Em carros pintados de preto, com giroflex ligados como se fossem viaturas da polícia, o Batalhão da Patrulha sae pelas periferias do Distrito Federal com pastores evangélicos fardados, com coletes à prova de balas, portanto distintivos que imitam os de policiais e rádios para a comunicação entre eles. Nas 'batidas', quem é abordado pensa se tratar da polícia do Estado, até a pregação começar.
Fingindo ser policiais militares, os evangélicos tentam convencer os usuários de drogas a aceitarem a internação em comunidades terapêuticas cristãs, mesmo sem indicação médica ou ordem judicial. Inclusive, essas comunidades são custeadas pelo Estado. É o que revela repostagem do The Intercept, publicada nesta quarta (5).
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Se passar por funcionário público ou usar publicamente uniforme ou distintivo de função pública que não exerce é uma prática ilegal e pode gerar pena de até cinco anos de prisão.
Segundo o The Intercept, o Batalhão da Patrulha da Paz existe desde 2011 e mesmo com vários indícios de ilegalidades praticadas pelo grupo, só em julho deste ano que os pastores passaram a ser investigados pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados do Distrito Federal, que também denunciou o caso ao Ministério Público e à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
O deputado Fábio Felix (PSOL) afirma ao site que as ações se aproximam da "violência, coação e constrangimento. Eles simulam ser uma força do estado para abordar pessoas em situação de extrema vulnerabilidade. Isso, no mínimo, serve para confundir as pessoas que imaginam que eles são militares de verdade", explica o parlamentar.
A Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo Fábio, apurou que os agentes "da paz" realizaram ações de violência contra as pessoas em situação de rua, constrangendo-as e, em alguns casos, levando de forma forçada para a internação em comunidades terapêuticas para o tratamento de pessoas que usam drogas.
A Assembléia de Deus do Guará é a entidade religiosa por trás dessas ações, sendo o pastor Bezerra o comandante do grupo que conta com 103 membros, sendo 40 deles ativos nas "operações" que se revezam por escala de plantão, como faz os policiais. O pastor garante que tudo que envolve a operação é fruto de doações, tendo ele - inclusive - comprado dois carros para a "abordagem social" com dinheiro do próprio bolso depois de ter fechado sua pizzaria.
“Nós estamos em parceria com o estado, estamos dando apoio naquilo que está tendo uma precisão muito grande. Estamos tirando esses infratores da rua e fazendo o trabalho deles (policiais)”, confessa.