Tópicos | centrão

Após mudar o comando do Exército e enfrentar os ataques às sedes dos três Poderes em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem novos desafios na relação com militares. O primeiro deles é o preenchimento de cargos de estatais ligadas a projetos estratégicos da Defesa. Em seguida, está o destino da empresa Avibrás, responsável pelos projetos de mísseis das Forças Armadas. E, por fim, há as promessas do governo sobre a previdência militar às entidades de praças sem que generais fossem consultados.

A Marinha é a Força mais preocupada com as movimentações do Centrão. Elas passam pela nomeação das diretorias da Nuclep, das Indústrias Nucleares do Brasil e da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar). Petistas querem substituir o contra-almirante Carlos Henrique Seixas, visto como homem ligado ao ex-ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, desgastado pelo episódio das joias do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) - caso revelado pelo Estadão.

##RECOMENDA##

Seixas, no entanto, tem apoio do deputado Aureo Ribeiro (SD-RJ), que pressiona o governo pela manutenção do almirante ou pelo direito de indicar o novo presidente da estatal. Com sede em Itaguaí (RJ), a Nuclep é uma das empresas do Prosub, o programa de submarinos da Marinha. Ela está trabalhando agora no Bloco 40, seção onde ficará o reator do protótipo, em terra e escala real, do submarino de propulsão nuclear do Brasil (SN-BR) - o projeto deve consumir mais R$ 17,5 bilhões antes do término.

O programa de submarinos tem ainda a Itaguaí Construções Navais. A montagem do reator em terra está no Centro Experimental Aramar, em Iperó (SP), no Laboratório de Geração Nucleoelétrica (Labgene). Posteriormente, o sistema será replicado no submarino. Após o reator, os turbogeradores, o motor elétrico e outros sistemas serão testados ali. Validados, serão instalados a bordo. A previsão da Marinha é de que o submarino vá ao mar em 2034. O projeto já custou R$ 35 bilhões.

Antes de assumir o comando da Força Naval, o almirante Marcos Sampaio Olsen foi diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha. Olsen esteve com Lula em Itaguaí, no dia 22, com quem almoçou e teve uma conversa a sós. O receio da Marinha é de que as verbas do Prosub sejam capturadas por aliados do Centrão. Em 2017, no governo Michel Temer (MDB), três deputados do Rio fizeram uma ofensiva para dominar a Nuclep. Não conseguiram. A solução após a exoneração de Jaime Wallwitz Cardoso - que dirigiu a empresa de 2003 a 2017 - foi a nomeação do contra-almirante Seixas.

Além do submarino, a Nuclep é a única empresa do Brasil com certificação ASME-3, da Sociedade Americana de Engenharia Mecânica, para fabricação de componentes nucleares. Trata-se de selo que precisa ser renovado. Almirantes temem que a desorganização da empresa leve à perda do certificado.

A Nuclep está envolvida na construção de plataformas de petróleo e de equipamentos da Usina Angra 3, além de ter sido responsável pela troca dos geradores de vapor de Angra 1. O plano de privatização da Nuclep foi suspenso por Lula.

Mísseis

Enquanto o petista não bate o martelo sobre a direção das empresas envolvidas nos projetos da Marinha, o destino de outra empresa preocupa os militares. A Avibrás está em recuperação judicial. Teme-se que a venda a estrangeiros signifique perda do controle sobre tecnologias que não são encontradas na "prateleira de supermercados".

A Avibrás desenvolve o míssil tático de cruzeiro brasileiro: o AV-TM300. Faz ainda parte do projeto do Mansup, o míssil antinavio de superfície, o primeiro desse tipo produzido no Brasil sem depender de equipamentos estrangeiros. O Mansup está na fase de transformação de protótipo em produto capaz de ser produzido industrialmente. Já o AV-TM-300 deve ser operado pelo Exército em lançadores Astros, da Avibrás. O Exército já investiu mais de R$ 100 milhões no míssil, arma fundamental no conflito da Ucrânia.

Previdência

Lula recebeu sargentos no dia 2 de março para discutir a previdência dos militares. Entre outros, esteve no encontro o presidente da Associação dos Militares das Forças Armadas do Estado de São Paulo (AMFAESP), Vanderley Carlos Gonçalves. E isso sem a presença e sem consultar nenhum dos comandantes das Forças Armadas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Desde o começo de 2020, o governo federal já liberou mais de R$ 50 bilhões de reais por meio do orçamento secreto. Como o mecanismo é feito para blindar a identidade dos deputados e senadores que indicam as verbas, é impossível saber com certeza quem indicou o quê. Mas um levantamento parcial, feito a partir de informações prestadas pelo Congresso ao Supremo Tribunal Federal, mostra que um pequeno grupo de caciques do Centrão é o grande beneficiado pelo mecanismo: ao menos 17 congressistas definiram o destino de mais de R$ 100 milhões cada um.

Segundo dados enviados pelo Congresso ao STF em maio, o senador Márcio Bittar, do União Brasil do Acre, é o parlamentar que mais indicou verbas do orçamento secreto: cerca de R$ 467 milhões. Para efeito de comparação, o valor é equivalente a toda a verba de destinação livre (discricionária) empenhada pelo Ministério do Turismo em 2022 até o momento (R$ 470,5 milhões).

##RECOMENDA##

Bittar foi o relator do Orçamento de 2021 - na ocasião, ele enviou R$ 11 milhões em emendas a uma entidade de saúde chamada Santa Casa da Amazônia, acusada de fraude pelo Ministério Público Federal (MPF). A entidade é comandada por um amigo do senador.

Em meados de outubro, Bittar disse ao Estadão que até 2021 não existia obrigação legal de identificar os responsáveis pelas indicações - e que, por isso, não há mais informações sobre quem indicou o quê. "Até o segundo ano (do orçamento secreto), a lei não obrigava que a emenda dissesse quem pediu. Se foi deputado, prefeito, o governador, uma bancada… Então, não havia na lei essa obrigação. Isso é que gerou toda essa desconfiança, que vocês (imprensa) batizaram esta política de orçamento secreto, quando nada é secreto", disse ele.

Os ofícios enviados ao STF só permitem saber os "padrinhos" de cerca de 24% do total já empenhado no orçamento secreto. De acordo com os dados disponíveis, depois de Bittar, aparece no ranking a senadora Eliane Nogueira, do PP do Piauí. Ela é mãe do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) e assumiu o mandato quando o filho se tornou ministro de Jair Bolsonaro (PL), em julho de 2021. Como mostrou o Estadão, os Nogueiras privilegiaram cidades do interior do Piauí onde têm votos, deixando desassistidas comunidades pobres que são base eleitoral de políticos de oposição.

Na lista dos maiores beneficiados, o terceiro é o presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), com R$ 357 milhões. Em seguida vêm os senadores Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Eduardo Gomes (PL-TO) e Daniella Ribeiro (PSD-PB), seguidos do deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) e do senador Marcos Rogério (PL-RR). Integrante da "tropa de choque" do governo Bolsonaro na CPI da Covid, Marcos Rogério admitiu ter apadrinhado R$ 184,1 milhões.

A cientista política Beatriz Rey diz que é normal que os governos deem prioridade a aliados na hora de distribuir verbas de emenda orçamentária - mas que uma desproporção tão grande entre um parlamentar e outro não é saudável. "E há também um problema de alocação dos recursos. Alguns lugares que não tinham tanta necessidade receberam muito dinheiro. O dinheiro não está sendo enviado para onde precisa, e sim de acordo com motivos que a gente não sabe quais são. O critério não está associado a nenhuma política pública", diz Beatriz, que é doutora em ciência política pela Syracuse University, de Nova York.

As informações sobre os padrinhos das emendas foram enviadas atendendo a uma determinação da ministra Rosa Weber, como parte do processo em que partidos de oposição contestaram o mecanismo de distribuição de verbas. Ao todo, os parlamentares prestaram informações sobre o apadrinhamento de cerca de R$ 11 bilhões. Ou seja: é impossível saber os nomes dos responsáveis pela indicação de cerca de 75% da verba já liberada.

Além de não chegar nem perto do valor total já alocado por meio do esquema do orçamento secreto, as informações prestadas ao STF também não incluem todos os parlamentares, pois centenas de deputados e senadores não enviaram qualquer resposta - inclusive o deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA), investigado pela Polícia Federal por suspeita de desvio de dinheiro das emendas de relator apadrinhadas por ele.

Na tentativa de conter o protagonismo do Centrão no novo governo, dirigentes do MDB articulam blocos na Câmara e no Senado com partidos de centro-direita, como o União Brasil. O alvo principal é o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), candidato à reeleição, além das comissões da Casa, por onde passam projetos de interesse do governo, como a de Constituição e Justiça e a de Orçamento.

A negociação, no entanto, sofre resistências de uma ala do União Brasil, partido que pode integrar a base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. O deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União, disse ter sido procurado por integrantes da equipe de transição e que vai discutir o apoio a Lula com as bancadas nos próximos dias. Atualmente, a legenda faz parte da base de sustentação do governo de Jair Bolsonaro (PL).

##RECOMENDA##

Com o partido rachado, o presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), é um dos que almejam comandar a Câmara e tem procurado a ajuda de Lula desde o primeiro turno da eleição. A sigla abriga muitos aliados de Lira, como Elmar, o vice-presidente da legenda, Antonio Rueda, e o presidente da Comissão Mista de Orçamento, Celso Sabino (PA). "Ninguém está contra a reeleição de Arthur Lira. Ao contrário", disse Elmar ao Estadão.

O próprio Lula resiste a avalizar um movimento para enfrentar Lira, que é o principal líder do Centrão. Na prática, o petista avalia que, atualmente, é difícil derrotá-lo e não quer ter um inimigo no comando da Câmara, capaz de levar adiante um processo de impeachment para tirá-lo do poder, como ocorreu com a então presidente Dilma Rousseff.

Divisões

O União Brasil é fruto da fusão entre o DEM e o PSL. Passado mais de um ano após o casamento, as divergências permanecem e ficam cada vez mais evidentes entre Bivar, que também era presidente do PSL, e um grupo oriundo do DEM, como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto e o deputado Mendonça Filho (PE).

Outro ponto de discordância é em relação a ser ou não base de Lula. Interessado em comandar a Câmara, Bivar tem agido para que o partido faça parte da aliança do petista. Alguns integrantes do antigo DEM, no entanto, querem que a legenda seja "independente", avaliando caso a caso o alinhamento ou não com o governo.

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) chegou a conversar com ACM Neto, Bivar e deputados do União Brasil, mas há queixas de dirigentes do partido de que o PT não é claro sobre qual seria o tipo de participação no futuro governo. Integrantes da Executiva Nacional do União reclamam da repetição de ex-ministros do PT em cargos importantes na equipe de transição e dizem que, se o futuro governo quiser mesmo apoio, terá de ouvir indicações do partido para cargos em ministérios.

Além do PP, o núcleo duro de apoio a Lira está no Republicanos e no PL, que também fazem parte do Centrão. O presidente da Câmara recebeu, ainda, sinais de adesão do PSD.

Mesmo assim, aliados de Lula no MDB ainda mantêm a intenção de apresentar um nome para desafiar Lira. "Por que o MDB não pode ter um candidato (a presidente da Câmara)? Vamos fazer um bloco grande e o MDB pode ter candidato, sim", afirmou ao Estadão o deputado eleito Eunício Oliveira (CE). Além de Bivar, Eunício é um dos nomes desse grupo que discute a possibilidade de lançar candidatura ao comando da Câmara.

Costura

O MDB não dirige a Câmara desde 2016, quando Eduardo Cunha, hoje no PTB, era o presidente da Casa. Adversário de Lira, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) diz que os aliados de Lula precisam costurar uma "base ampla" e enfrentar o Centrão.

Há uma semana, no mesmo dia em que o presidente eleito se reuniu com Lira, Renan participou de um encontro com Bivar, ACM Neto e os líderes do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), e no Senado, Eduardo Braga (AM), para tratar da negociação sobre a aliança entre os dois partidos.

Renan disse que Lira "flertou com o fascismo" ao ter se aliado a Bolsonaro. "O objetivo é costurar uma base ampla que possibilite eleger o presidente da Câmara e do Senado, aprovar as reformas necessárias e garantir a governabilidade. Esse bloco inicialmente tentaria atrair algumas dissidências, mas não priorizaria a atração de quem flertou com o fascismo", afirmou o senador.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, teve, recentemente, uma reunião com o deputado Baleia Rossi, que comanda o MDB. Após o encontro, Baleia disse que o partido será "colaborativo" com o futuro governo Lula.

Em um sinal da aproximação do MDB com o futuro governo, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) já está na equipe de transição do petista na área de Desenvolvimento Social. Simone ficou em quarto lugar na disputa presidencial e apoiou Lula no segundo turno. A presença da senadora no Ministério é dada como certa, embora o cargo não esteja definido. Renan e o senador Jader Barbalho (MDB-PA) também estão na transição e integram o Conselho Político.

O PT ainda não decidiu como se comportará na disputa pela presidência da Câmara, mas Lula já disse que o partido não terá candidato próprio e, no último dia 9, repetiu isso ao próprio Lira. Eleito para o comando da Casa com a ajuda de Bolsonaro, em 2021, Lira não demorou para acenar ao petista.

Em 30 de outubro, minutos após a vitória de Lula, o deputado do PP fez um pronunciamento e o parabenizou, mostrando-se disposto a colaborar com o futuro governo. O deputado José Guimarães (PT-CE) foi escalado pelo presidente eleito para conversar com Lira. O deputado Neri Geller (PP-MT), que apoiou Lula desde o primeiro turno, também tem feito essa aproximação.

Eunício minimizou os sinais de Lula. "Você acha que o presidente vai ficar com o Arthur Lira ou vai ficar com um candidato da base dele? Tem que ter calma com isso", afirmou.

Renan, por sua vez, reclamou da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) negociada pelo futuro governo com o Centrão, que deve romper o teto de gastos para permitir a liberação de aproximadamente R$ 175 bilhões. O ex-presidente do Senado avalia que negociar a aprovação da PEC da Transição - como ficou conhecida a iniciativa que quer abrir espaço para pagar o novo Bolsa Família de R$ 600, além de outros benefícios sociais - é dar muito poder a Lira, que deseja manter o orçamento secreto. O esquema de compra de apoio político no Congresso foi revelado pelo Estadão.

Medida Provisória

Tanto Renan quanto Eunício já disseram que o melhor é não se comprometer com o Centrão e tentar resolver o assunto editando uma Medida Provisória. A iniciativa, de atribuição do presidente, tem validade imediata, mas é necessária a aprovação pelo Congresso, em até quatro meses, para virar permanente.

"O governo mudou. Democracia é assim: entram uns, saem outros. Não faz sentido negociar essa história do orçamento secreto até porque, pelo que eu conversei com o pessoal do grupo de orçamento do Senado, e até perguntei a algumas pessoas do TCU, não precisa de PEC para tapar esse buraco que o Bolsonaro deixou", afirmou Eunício.

No Senado, há uma aproximação do PT com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e a meta é impedir que um bolsonarista seja eleito para comandar o Congresso. "Vamos costurar uma base ampla que possibilite escolher os presidentes da Câmara e do Senado, aprovar as reformas necessárias e garantir a governabilidade", disse Renan. A disputa para a escolha da cúpula do Congresso está marcada para fevereiro de 2023.

"Já conversei com o Pacheco, eu e o senador Randolfe (Rodrigues), e vamos voltar a conversar. Essa questão (de definir nome para candidatura a presidente do Senado) é um detalhe menor. O fundamental é uma frente com conteúdo político, institucional e programático para colocar no lugar desse fisiologismo, que significa a relação do atual Congresso com o governo", insistiu Renan.

O senador admitiu não haver unanimidade no MDB para o apoio a Lula, mas avaliou que, de qualquer forma, o partido estará próximo do governo. "Todos os partidos terão dissidências", justificou ele.

Lideranças do Centrão se movimentaram nessa quinta-feira (10) no Congresso para incluir na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição uma flexibilização para liberar até o fim do ano R$ 7,9 bilhões de emendas do orçamento secreto que estão hoje bloqueadas.

Segundo apurou o Estadão, a articulação da proposta saiu da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro (PL), comandada por Ciro Nogueira. Ele é aliado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que busca a sua reeleição para o comando da Casa e conta com a liberação dessas emendas como moeda de troca. Revelado pelo Estadão, o orçamento secreto consiste em um esquema de transferência de verbas a parlamentares sem critérios de transparência em troca de apoio político.

##RECOMENDA##

A própria PEC liberaria as emendas de relator, que sustentam o orçamento secreto - não de forma direta, mas abrindo espaço no limite do teto de gastos (regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação) em 2022.

As emendas foram bloqueadas pelo governo para o cumprimento do teto de gastos. A expectativa dos aliados do presidente Bolsonaro era de que elas fossem liberadas até o fim do ano para servir de apoio às negociações para as mesas da próxima legislatura tanto do Senado quanto da Câmara.

A chamada PEC da Transição foi proposta pelo governo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para permitir aumento de gastos em 2023 e cumprir as promessas de campanha. No Congresso, porém, o tamanho da "licença" de gastos chegou a R$ 175 bilhões, com despesas que passam a ser permanentes não só em 2023, mas nos próximos anos.

Protagonista durante a gestão do governo Jair Bolsonaro (PL), o Centrão só foi citado 19 vezes em postagens em redes sociais pelo presidente e pelos seus três filhos políticos - Flávio, senador, Eduardo, deputado federal, e Carlos, vereador no Rio - nos últimos oito anos, segundo levantamento obtido no banco de dados Metamemo, que abrange publicações nas plataformas Facebook, Instagram e Twitter, entre outras.

As duas únicas menções de Bolsonaro foram registradas em junho de 2018, antes da campanha que o elegeu presidente - quando ele se apresentava como candidato antissistema e prometendo o fim do "toma lá, dá cá" no governo. "O Centrão, em nome do patriotismo e da ética, contra Jair Bolsonaro. Tudo não passa de desespero ante a possibilidade de serem apeados do poder", escreveu em um dos posts. Desde que assumiu o cargo, em 2019, foram nove citações, restritas apenas aos filhos.

##RECOMENDA##

Desde que o bloco - que já aderiu a seguidas gestões na Presidência, independentemente de posições ideológicas - entrou no atual governo, em 2020, a família mudou o discurso em público. A estratégia, por um lado, evita desgaste e, por outro, garante a governabilidade.

Para o cientista político Rafael Cortez, a ausência da discussão sobre o Centrão na campanha eleitoral envolve o fato de que tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto Bolsonaro entendem que é preciso do agrupamento político para governar. "A pauta também não foi explorada pelo PT porque isso é o que todo mundo faz. Os governos fazem coalizão partidária majoritária, o que inclui membros do Centrão", afirmou.

DISCURSO. Apesar de ter abandonado o termo em suas redes, Bolsonaro deu declarações públicas contraditórias sobre os aliados após atacá-los. Disse que era "do Centrão" ao justificar o convite para ao senador Ciro Nogueira (Progressistas) assumir a Casa Civil, em julho de 2021.

Os filhos também mudaram o discurso e passaram a argumentar que o relacionamento do pai com o bloco de partidos é diferente do de governos anteriores. "Sem mensalão nem petrolão. O que mudou na relação Congresso-presidente com a chegada de Bolsonaro? Próprios líderes do Centrão dão seu testemunho", publicou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), em abril deste ano. O conteúdo é acompanhado de um vídeo em que Roberto Jefferson (PTB) - aliado de Bolsonaro que recentemente foi preso em flagrante depois de atirar com um fuzil e jogar granadas em agentes da Polícia Federal - relata que o PT abria a possibilidade de desvios por corrupção em estatais, diferentemente do atual presidente.

A contradição se estende a nomes de aliados, como Ciro Nogueira. Em março de 2015, Eduardo Bolsonaro divulgou manchete do jornal O Globo sobre a abertura de um inquérito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar o parlamentar. "Ciro Nogueira é o senador presidente do PP, aquele que, mesmo antes da convenção de seu partido, gritava aos quatro cantos que Jair Bolsonaro não seria candidato a presidente em 2014, pois o PP apoiaria Dilma. Interpelado por Bolsonaro os motivos para tanto, a pergunta ficou sem resposta…", insinuou o deputado na ocasião. "Ciro Nogueira arranca a máscara do governador do Piauí (Wellington Dias), do PT. Tentou se apropriar da obra de Bolsonaro e se deu mal!", festejou o senador Flávio Bolsonaro (PL), em publicação de março deste ano.

O primeiro movimento em favor do Centrão ocorreu com a reforma da Previdência, ainda no primeiro semestre de 2019. Em junho de 2020, Fábio Faria (Progressistas), na época filiado ao PSD, foi o primeiro político do grupo a assumir um ministério - seguido de nomes como Gilson Machado (PL), João Roma (PL), Flávia Arruda (PL) e Marcos Montes (PSD), além de Nogueira.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, fez um convite aos partidos que não o apoiam, mas que não integram o Centrão, para dialogar com o governo estadual. O candidato disse que, caso eleito, tentará negociação com as demais siglas, mas deixará o Centrão na oposição.

"Vou fazer um convite para todos os partidos que não me apoiam, mas que não são do Centrão. Eleito governador, vou dizer para todos os partidos que não são do Centrão, que eles são bem-vindos a uma governança moderna, transparente, com base em metas, propostas, em diálogo com a sociedade, da forma mais transparente do mundo e negociada", disse o petista, em entrevista à Rádio Eldorado nesta quarta-feira (26). "Porque sei que o governo não manda no Estado, mas lidera o processo de pactuação daquilo que o Estado precisa com outras forças políticas."

##RECOMENDA##

Haddad, então, propõe deixar o Centrão na oposição. Ao citar o PTB, Republicanos e PL, o candidato pede para que tais siglas "contribuam na oposição, ao invés de ficar vindo pedir cargos para votar a favor do governo". "Trabalhem o seu programa e dialoguem com o governo na posição de oposicionistas."

Na visão do candidato, o Centrão, com o orçamento secreto, "quebrou o Brasil". "Acho que o Centrão já deu", declarou.

Passe livre nas eleições

Haddad defendeu na entrevista o passe livre de transporte público no Estado no dia do segundo turno das eleições. Segundo ele, isso permite à população "exercer aquele direito que é o direito mais fundamental de uma democracia, que é poder escolher seus representantes

O candidato do PT pontuou que tal medida também irá beneficiar o eleitor de baixa renda e aquele que mora longe do local de votação. Abrangendo o tema para suas propostas de governo, o candidato disse ser a favor de um "programa de mobilidade permanente".

Como proposta, Haddad reforçou a ideia de implementar um Bilhete Único Metropolitano que, em sua visão, vai beneficiar o interior e cidadãos que moram em outras cidades, mas que trabalham em outra. "Não vai ser restrito à sede da metrópole, capital e outras metrópoles, mas da região como um todo", explicou.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao ser questionado sobre como governar sem a "compra de apoio legislativo", afirmou há pouco que é necessário "lidar com o Congresso que foi eleito", representantes colocados lá pelo povo brasileiro, pontuou. Lula também declarou que tentará combater o orçamento secreto com um orçamento participativo, em uma tentativa de "diminuir o sequestro" que os partidos de centro fizeram da peça, como classificou.

"Se os deputados são bons ou não, o povo brasileiro tem responsabilidade por quem indicou, e é com quem tem mandato que o governo se relaciona", disse o petista, durante o debate promovido pela Band nesta noite. Em sua resposta, o petista esquivou-se de responder sobre o mensalão.

##RECOMENDA##

Sobre o orçamento secreto, ferramenta criada durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) para garantir apoio legislativo, o petista disse que com o mecanismo participativo vai tentar "confrontar essa história".

O petista também disse que o Orçamento de 2023 já está pronto, mas ele ainda não sabe, caso eleito, se irá mudá-lo ou não. "Mas eu vou pegar o Orçamento e vamos mandar para o povo dar opinião para saber o que ele quer, efetivamente, para ver se a gente consegue diminuir o poder de sequestro que o Centrão fez (do Orçamento)", finalizou.

O avanço do Centrão foi além das cadeiras da Câmara e do Senado. O bloco informal de partidos de centro-direita, que hoje dá sustentação ao governo de Jair Bolsonaro (PL), vai controlar, a partir do próximo ano, mais da metade de todas as cadeiras nas Assembleias Legislativas e da Câmara do Distrito Federal. Na comparação com a disputa de 2018, o primeiro turno das eleições deste ano registrou um aumento de 41% da bancada de deputados estaduais e distritais eleitos pelas legendas que dão as cartas na política nacional.

Dos 1.059 deputados das 26 Assembleias Legislativas e da Câmara do DF, 537 foram eleitos por legendas do Centrão. Levantamento do Estadão/Broadcast mostra que as siglas do bloco que mais cresceram foram as que formam o chamado "núcleo duro" em Brasília: o PL, do presidente Jair Bolsonaro, o PP, comandado pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira; e o Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo.

##RECOMENDA##

Impulsionado pelas verbas do orçamento secreto e tendo Bolsonaro como cabo eleitoral, o bloco foi bem até mesmo em Estados onde a esquerda predominou no primeiro turno da disputa presidencial - PL e PP fizeram os deputados estaduais mais votados no Ceará e em Pernambuco, por exemplo. Além dos três partidos, o levantamento do Estadão também considerou como "Centrão" o União Brasil, o PSD, o PSC, o PROS, o PTB, o Patriota e o Avante.

As maiores reduções de bancadas ocorreram no PSDB, Cidadania e Novo. Essas legendas de centro-direita contam hoje com um total de 107 deputados e vão ficar com 76 na próxima legislatura, uma queda de quase 30%. O PSDB teve redução expressiva, de 73 eleitos em 2018 para 55 este ano (24% a menos). A esquerda ficou praticamente igual, passando de 280 eleitos em 2018 para 281 este ano. Mas o PT, maior partido desse campo, e o PSOL cresceram em número de estaduais eleitos (38% e 29%, respectivamente). Por sua vez, PSB, PDT, PV e PCdoB perderam cadeiras nos Legislativos estaduais.

'LADO'

Em Pernambuco, um reduto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado estadual mais votado no último dia 2 é do Centrão. O pastor evangélico e vereador do Recife Júnior Tércio, de 36 anos, do PP, obteve 183,7 mil votos na sua primeira eleição para a Assembleia. Há 12 anos, ele atua na recuperação de dependentes químicos no Estado, sua maior marca.

Tércio se apresenta como um político conservador e de direita e apoia Bolsonaro. Ele teve como puxadora de votos a mulher, a deputada estadual Clarissa Tércio, eleita agora para a Câmara dos Deputados com 240 mil sufrágios.

Apesar de a maioria dos pernambucanos ter votado em Lula no primeiro turno da disputa, o deputado eleito avalia que há muitos conservadores no Estado. "Grande parte do povo pernambucano se identifica com as pautas conservadoras, com a preservação, o fortalecimento da família e seus valores. Eu defendo tudo isso", disse ele ao >b>Estadão/Broadcast. "Outro fator que também influenciou muito é o fato de eu ter posicionamento, ter um lado. Porque, na política, você precisa ter um lado. Eu represento a direita em Pernambuco."

Nos Estados e no Distrito Federal, o Centrão costuma ser conservador em temas da chamada "pauta de costumes". Nestas eleições, a capital federal elegeu para o Senado a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos).

Mas, ao menos para a Câmara Distrital, a onda conservadora que derrotou o antigo clã Arruda para o Senado elegeu apenas três deputados de pautas religiosas e de costumes. A maior bancada costuma ser a de sempre em Brasília: a dos servidores públicos, que terá oito cadeiras na Câmara Distrital, sendo quatro de partidos do Centrão. O bloco se mostrou diversificado em Brasília. Um deputado eleito pelo PL, por exemplo, defendeu motoristas de aplicativos e outro, pessoas com deficiência física.

BASE

Em uma eleição marcada pela continuidade e não pela renovação, o perfil médio do deputado eleito para a Assembleia Legislativa de São Paulo é semelhante ao de Edmir Chedid (União Brasil). Ele garantiu este ano mais um mandato em sequência - está na Casa desde 1995. Defende pautas de economia e infraestrutura e procura direcionar verbas para seu reduto: região Bragantina e Circuito das Águas. Integrante da base do governador Rodrigo Garcia (PSDB), ele manteria a posição num possível governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Se o resultado for favorável a Fernando Haddad (PT), porém, Chedid evitaria se colocar prontamente na oposição. "Iria analisar cada um dos projetos que vêm à Alesp, como faço atualmente."

Assim como acontece em Brasília, o Centrão nos Estados costuma ter como marca o apoio ao chefe do Executivo - independentemente da cor ideológica do governante de turno. Em Goiás, Bruno Peixoto (União Brasil) conseguiu um quarto mandato na Assembleia Legislativa. A função de líder do governo Ronaldo Caiado (União Brasil) garantiu que obtivesse o maior número de votos da história da Casa, 73.692. Nas vitórias anteriores, ele estava na oposição. O recorde nas urnas era do tucano Mané de Oliveira, eleito em 2014 com 62.655 votos.

Na Bahia, o PP pode voltar a apoiar o PT, caso o candidato do partido, Jerônimo Rodrigues, saia vencedor contra ACM Neto (União Brasil) no segundo turno. Na semana passada, o ex-governador baiano Rui Costa (PT) admitiu estar negociando com o PP, que é aliado ao governo Bolsonaro no âmbito federal.

'DOBRADINHA'

O cientista político Danilo Medeiros observou que há poucas pesquisas sobre quais fatores afetam a eleição dos deputados estaduais, mas a literatura existente sugere que a velha dobradinha entre candidatos a deputado estadual e federal ainda tem um peso grande.

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), ele afirmou que pesquisas tentam fazer uma inferência no nível da urna. Estudos mostram que "santinhos" conjuntos de um estadual e um federal têm mais impacto, porque na urna em que um determinado federal é bem votado, o estadual ligado a ele costuma ter boa votação.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Federal (PF) aponta caso de corrupção em estatal entregue por Jair Bolsonaro (PL) ao Centrão em troca de apoio político. De acordo com a PF, um gerente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco (Codevasf), localizada no Maranhão, teria recebido R$ 250 mil de empresas sob investigação de fraudes em licitações.

Ao jonal Folha de São Paulo, a Polícia Federal disse que o dirigente da estatal foi alvo da segunda fase da operação 'Odoacro', deflagrada no dia 29 de setembro. Essa etapa da investigação teve a "finalidade de desarticular o núcleo da organização criminosa composto por servidores públicos que auxiliavam nas fraudes licitatórias e no desvio de recursos públicos envolvendo verbas federais da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)".

##RECOMENDA##

Cobiçado pelo tamanho e poder acumulado no Congresso, o Centrão manteve a força política na Câmara nesta eleição e deve iniciar a próxima legislatura ocupando mais de 240 cadeiras na Casa, ou 47% dela. Com uma bancada de maioria pró-governo, a nova composição indica cenário vantajoso para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que a atuação deste bloco nos próximos quatro anos pode modular de acordo com o presidente que for eleito.

No governo Bolsonaro, essa frente ganhou ainda mais força ao se tornar não apenas o fiel da balança nas negociações com o Executivo, mas tomar para si o poder decisório sobre o Orçamento Público.

##RECOMENDA##

De 2019 para cá, o grupo passou a atuar de forma mais coesa e se estabilizou principalmente após o embarque de Bolsonaro no PL. A base do núcleo se formou ao redor de PL, Republicanos e PP. Outros partidos também votaram com o governo em diversas ocasiões, como Patriota, PTB, PSC e PSD - todos contabilizados no levantamento feito pelo Estadão e que atuam como um Centrão ampliado.

Em 2018, Bolsonaro havia sido eleito com uma base mais enxuta, de 112 deputados, com discurso contrário a este grupo de parlamentares.

Em um novo governo Bolsonaro, o Centrão pode se tornar mais autofágico e acumular poder a partir da relação que já estabeleceu com o presidente, apontam os especialistas. Além disso, a reeleição "zera as contas" dos conflitos com o União Brasil, legenda que abriga o PSL, de antigos aliados do presidente. Por isso, o diálogo e apoio dessas legendas será decisivo para a governabilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do atual presidente em um próximo mandato.

No caso de um novo governo petista, o grupo vira um desafio, mas não deve entrar na oposição de forma automática. A federação PT, PCdoB e PV - que atua junto no Congresso - conta com 19 cadeiras a menos que o PL, que agora tem 99. A dificuldade será maior para o petista se a fusão entre o União Brasil e o PP se confirmar, movimento já indicado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP). Isso deixaria o Centrão com 300 cadeiras.

A coligação petista, porém, soma 121 parlamentares eleitos por partidos de sua coligação. Lula tem repetido em sua campanha que quer dialogar com todos os partidos. O PSD, por exemplo, pode desembarcar da proximidade que criou com o bolsonarismo em um eventual governo do PT.

O PT também tenta ampliar alianças dentro do MDB e do próprio União Brasil, além de abrir diálogo com o PSDB e Cidadania. A ideia de Lula é fechar alianças para reverter a hostilidade contra seu nome. A aposta é que a governabilidade não ficaria comprometida se houver embarques no que chama de frente ampla.

DESAFIOS

A cientista política Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas Questiona se, na eventualidade de Lula ser eleito, o PL vai conseguir uma coesão perfeita entre toda a sua bancada de 100 parlamentares para formar uma oposição.

Já Bolsonaro, por não ter construído uma coalizão com bases partidárias sólidas no atual governo, também pode ter uma governabilidade custosa. "A bancada eleita do PT também foi muito relevante. Ele (Bolsonaro) vai precisar despender mais recursos para manter essa governabilidade, que é uma governabilidade cara, por meio do orçamento secreto", afirma Graziella.

De toda maneira, é de interesse do Centrão manter-se aliado com o governo. "O Centrão quer ser governo, quer estar próximo do recurso e levar o recurso para suas bases, sobretudo", completa.

"Sempre vão existir partidos políticos fisiológicos. Arthur Lira, como presidente da Câmara, teve atuação de aglutinar e aprovar todas as ideias, projetos e arranjos do presidente Bolsonaro em troca de regalias como o orçamento secreto vem nessa linha", diz a cientista política e professora da PUC-SP Vera Chaia.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (30), que está "muito otimista" de que a eleição presidencial irá se definir já neste domingo (2). O candidato do PT ao Planalto disse já ter "pelo menos oito países" da União Europeia esperando a segunda-feira para começar a tratar de seu eventual próximo governo. Ele disse esperar por "quatro anos muito difíceis" pela frente, tanto pela situação do País quanto pelo receio de dificuldades na transição de governo. E também já se mostrou disposto a dialogar com o Centrão.

"O Centrão não é um partido político, é um conjunto de interesses", declarou Lula, após fazer um pronunciamento de cerca de 30 minutos à imprensa em um hotel na zona sul do Rio. "Goste ou não goste, você precisa conversar com quem está lá no Congresso."

##RECOMENDA##

Lula afirmou que as costuras políticas mudaram em relação ao passado. "Hoje você conversa com um presidente de partido e ele não manda mais nada", avaliou. De acordo com o petista, a existência de várias legendas e as diferenças de pensamento dentro das próprias bancadas acaba obrigando que se tenha um diálogo maior com os parlamentares, ainda que "ninguém consegue governar forte sendo refém do Congresso".

Líder em todas as pesquisas de intenção de voto, Lula se disse "muito otimista" com a possibilidade de vitória já no primeiro turno. Afirmou, no entanto, que espera uma transição muito difícil caso venha a ser eleito para seu terceiro mandato.

"Do ponto de vista político, é mais difícil que 2002", comentou. Ele elogiou a postura de Fernando Henrique Cardoso e de sua equipe à época. "Não acho que a gente terá a mesma facilidade de transição com o Bolsonaro."

Sobre planos para o seu eventual novo governo, Lula falou sobre reforçar os órgãos de proteção ao meio ambiente. "A gente vai recuperar todas as áreas indígenas e proibir garimpo ilegal e qualquer plantação de milho ou trigo em terras protegidas", disse, citando a Amazônia.

Sem citar nomes, o candidato do PT declarou que há uma lista de oito países europeus prontos para tratar do País a partir da próxima semana. "Lá fora, é muita gente preocupada com o que pode acontecer com o Brasil", afirmou. Depois, citou a importância de se ter uma boa relação na América Latina. "Você não pode ter um presidente afrontando a Argentina todos os dias. A Argentina é um dos nossos maiores parceiros comerciais. É uma burrice (afrontar)"

Debate

Lula conversou com a imprensa pouco mais de cinco horas após o término do debate na TV Globo. E ele começou seu pronunciamento criticando o horário em que o mesmo ocorreu. "É uma coisa inexplicável você levar um debate ate 2h30 da manhã", sustentou. "Achar que o povão que a gente quer falar está assistindo é uma enganação."

Ainda nesta sexta-feira, o candidato do PT fará caminhadas com apoiadores em Salvador e Fortaleza. No sábado (1º), ele fará um ato semelhante em São Paulo.

O núcleo duro do Centrão estima que poderá eleger até metade da Câmara na próxima legislatura. PL, Progressistas e Republicanos lançaram 1.521 candidatos, quantidade três vezes maior do que o contingente que disputou a eleição quatro anos atrás pelas legendas. Hoje, esses partidos detêm 179 das 513 cadeiras da Casa.

O Centrão, que comanda a Câmara, com Arthur Lira (Progressistas-AL), e tem o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), como candidato, conta com recursos do orçamento secreto, que garantem obras de grande apelo eleitoral, para o seu plano de controlar o próximo Congresso. Os políticos do grupo se apresentam como de direita, defendem a família, a pauta de costumes e o liberalismo na economia. De acordo com pesquisas, o eleitorado tem se identificado mais com partidos de direita.

##RECOMENDA##

O número de candidatos representa 14,8% de todos os políticos que disputam uma cadeira de deputado federal por 32 partidos neste ano. Em 2018, PL, Progressistas e Republicanos apresentaram 574 nomes para concorrer à Câmara, 6,7% dos 8.588 candidatos. Elegeram 101. A esquerda lançou nesta eleição 1.260 candidatos pelo PT, PSB e Pros, siglas que apoiam a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial.

A cientista política Graziella Testa, professora da Fundação Getulio Vargas, disse que o Centrão deixou de ser apenas um bloco de partidos para se tornar um "estilo" de fazer política. "Refere-se mais a um comportamento. Em alguns partidos, isso é mais claro. É o parlamentar que tem mais preocupação em estar próximo ao recurso e em levar benesses para a região do que com ação programática ou ideológica. E sobre as benesses podemos pensar também num parlamentar bem intencionado, mas que atua de forma pouco republicana. A função do parlamentar não é essa, formalmente", afirmou.

Os políticos do Centrão não gostam do rótulo, que classificam como pejorativo. O bloco surgiu na Assembleia Constituinte sob a alcunha de "Centro Democrático", como reivindicam ser chamados ainda hoje. O propósito, na ocasião, era conter avanços da "ala progressista" do plenário.

Uma das principais característica de um político do Centrão é o fisiologismo. Costumam votar em troca de cargos no governo e recursos federais. E quando há pressão popular mudam de lado sem constrangimentos. No impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), vários políticos do grupo foram à sua residência garantir apoio. Saíram de lá e votaram pelo afastamento.

O Centrão continuará com papel estratégico. Com Lula, uma parte do PL pode rachar. PP e Republicanos continuariam fechados, mas com maioria numa coalizão com Lula. Caso Bolsonaro vença, eles continuarão tendo controle do Congresso e, em particular, do orçamento secreto."

Adriano Oliveira, rofessor da Universidade Federal de Pernambuco

Os maiores escândalos recentes no País envolveram políticos do Centrão. O Progressistas, do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi um dos principais alvos nas investigações do esquema do mensalão, durante o governo Lula em 2005, e também da Operação Lava Jato sobre corrupção naa Petrobras, na gestão de Dilma em 2014.

O presidente da Câmara vê injustiça nas críticas ao bloco. "O Centrão que eu faço parte não achincalha, não exige, não faz o toma lá, dá cá. O que fizemos nesses últimos dois anos foi retomar as prerrogativas do Executivo", disse em encontro com empresários, nesta sexta-feira, 19. Ao Estadão, ele já declarou que se não fosse o Centrão, as principais pautas econômicas do País não teriam avançado, como a independência do Banco Central e a reforma da Previdência, ambas aprovadas no governo Bolsonaro.

Lira consolidou um poder inédito sobre o Orçamento e a agenda do Legislativo. Passa por ele o rateio de R$ 16,5 bilhões do orçamento secreto. Ele criou até uma "sala vip" na Câmara para atender a pedidos de emendas com indicação de recursos para bases eleitorais, especialmente aos aliados do Palácio do Planalto.

Para analistas políticos, a explosão de candidaturas do Centrão está ligada à expectativa de usufruir do poder que esses partidos passaram a desfrutar sob Bolsonaro. Se o plano de eleger metade da Câmara vingar, terão influência para pressionar qualquer que seja o presidente eleito.

"O Centrão continuará com papel estratégico. Com Lula, terá negociação e uma parte do PL pode rachar. PP e Republicanos continuariam fechados, mas com maioria numa coalizão com Lula. Caso Bolsonaro vença a eleição, eles continuarão tendo controle do Congresso e em particular do orçamento secreto", avaliou Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco e estrategista da consultoria Cenário Inteligência.

O crescimento do Centrão na Câmara é dado como certo tanto por políticos como pelos analistas. A dúvida repousa sobre o papel e a coesão do grupo em caso de vitória de Lula. No diagnóstico do vice-líder do PP, deputado José Nelto (GO), todo governo vai precisar do Centrão, mas o poder do grupo depende de quem será eleito.

"Todo presidente precisa de maioria. Lula pode construir dividindo ou conquistando o grupo. Vai depender da situação política dele. Se Bolsonaro ganhar, (o Centrão) continua forte. Esse grupo precisa ter responsabilidade, não furar o teto de gastos, ter projeto de distribuição de renda e não deixar ninguém para trás no social", disse.

A relação de Bolsonaro com o Centrão foi convenientemente alterada ao longo dos últimos anos. Ele mesmo foi integrante do Progressistas por muito tempo. Na campanha de 2018, no entanto, prometeu acabar com a "velha política" e com a distribuição de cargos. Chegou a se referir ao grupo como "escória" e como "o que há de pior no Brasil". Um de seus auxiliares mais fiéis, general Augusto Heleno, comparou membros do grupo a ladrões ao deixar escapar um "se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão". Para garantir o apoio do Congresso e se livrar de mais de cem pedidos de processos de impeachment, Bolsonaro abraçou Lira e passou a se reconhecer como alguém oriundo desse bloco.

"Eu sou do Centrão. Eu fui do PP metade do meu tempo. Fui do PTB, fui do então PFL. No passado, integrei siglas que foram extintas, como PRB", admitiu Bolsonaro numa entrevista em julho do ano passado. Na quinta-feira, o presidente foi ironizado por um youtuber, que o chamou de "tchutchuca do Centrão". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O candidato à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou na manhã desta quarta-feira (17) que, se eleito, conversará com todos os políticos que estão dentro do Congresso Nacional. Instigado sobre diálogos com o chamado Centrão, que compõe a base do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente minimizou e afirmou que o Centrão não é uma legenda.

"O Centrão não é partido político. É um conjunto de forças políticas que se une de quando em quando a qualquer pessoa que tiver no governo na medida em que eles participem do governo. Eu, obviamente, vou conversar com todo mundo, porque não há como governar sem conversar com todo mundo", disse durante entrevista à Rádio Super, de Minas Gerais. Nesta quinta-feira (19), Lula realiza o seu primeiro comício de campanha na Praça da Estação, em Belo Horizonte.

##RECOMENDA##

O ex-presidente disse que, em um eventual governo, vai trabalhar para desenvolver um projeto com medidas concretas e, dessa forma, "conversar com essa gente para que não fique fazendo conversa casual". "É muito melhor você fazer um acordo programático com os partidos políticos e governar o País por quatro anos com uma certa tranquilidade", defendeu.

Questionado sobre manter diálogo com nomes como Roberto Jefferson, candidato à Presidência pelo PTB, e Valdemar Costa Neto, presidente do PL - ambos condenados no Mensalão -, Lula minimizou. "Eu posso conversar com PTB sem precisar conversar com Roberto Jefferson. Eu posso conversar com PL sem precisar conversar com o presidente do PL", disse.

"O que é importante é que você estabeleça uma política de conversação com as pessoas que têm mandato, com lideranças que estão no Congresso Nacional para poder restabelecer uma política de boa convivência no Brasil", continuou Lula.

"Essas pessoas cometerem erro, cometeram crime, foram julgadas mas essas pessoas estão livres e estão fazendo política. Não pode criminalizar porque a pessoa cometeu apenas crime, mas ele já foi julgado, já foi processado, já foi absolvido ou já cumpriu a sua pena. E a vida que segue. E aí você tem que conversar com as pessoas", reforçou o ex-presidente.

A escolha do general Walter Braga Netto como vice na chapa do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição contrariou o Centrão, grupo de partidos que apoia o governo e defendia o nome da deputada Tereza Cristina (Progressistas-MS) para a dobradinha. A avaliação de dirigentes do bloco e até da equipe de comunicação da campanha é a de que Braga Netto não atrai votos e reforça o perfil militar da chapa, quando o presidente precisaria de apoio no espectro de centro.

Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No diagnóstico do comando da campanha, ele precisa de um "fato novo" e de impacto. Nos últimos dias, porém, o governo tem enfrentado mais desgastes, após desdobramentos das investigações sobre o gabinete paralelo instalado no Ministério da Educação, com suspeitas de cobrança de propina por pastores para liberar verbas a prefeituras.

##RECOMENDA##

Dirigentes do Centrão queriam que o presidente convidasse Tereza sob o argumento de que ela ajudaria a conquistar o voto das mulheres - eleitorado considerado avesso a Bolsonaro - e a consolidar o apoio do agronegócio. O presidente, porém, acha que um militar representa uma espécie de "seguro" contra um possível impeachment. Ex-ministra da Agricultura, Tereza vai disputar o Senado por Mato Grosso do Sul.

"Pretendo anunciar nos próximos dias o general Braga Netto como vice", afirmou Bolsonaro, na noite de anteontem, em entrevista ao programa 4 por 4, veiculado no YouTube. Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, o general deixou o cargo em março e, logo depois, se filiou ao PL, mesmo partido de Bolsonaro. Mas o próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto, era um dos principais defensores de Tereza Cristina.

'Livre-arbítrio'

A forma escolhida por Bolsonaro para confirmar Braga Netto na chapa - durante uma entrevista - também foi considerada por aliados uma descortesia com o atual vice, Hamilton Mourão. "Não me sinto chateado. O presidente tem o livre-arbítrio de escolher quem ele acha mais apropriado. Braga Netto vai agregar aquilo que ele acha que necessita", disse o general, que se filiou ao Republicanos e deve concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Sul.

A deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB-SP) disse que Bolsonaro deveria "repensar" a decisão. "Precisamos caminhar para o centro", afirmou ela no Twitter. "Trocar os generais só endurece mais a imagem do presidente. Eu não sei o que Braga Netto pensa. Ele precisa se expor mais. Todo vice pode virar titular."

O comando do Centrão pressiona o presidente Jair Bolsonaro (PL) a substituir o general Walter Braga Netto pela deputada Tereza Cristina (Progressistas-MS) como vice de sua chapa. O movimento se intensificou nos últimos dias, diante da estagnação de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto, e tem potencial para provocar uma guinada na campanha pela reeleição. As articulações são para montar uma chapa Centrão "puro sangue", esvaziando o poder militar.

A possível troca foi tratada ontem durante almoço entre Tereza Cristina, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Ex-ministra da Agricultura, a deputada é pré-candidata ao Senado por Mato Grosso do Sul e lidera as pesquisas.

##RECOMENDA##

A mudança na vice vem sendo avaliada para atrair o voto de mulheres - uma vez que Bolsonaro enfrenta forte rejeição no eleitorado feminino - e, de quebra, ampliar a adesão de líderes do agronegócio à campanha. A equipe de Bolsonaro também quer que ela ajude mais na arrecadação de doações eleitorais de ruralistas.

O presidente disse, porém, que não bateu o martelo sobre a substituição. "Como é que eu vou trocar de esposa se nem casei ainda?", desconversou, ao definir tanto Tereza Cristina como Braga Netto, ex-ministro da Defesa, como "cotadíssimos" para a vaga.

RUMO

A ala política do governo, nas mãos do Centrão, admite que a mudança de vice é delicada por desagradar aos militares, mas necessária para dar um rumo à campanha. A avaliação é a de que o presidente necessita com urgência de um "fato político" para sair de sucessivas "pautas negativas" que pesam contra o governo.

Interlocutores de Bolsonaro observaram, ainda, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas, tentou reeditar a "Carta ao Povo Brasileiro" de 2002 - para acalmar o mercado financeiro -, ao anunciar uma dobradinha com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), seu antigo adversário. No diagnóstico desses aliados, a entrada de uma mulher na chapa de Bolsonaro não apenas faria contraponto com Lula como daria um "empurrão" para que ele ultrapassasse o petista. Braga Netto, ao contrário, não agregaria votos.

Em conversas reservadas, no entanto, Bolsonaro já disse que a escolha do ex-ministro da Defesa para compor a chapa funciona como uma espécie de "seguro contra o impeachment", caso seja eleito. Até agora, ele resiste a fazer a mudança.

Ganhou destaque nas redes sociais o debate em torno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite a deputados e senadores anularem decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo. Elaborada por integrantes do bloco de partidos do Centrão, com aval das bancadas evangélica e ruralista, a proposta visa dar ao Legislativo uma prerrogativa que o Congresso não possui hoje. A intenção é reverter julgamentos decididos sem unanimidade entre os 11 ministros que tenham derrubado leis aprovadas no Congresso ou contrariado bancadas.

Entre outras coisas, os parlamentares poderiam revisar decisões tomadas pelo Supremo em temas que como a definição sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas e a criminalização da homofobia. Ambos os casos são citados pelos políticos defensores da PEC como parte do que consideram um "ativismo judicial" do STF.

##RECOMENDA##

O principal argumento dos opositores da proposta é de que a PEC configura um movimento que afronta a independência entre os Poderes, cláusula pétrea da Constituição.

A ex-senadora Marina Silva (Rede) apontou a formulação da PEC como uma tentativa do Centrão de "concentrar ainda mais poder em suas mãos". Atualmente, o bloco é a base de apoio do governo Bolsonaro no Legislativo e já foi protagonista de outras polêmicas, como o caso do controle de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A deputada federal Joice Hasselmann (PSDB-SP) afirmou que a PEC coloca "interesses pessoais acima das instituições". Ela lembrou que, conforme a Constituição, os Poderes são independentes. A proposta, segundo a parlamentar, daria ao Congresso a atribuição de se sobrepor ao Judiciário.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) disse que a medida sugerida pelo Centrão é impossível por ferir cláusula pétrea da Constituição. Ele celebrou a Carta por ter se antecipado a eventuais crises institucionais.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) descreveu a PEC como uma tentativa de "dar proteção às falcatruas bolsonaristas".

Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é líder da oposição no Senado, chamou os integrantes do bloco de "chacais da democracia" e comparou a proposta, descrita por ele como "autoritária", à Constituição de 1937.

O movimento de renovação política Vem Pra Rua afirmou que a PEC é mais um episódio da "guerra" entre Poderes que coloca em risco a democracia brasileira.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), destacou que o princípio da separação dos Poderes, previsto na Constituição, impede o Congresso de anular decisões do Supremo. Assim como Orlando Silva, ele lembrou que se trata de cláusula pétrea.

O deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM) classificou a PEC como uma "provocação institucional despudorada". "É inconstitucional e não pode nem tramitar", afirmou.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) elaborada pelo Centrão para garantir ao Congresso poder revisor sobre as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) foi rechaçada por juristas que representam entidades importantes no meio. Para as entidades, a tentativa de alterar o texto constitucional viola a independência entres os Poderes, subverte as funções dos parlamentares e ameaça a democracia.

Como revelou o Estadão, que acessou o rascunho da PEC, a cúpula do Centrão se organizou para revogar qualquer decisão do Supremo que não tenha sido aprovada por unanimidade. A principal intenção do grupo é criar um instrumento legal para desfazer ordens da justiça que tenham derrubado leis aprovadas pelo Congresso. Levantamento mostra que de janeiro de 2019 até hoje, foram 5.865 acórdãos (registro de decisões) por unanimidade no plenário do STF. No mesmo período, 2.402 foram aprovados sem votação unânime.

##RECOMENDA##

Os parlamentares argumentam que a PEC permitirá "evitar injustiças e abusos de poder", em caso de revogação, e fortalecer a convicção de que o Supremo acertou, quando uma ordem for mantida após a votação no Congresso. "Não há que se falar em um 'Poder Supremo' para o judiciário, mas antes em dever Supremo de assegurar o respeito às leis elaboradas por aqueles que detém o poder que emana do povo, 'o poder de legislar em nome do povo'", destacou.

Ao Estadão, a juíza Renata Gil, presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) afirmou que a PEC viola a independência e a harmonia entre os Poderes ao permitir a senadores e deputados a possibilidade de cassar decisões do Supremo. "Ao Congresso Nacional compete redigir os marcos normativos nacionais. Qualquer atuação em sentido contrário, além de representar uma afronta ao equilíbrio republicano e ao sistema de freios e contrapesos, importará em agressão ao próprio regime democrático", disse.

Ele explicou que o texto atenta contra a independência judicial, que é uma prerrogativa essencial aos magistrados. "A separação entre Legislativo, Executivo e Judiciário é o principal fundamento do Estado Democrático de Direito no Brasil, inscrito já no artigo 2º da Constituição Federal. Trata-se de cláusula pétrea, que não pode ser alterada por meio de proposta de emenda constitucional", explicou.

Dentre as justificativas contidas no rascunho da PEC ao qual o Estadão teve acesso está, justamente, a suposta necessidade de se preservar a independência e harmonia entre os Poderes, sem permitir que algum destes se torne "soberano" em relação aos demais. Procurados pela reportagem, o Supremo e alguns de seus ministros não quiseram se manifestar. Dentro da Corte a avaliação é de que o momento exige aguardar e analisar como as conversas sobre o assunto se desenrolam no Congresso.

"Acreditamos que os parlamentares não irão aprovar a proposta. Embora o Congresso Nacional possua a prerrogativa de alterar dispositivos legais, é preciso que o faça preservando a Constituição Federal e o distanciamento saudável entre os Poderes. Caso aprovada, a PEC ofenderia diretamente à independência do Poder Judiciário, em especial da Suprema Corte, além de provocar grave desequilíbrio ao sistema de freios e contrapesos e, com isso, afetar o próprio sistema democrático", afirmou Nelson Alves, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).

Para o coordenador-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Luiz Casagrande Pereira, a proposta do Centrão é "esdrúxula" porque não está amparada em qualquer discussão "minimamente válida do direito constitucional". Ele explica que o texto da PEC "significa dizer que o Congresso, de forma inédita nas democracias ocidentais, exerceria um controle da função jurisdicional do Supremo apenas pela razão de haver um voto divergente".

"Essa PEC, na prática, sequestra o poder de decidir do Supremo pelo governo de plantão. Basta que o presidente da República nomeie um ministro ao tribunal e esse ministro faça com que todas as decisões sejam tomadas por maioria, fazendo com as ordens do Supremo sejam delegadas ao Congresso. É uma coisa sem precedentes", afirmou.

A indignação em relação ao texto não ficou restrita às entidades representativas dos juízes e do direito. Em nota ao Estadão, a diretoria da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) afirmou que "a PEC viola a cláusula pétrea da separação de poderes". "Criar no Poder Legislativo uma instância revisora das decisões não unânimes do STF representaria submeter questões de natureza jurídica cuja apreciação incumbe ao Poder Judiciário às maiorias ocasionais do Congresso Nacional, criando um mecanismo de pressão permanente sobre a Corte", defenderam os diretores na nota.

A distribuição de caminhões compactadores de lixo em redutos do Centrão não observou a realidade de dezenas de municípios nem critérios técnicos consolidados na gestão de resíduos sólidos. O governo Jair Bolsonaro superdimensionou a necessidade de pequenos municípios e privilegiou regiões de aliados, deixando outras cidades sem veículos.

Como revelou o Estadão, até agora, o governo já garantiu R$ 381 milhões a pedido de parlamentares para a compra dos caminhões de lixo. Desse total, R$ 109,3 milhões apresentaram indícios de superfaturamento. O investimento público em coleta de lixo virou foco de despesas milionárias fora do padrão e participação de empresas fantasmas. O Planalto não respondeu aos questionamentos do jornal.

##RECOMENDA##

O esquema dos caminhões aponta também a ausência de uma política pública para aprimorar a gestão de resíduos sólidos nas cidades que mais demandam. Além disso, mostra que o papel de identificar os gargalos foi transferido a um grupo de parlamentares mais próximo ao governo.

Volume

Segundo o Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas (Ibraop), moradores de cidades com até 200 mil pessoas produzem entre 0,45 e 0,70 kg de resíduos por dia. A estimativa para municípios maiores é de 0,8 a 1,2 kg de lixo por habitante a cada dia. A cidade de Juti (MS), com 6.861 habitantes, porém, informou à Funasa que a estimativa de lixo produzido diariamente por morador era de 1,1 kg.

Dimensionar corretamente a quantidade de lixo produzido por habitante é o principal parâmetro para saber a real necessidade dos municípios e evitar sobrepreço ou superfaturamento na compra de caminhões, segundo o Ibraop. Sem seguir esse critério, o governo pode abrir caminho para possíveis fraudes e desperdícios.

Goiás

Anhanguera (GO) ganhou, em fevereiro, um caminhão compactador de lixo novo. A coleta sempre foi feita com outros tipos de veículos, mas agora o município dispõe de um compactador. De acordo com os padrões nacionais de produção de lixo, os 1.170 moradores da cidade deveriam produzir até 800 kg de lixo por dia. A prefeitura faz outra conta. Diz que a produção chega a 5 toneladas somente nas sextas-feiras.

O veículo chegou antes de outras prioridades. Ainda não há lixeiras públicas, por exemplo. Os itens deverão ser comprados até o fim do ano. Enquanto isso, os moradores recorrem a latões. A coleta ocorre somente pela manhã, três vezes por semana. Na maior parte do tempo, o caminhão permanece estacionado.

Em Guapó (GO), há um aterro sanitário de uma empresa privada que recebe o lixo produzido por municípios do entorno. Apesar dos impactos, a cidade de 14.206 habitantes vive uma contradição. Ficou de fora da lista de contempladas por políticos, e o prefeito Colemar Cardoso (PSDB) usou R$ 500 mil dos cofres municipais para evitar o colapso do sistema de limpeza urbana. "Tenho dois alugados e dois nossos. Estão muito velhos e quebram bastante", disse o tucano.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante live feita ontem (24) em suas redes sociais. Ex-aliado do mandatário, ele disse ainda apoiar o Governo e ser um eleitor garantido em outubro, mas acredita que o presidente mudou e que está sendo chantageado por políticos do Centrão. Na mesma transmissão, Weintraub disse ainda que Bolsonaro “desistiu de lutar contra o sistema”. 

“Bolsonaro foi sequestrado e acho que está sendo chantageado por esse pessoal [Centrão] com ameaças de prisão, como eu fui. Como eu não fiquei com medo foram atrás dos meus filhos, podem ter ido atrás da família dele. E ele não está totalmente isento de culpa”, afirmou o ex-ministro da Educação. O político também falou que “quem anda com bandido ou vira bandido ou vira estraçalhado”, se referindo, ainda, ao presidente Jair Bolsonaro. 

##RECOMENDA##

Dizendo não ter opções, Abraham afirmou que votará em Bolsonaro nas próximas eleições. “Nunca disse que vou votar no Lula ou em outro candidato se não o presidente Bolsonaro, mas falo que agora é por falta de alternativa, ele virou um personagem”, disparou. Segundo o político, a família e ele estão “engasgados” e “apanhando calados” para não atrapalhar a reeleição do atual presidente. 

Contudo, as falas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na última sexta-feira (22) foram o “estopim” para que Weintraub respondesse, de acordo com o que disse na transmissão. O filho de Bolsonaro atacou os irmãos Arthur e Abraham Weintraub, após críticas sobre o indulto concedido pelo presidente ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).  

Em uma transmissão pelo Twitter, Arthur Weintraub disse que a medida criava um "precedente" que poderia ser usado, no futuro, para reverter a condenação de condenados por corrupção e lavagem de dinheiro. Em resposta, Eduardo postou nas redes sociais que Arthur e Abraham são "os irmãos que saíram do país para se livrar desta perseguição" e que Daniel Silveira é "inocente". 

"A gente tá [na] guerra e o cara me falando em precedente, como se nunca um corrupto tivesse recebido indulto e agora o instrumento tenha sido utilizado para seu fim: soltar um inocente", escreveu Eduardo. "E quem fala são os irmãos que saíram do país para se livrar desta perseguição. São uns filhos de uma p*ta! Desculpa, mas não há outra palavra". 

[@#video#@] 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou que ofereceu cargos ao Centrão em troca de apoio político no Congresso. "Para aprovar qualquer coisa, em especial uma PEC, passa por eles. Agora, nosso relacionamento não é como no passado. Alguns cargos foram dados para partidos de centro, sim, não vou negar isso aí. Mas temos filtros", disse o chefe do Executivo em entrevista ao Podcast Irmãos Dias.

Eleito com o discurso da antipolítica apesar de ter sido deputado federal por 28 anos, Bolsonaro agarrou-se de vez ao Centrão no ano passado, levando o senador Ciro Nogueira, cacique do grupo presidente do Progressistas, para o coração do governo. Hoje, Ciro, apontado como corrupto na última sexta-feira por relatório da Polícia Federal, é ministro-chefe da Casa Civil e controla o Orçamento.

##RECOMENDA##

Como revelou o Estadão, Ciro Nogueira ainda comanda o FNDE, que autorizou uma licitação de ônibus escolares com preços inflados mesmo após alertas de órgãos técnicos. O pregão só teve os valores reduzidos após a publicação das reportagens.

Na mesma entrevista, Bolsonaro reforçou sua defesa em vetar a lei Paulo Gustavo, que destinava recursos para o setor cultural. "Tem muitas pontes por fazer, não justifica ir dinheiro para a cultura. A cultura é importante? É. Repito, tem a lei Rouanet moralizada para captar recursos", afirmou.

O presidente também reforçou críticas ao ex-ministro Sergio Moro e afirmou que, "quando muito", o antigo aliado terá legenda para disputar a Câmara dos Deputados por São Paulo. O ex-Juiz da Lava Jato trocou o Podemos pelo União Brasil, mas seu novo partido resiste autorizá-lo a disputar a Presidência da República, como Moro gostaria.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando