. “Pedi uma moto emprestada para um amigo e fui para a aldeia, que fica a 340 km de Canarana, cidade onde moro. A estrada é de terra e como havia chovido, tinha muita lama. Eu não conseguia me manter na moto. Caía e levantava o tempo todo. Tive que empurrar a moto por mais de 2h. Sai às 5h e cheguei na aldeia às 18h40. Assim que cheguei, mesmo sujo de lama, fiz minha inscrição para o vestibular, que estava programado para o dia seguinte, às 9h”, conta Farato, ao G1.

O indígena ainda salientou que o resultado do vestibular é fruto de uma promessa realizada há 17 anos. “Eu já tinha prometido há 17 anos, quando o contrato dos médicos que atendiam na nossa aldeia acabou. Lembro que chorei muito quando fiquei sozinho e prometi para mim mesmo que um dia eu faria medicina para ajudar meu povo”, disse.

A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) publicou a lista dos aprovados na segunda chamada do Vestibular Indígena 2019.

A matrícula deverá ser feita no site da Comvest até às 18h, de hoje (11). Caso haja vagas abertas, a Comvest divulgará a terceira chamada nesta quarta-feira (13), para matrículas pela internet até o próximo dia 18, até às 18h.

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O responsável pela temática indígena no Ministério Público Federal (MPF), Antonio Carlos Alpino Bigonha, afirmou, nesta quarta-feira (23), não haver previsão constitucional para reverter a demarcação de terras indígenas no Brasil. Antonio, que é subprocurador-geral da República, afirma que "o que existe no Brasil são terras demarcadas regularmente".

Desde que o Presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito para comandar o país, as discussões sobre demarcação de terras indígenas começaram a ganhar força. O eleito declarou várias vezes a possibilidade de rever e até reverter essas demarcações.

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Segundo publicado pelo Canal Rural, o subprocurador-geral diz que "É impossível um jurídico rever demarcação de terras no Brasil, a não ser que constatasse alguma nulidade, mas é um fato excepcionalíssimo", aponta.

Antonio Carlos destaca ainda que o processo de demarcação de terras indígenas é previsto na Constituição Federal e, por esse motivo, "não há possibilidade constitucional de paralisar as demarcações ou regredir nas que já foram".

Se não deixarem a reserva, serão todos mortos. Foi essa frase que os índios Guarani Mbya ouviram na madrugada desta sexta-feira (11), após serem atacados a tiros por dois homens encapuzados. O caso foi registrado na comunidade Ponta do Arado, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Ninguém se feriu, segundo relatos da própria comunidade ao site Conselho Indigenista Missionário. A ação foi um recado para que os índios deixem a área até o próximo domingo (13), "ou serão todos mortos", relata o cacique Timóteo Karai Mirim.

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Ainda conforme levantamento do site, o local onde habitam os indígenas é vítima da especulação imobiliária e eles já haviam recebido outras ameaças de seguranças da empresa que pretende construir um grande condomínio no local.

Ao Conselho Indigenista Missionário, o cacique Timóteo pediu: “Queremos que o Ministério Público e a Funai nos acompanhem, porque estamos longe da cidade, isolados. É difícil, queremos que nos protejam”.

Hoje (11) pela manhã, os indígenas registraram um boletim de ocorrência na delegacia de polícia do bairro Belém Novo e, pela tarde, denunciaram a situação ao Ministério Público Federal (MPF).

“Se eu assumir, índio não terá um centímetro de terra” e “a reserva que eu puder diminuir o tamanho dela, eu farei isso daí” são algumas das frases que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) já manifestou sobre a questão índigena. O ex-militar também já defendeu fazendeiros acusados de participar de um ataque contra índios no Mato Grosso do Sul que resultou em um índio morto e seis feridos. “Aos irmãos nossos de Mato Grosso do Sul, esses cinco fazendeiros que estão aí, o que eu puder fazer por vocês, eu faço; reconheço o trabalho de vocês pela propriedade privada, e a forma como justamente vocês de defendem”, disse o futuro presidente em vídeo publicado nas redes sociais. Após a vitória de Bolsonaro nas urnas, um posto de saúde e uma escola em terra Pankararu, no Sertão de Pernambuco, foram destruídos. Muitos acreditam que o ocorrido tenha sido uma comemoração de posseiros à vitória de Bolsonaro e a Polícia Federal investiga o ocorrido.

Segundo a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), existem 12 povos indígenas em Pernambuco e somente um povo tem sua terra totalmente regularizada. Atualmente, 10 lideranças dos índios no estado estão no programa estadual de proteção aos defensores dos direitos humanos.

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Diante desse cenário, o LeiaJá procurou conversar com algumas lideranças sobre as perspectivas do governo vindouro. Os índios demonstram temor com as medidas que podem ser tomadas pelo governo dos próximos anos e o crescimento das violências por um sentimento de impunidade por parte dos agressores. Além da questão territorial, há críticas à saída dos cubanos do Programa Mais Médicos e ao projeto da Escola Sem Partido. As informações sobre os povoados foram colhidas com os próprios índios, Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Fundação Nacional do Índio (Funai), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e Instituto Socioambiental (Isa).

A terra Pankararu foi demarcada em 1940 e homologada em 1987. Em 1993, a Justiça Federal determinou que Funai, Incra e União fizessem um levantamento e indenizassem os ocupantes não indígenas do território. Ao longo dos anos, houve conflitos fundiários entre indígenas e posseiros não-indígenas. Em 2017, em novo julgamento, foi determinado que os posseiros teriam 12 meses para deixar as terras de forma voluntária e gradativa a cada três meses, o que não ocorreu. O entrave com os posseiros continuou. Em 13 de setembro, foi executada parte da desintrusão pela Polícia Federal e Polícia Militar. A terra indígena Pankararu está localizada entre os municípios de Petrolândia, Itaparica e Tacaratu, no Sertão pernambucano.

Cacique Sarapó Pankararu, coordenador da Apoinme. “Eu vejo que o Bolsonaro é um risco à população brasileira, principalmente às populações mais pobres, aos nordestinos e indígenas, inclusive ele não esconde que não terá mais demarcação de terra indígena. Isso nos preocupa muito porque aqui em Pernambuco somos 12 povos indígenas e somente um povo tem sua terra totalmente regularizada. Essa fala de Bolsonaro incentiva a permanência e o retrocesso na política de regularização fundiária. Falta informações às pessoas, elas desconhecem a realidade indígena e acreditam que nós somos favorecidos pelo governo. Acham que a Funai nos sustenta, que queremos terra demais. E nós só queremos a terra para manter nossa sobrevivência, manter a nossa cultura, tradição e sustentabilidade”.

O povo Xukuru ocupa um conjunto de montanhas chamado Serra do Ororubá. Desde a invasão portuguesa, há registro de processos violentos de expropriação dos xukurus de suas terras. Várias aldeias foram extintas e registradas em nome de fazendeiros. No dia 20 de maio de 1998, foi assassinado Francisco de Assis Araújo, o cacique Xicão. Ele já recebia ameaças de mortes por sua luta em defesa da terra, além de ter sido a única testemunha do assassinato de um advogado da Funai. Acabou virando um símbolo da luta indígena. Em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em julgamento na Guatemala, condenou o Brasil a concluir a demarcação do território dos Xukuru.

Cacique Marcos Xukuru. "Respeitamos a decisão da maioria dos brasileiros. A democracia é isso.  Mas é importante ressaltar que a chegada dele na presidência nos traz grandes embates. O mesmo tem posicionamento contrário a tudo aquilo que nós, povos indígenas, conquistamos. Antes mesmo dele assumir a presidência, começaram ações que vêm nos prejudicar. Por exemplo, no tratamento à saúde, quando há o rompimento do convênio Cuba-Brasil no programa Mais Médicos. Grande parte desses médicos estão localizados nas áreas indígenas do país. Os xukuru tinham três médicos cubanos, que já estão se desligando. Estão deixando uma desassistência de 12 mil pessoas indígenas aqui no nosso território. Como o governo vai suprir essa necessidade?"

Os Kambiwá foram expropriados para a implementação de fazendas de gado nos sertões pernambucanos. Eles tiveram que se refugiar em brejos e no alto de serras e negar a identidade para fugir de ataques. O povo Kambiwá convive com o clima seco e chuvas irregulares, sobrando como alternativa a agricultura de subsistência. O artesanato também é fonte de renda. Não há condições favoráveis para as culturas permanentes devido ao solo arenoso e à quantidade de formigas. A escassez de água é outro problema enfrentado pelo grupo.

Cacique Zuca Kambiwá. “Há um interesse da parte dele e de seus aliados de tirar alguns direitos. Inclusive na questão da terra, a gente sabe que quem já tem, sofre a ameaça de poder reduzir. Quem ainda não tem, ele deixou bem claro que não vai demarcar mais. Em relação a educação, a gente vê a proposta dessa Escola Sem Partido que eles pretendem colocar em prática dentro do país. Vão querer implantar esse modelo de escola, modelo esse que a gente já sabe que não atende às nossas especificidades, que vai trabalhar de encontro à nossa realidade, que vai trabalhar pra desmontar tudo aquilo que a gente já tem construído, no sentido de ter escola com educação específica e diferenciada e que fortaleça a identidade e as nossas lutas pela garantia dos nossos direitos. Eu vejo que o movimento indígena, mais do que nunca, precisa estar organizado, unido e pensando estratégias que possa nos possibilitar fazer o enfrentamento com relação a essas demandas deles que com certeza vão vir com muita força para cima da gente”.

O povo Tuxá ocupava a Ilha da Viúva, no Rio São Francisco. Com a construção da barragem hidrelétrica de Itaparica, os índios foram retirados do local e divididos em três grupos. Uma parte ficou em Rodelas, outra em Iboritama, ambas na Bahia, e a terceira em Inajá, Pernambuco. Eles acusam a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) de ter entregue menos da metade da terra prometida em acordo. Os tuxá não vivem em conflito com posseiros ou fazendeiros, mas cobram a entrega do restante do território.

Pajé Aline Tuxá. “A gente já vinha se preparando de certa forma para esse atual governo, né? A gente via nos nossos rituais que ia acontecer. Conforme os encantados falam, iria chegar os tempos de trevas. Sentimos, através de sonhos, que algo ruim estava por vir. Percebemos que era algo para toda nação indígena. A vitória dele como presidente é um retrocesso muito grande para o país. A gente vê na fala dele que ele quer destruir tudo aquilo que a gente através de muito movimento e sofrimento conseguiu. A gente se entristece, mas vai resistir”.

O povo Kapinawá se considera descendente direto de índios que foram aldeados na Serra do Macaco no século XVIII. O grupo ficou mais conhecido no final dos anos 1970, após procurarem a Funai e a imprensa recifense para denunciar a pressão que sofriam em suas terras por conta de invasores, violências da Polícia Militar e conflito de terra com fazendeiro e grileiro ligados ao prefeito de Buíque. Na década de 1980, a Funai identificou e delimitou as terras Kapinawá em 14 mil hectares. Apesar de possuírem território homologado, a luta atual é pela ampliação da terra, adicionando uma área que os Kapinawá sempre consideraram deles.

Mocinha Kapinawá, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). “Nós estamos preocupados. Todos os povos indígenas do Brasil. Ele [Bolsonaro], com a forma de falar dos povos indígenas, fere nossos direitos principalmente às nossas terras, porque a terra para nós, povos indígenas, é vida. Se ele tira ela de nós, mata todos nós. É assim que nosso povo fala: índio sem terra é índio morto”.

O povo Pipipã está localizado na zona rural do município de Floresta, a 400 km da capital Recife. A população média aldeiada é de 1940 indígenas. Os estudos de delimitação da Terra Indígena Pipipã foram publicados no Diário Oficial da União de abril de 2017 e sofreu três processos de contestação. O território possui aproximadamente 52 mil hectares, sendo cortado pelo eixo leste da Transposição do Rio São Francisco. Os Pipipã praticam a cultura de subsistência, principalmente no período de chuva. Criam pequenos animais, como caprinos, ovinos e bovinos.

Cacique Valdemir Pipipã. "Ainda que tenha botado na sua equipe de transição uma indígena, na verdade, ela é uma pelega, não nos representa. Não é uma indígena de luta, de base.  Não temos território demarcado e com esse governo, nós temos o risco de ficar sem a demarcação da nossa terra. Mostra ser um governo intolerante. Não respeita o diferente. Meu medo é dos seguidores dele, que também têm esse pensamento mesquinho, violento, truculento, de também partir em agressão aos povos indígenas”.





Poderes municipais, eclesiásticos e estaduais desapropriaram os Truká de suas terras. Atualmente, o povo luta pela conclusão do processo de reconhecimento oficial do território, expulsão de posseiros não índigenas e de narcotraficantes. É que os Truká estão localizados no chamado "Polígono da Maconha". Desde os anos 1990, traficantes ameaçam índios e funcionários da Funai.

Pretinha Truká, vereadora de Cabrobó pelo Partido Verde e graduada em Ciências Humanas e Sociais. “Os povos indígenas não têm nenhuma esperança de que ele vá respeitar os direitos, inclusive os já conquistados. Ele dará poder aos fazendeiros e posseiros porque os interesses deles são comuns: de usurpar o nosso direito à terra e dela extrair suas riquezas para enriquecer e favorecer o capitalismo. Mas nós vamos resistir. Temos uma história de resistência de 500 anos. Nós esperamos que ele possa mudar toda sua concepção, toda essa postura de preconceito com negros, indígenas, mulheres, movimento MST, comunidade LGBT. A gente chegou em um patamar de reconhecimento de direito muito grande. Negação de direito a gente não vai compactuar”.

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