O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na sexta-feira (29), a taxa de desempregados no Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), encerrada em fevereiro, aponta que há 13,1 milhões de pessoas desocupadas no país, um crescimento de 7,3% em relação ao trimestre passado, relativo ao meses de setembro a novembro de 2018. Boa parte dessas pessoas tem entre 18 e 24 anos e encontra dificuldades para conseguir dar o primeiro passo da vida profissional. Nessa semana, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou um estudo que mostra esse grupo com menores chances de ser contratado e sendo mais propício à demissão.
Para a coautora do estudo, que faz parte do grupo de Conjuntura do Ipea, Maria Andréia Lameiras, a experiência profissional é o maior obstáculo para os jovens. Ela explica também o motivo para que esta mão de obra seja dispensável, em algumas ocasiões. “Ao se levar consideração que, em momentos como o atual, em que o desemprego é elevado e há um contingente grande de desempregados, a disponibilidade de mão de obra que combina experiência e instrução acaba sendo a primeira opção dos empregadores, pois o custo de treinamento deste trabalhador é menor. Em relação a se manterem empregados, o raciocínio é semelhante: o empregador prefere, na maioria das vezes, demitir os menos experientes, pois os danos à manutenção do processo produtivo são menores”, afirma a pesquisadora.
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Quem está sentindo na pele os efeitos desse cenário é Felipe José da Silva, de 23 anos. Morador da cidade de João Alfredo, interior de Pernambuco, ele busca inserção no mercado desde os 18 anos. Conseguiu fazer alguns trabalhos temporários em estabelecimentos da cidade, mas nada que lhe garantisse a formalidade. “Já fiz uns cursos básicos no Senai de pedreiro, modelagem e costura, mas mando meu currículo e nada de entrevista”. O jovem pensa em deixar o interior para tentar começar a vida profissional no Recife. Com o sonho de fazer fisioterapia, ele acredita que todos precisam de uma chance. “Eu nunca desisti. Eles precisam dar chance para pessoa como eu, sem experiência, mostrar seu talento. Por isso que tem vários jovens sem emprego, porque não abrem as portas do mercado de trabalho para a gente”, diz.
Para os especialistas, a crise econômica enfrentada pelo Brasil desde o início de 2014, justifica o receio das empresas na geração de vaga e também o fechamento de postos, reduzindo os custos, principalmente os relacionados ao treinamento de novos profissionais. No caminho da redução de custos, é muito mais prático manter um funcionário mais antigo, também por razões pessoais e econômicas.
“Na visão das empresas entre demitir um funcionário mais experiente em detrimento do mais jovem, há a questão de o mais velho ter custos e obrigações com seus familiares. Manter um funcionário mais experiente vai de encontro com um dos princípios da economia que para aumentar as riquezas das empresas, precisamos de produtividade e os mais experientes tendem a produzir mais”, explica o economista e professor da UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau, Lenilson Firmino.
Em um recorte da pesquisa divulgada pela Pnad, os desalentados, que são aquelas pessoas que simplesmente desistiram de procurar emprego, em meio às dificuldades encontradas, chegam a 4,9 milhões. Para o economista, ainda este ano pode haver um crescimento na oferta de emprego, mas o crescimento maior está sendo esperado para 2020. “Ainda são necessárias algumas mudanças de cultura tanto por parte do empregador e por parte do empregado. É necessário criar incentivos para as empresas contratarem os mais jovens. E os mais jovens para se manterem no mercado de trabalho necessitam da busca pelo conhecimento”, conclui Lenilson.
Incentivo à capacitação
Para que os jovens consigam de fato iniciar uma carreira é preciso qualificação, mas alguns deles sequer tem uma renda familiar que possa ser utilizada para investimento em formação. Muitos terminam o ensino médio e não buscam formação profissional por falta de recursos, incentivos ou oportunidades.
No entanto, diversos órgãos possuem programas de qualificação gratuita, ou com preços acessíveis, entre elas o Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Trabalho e Qualificação. “Nós temos o programa Projeto Novos Talentos, em que a gente faz a capacitação direcionada para os jovens, para inseri-los no mercado de trabalho. Vamos iniciar também um projeto junto com NEO, financiado pelo Bid, e outros parceiros, em conjunto com a Secretaria de Educação e o Senai, para que a gente possa inseri,r até 2020, 9 mil jovens no mercado”, explica o secretário executivo da pasta, Álvaro Jordão.
A Neo é uma iniciativa privada, financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e trabalha para melhorar a qualidade de vida na América Latina e no Caribe. No Brasil, a Neo atua em Pernambuco, numa parceria entre o Governo, empresas privadas e sociedade civil, buscando promover políticas públicas relacionadas ao emprego dos jovens, por meio do fortalecimento da qualidade dos serviços de educação voltada para o mercado de trabalho, orientação vocacional e colocação efetiva em 128 unidades parceiras de todo Estado.
De acordo com o secretário executivo de trabalho e qualificação de Pernambuco, um caminho para os jovens também é o empreendedorismo e que os interessados podem buscar suporte para abrir o próprio negócio nos balcões do Expresso Empreendedor. Ainda entre as ações promovidas para buscar a diminuição do desemprego no Estado, existe um movimento em prol da estimulação dos polos vocacionais de cada região. “No Pólo de Confecções do Agreste, estamos discutindo e incentivando a qualificação e também o apoio através do microcrédito. Estamos discutindo o Arranjo Produtivo Local de flores, em Gravatá e cidades vizinhas, como Barra de Guabiraba e Camucim de São Félix. Também vamos incentivar o APL do café em três cidades de Pernambuco: Triunfo, Taquaritinga do Norte e Garanhuns, onde a gente vai incentivar a produção do café e tentar criar um roteiro turístico, incentivando a produção naquela região”, explicou o Álvaro Jordão.
Entre os números divulgados pelo último Pnad Contínuo, está a taxa da população subutilizada, (os desempregados, ou que trabalham menos horas que o poderiam, quem não procurou emprego, mas está disponível para trabalhar ou que procurou, mas não estava disponível para vaga). Essa taxa chegou a 27,9 milhões de pessoas em fevereiro.
Já os trabalhadores com carteira assinada somam 33 milhões e os sem formalização caiu 4,8% na comparação com novembro (menos 561 mil pessoas) e subiu 3,4% (mais 367 mil pessoas) comparado a fevereiro, totalizando mais de 11 milhões de ocupações.