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O Exército Brasileiro retomou neste ano a prática de não divulgar a Ordem do Dia com nota alusiva ao 31 de março, data marcada pelo golpe de 1964, que deu início à ditadura militar no Brasil. A definição havia sido dada pelo novo comandante da Força, o general Tomás Paiva, que teria alegado que "o normal" seria não existir esse documento.

Em nota enviada ao Estadão, o Exército confirmou que não houve "comemoração ou ato oficial relativo ao 31 de março de 1964". A prática tinha sido inicialmente interrompida durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), mas foi retomada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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Em 2019, o então presidente determinou ao Ministério da Defesa que fizesse as "comemorações devidas" do golpe de 1964. Por quatro anos, então, o Exército Brasileiro passou a divulgar uma Ordem do Dia na data em questão, relembrando a ditadura a partir de dois vieses: de que o evento só pode ser compreendidos a partir do contexto da época e de que a função das Forças Armadas foi assumir a responsabilidade de pacificar o País com apoio da sociedade, dos empresários e da imprensa.

CONFIRA O HISTÓRICO:

2019

Assinada pelo então Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e pelos três comandantes das Forças Armadas, a primeira Ordem do Dia do Exército no governo de Bolsonaro não classificava o regime militar como uma ditadura que se originou de um golpe de Estado. "As Forças Armadas participam da história da nossa gente, sempre alinhadas com as suas legítimas aspirações. O 31 de Março de 1964 foi um episódio simbólico dessa identificação", disse.

O texto ainda insere o golpe de 64 em um ambiente mundial de "avanço de ideologias totalitárias", cita o comunismo e o nazifascismo como "faces de uma mesma moeda" e defende que "contra esses radicalismos, o povo brasileiro teve que defender a democracia com seus cidadãos fardados". Em outro trecho, eles afirmam que o apoio popular incentivou a atitude dos militares. "As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo."

Por fim, a Ordem do Dia afirma que "as lições aprendidas com a história foram transformadas em ensinamentos para as novas gerações."

2020

No ano seguinte, a Ordem do Dia alusiva ao dia 31 emitida pelo Ministério da Defesa definiu o golpe militar como um "marco para a democracia" e justificou o episódio como uma reação do Brasil "às ameaças que se formavam àquela época". O documento repetiu a ideia já comentada em 2019 sobre avanço ideologias totalitárias. Em um outro trecho, como justificativa do golpe, a Ordem do Dia repete que ação dos militares teve apoio da sociedade brasileira, dos empresários e da imprensa.

A carta ainda diz que uma das consequências do golpe foi o Brasil ter alcançado a posição de oitava economia do mundo. "O Brasil evoluiu, tornou-se mais complexo, mais diversificado e com outros desafios. As instituições foram regeneradas e fortalecidas e assim estabeleceram limites apropriados à prática da democracia", disse.

O texto finaliza afirmando que o golpe de 1964 foi um marco para a democracia brasileira por ter evitado avanços de "sonhos utópicos com promessas de igualdades fáceis". "Os países que cederam às promessas de sonhos utópicos, ainda lutam para recuperar a liberdade, a prosperidade, as desigualdades e a civilidade que rege as nações livres."

2021

No terceiro ano do governo Bolsonaro, a Ordem do Dia alusiva ao dia 31 defendeu que a "liberdades democráticas que hoje desfrutamos" foram conquistadas a partir do momento em que as Forças Armadas assumiram "a responsabilidade de pacificar o País" por meio do golpe de 1964.

Assinado pelo general Braga Netto, o documento define a ditadura como uma "transição sólida, enriquecida com a maturidade do aprendizado coletivo" que fez o País multiplicar suas capacidades e mudar de estatura.

A diferença dos documentos anteriores foi que, em 2021, o Ministério da Defesa adicionou lideranças políticas e igrejas como apoiadores do golpe junto com a imprensa, o segmento empresarial e outros setores da sociedade.

2022

Em ano eleitoral, a Ordem do Dia alusiva ao dia 31 de março classificou a ditadura como um "marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época" e defendeu a necessidade de ter "isenção e honestidade de propósito" para analisar e compreender o episódio.

Em comparação com o texto do ano anterior, o novo documento ainda adiciona mais apoiadores do golpe: as famílias, políticos e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo", disse. Para se justificar, a Ordem diz que os fatos podem ser comprovados com a cobertura jornalística da época.

Em outro trecho, o ministério defende que os resultados desse episódio foram um "legado de paz, de liberdade e de democracia’ que devem ser reconhecido.

Apesar de homens, mulheres, crianças e idosos terem sido afetados e sofrido durante a repressão da ditadura militar pelo Ato Institucional Número 5 (AI-5), há 59 anos completos nesta sexta-feira, 31, as mulheres sofreram atrocidades e torturas especialmente piores do que as outras pessoas. Foi identificado, durante depoimentos para a Comissão Nacional da Verdade, que estupro, abusos físicos e sexuais eram práticas comuns de tortura feita pelas por militares do Exército e da polícia. O LeiaJá regata alguns desses relatos.

Dilma Rousseff

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A primeira mulher a ocupar a cadeira da Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), foi uma das mulheres que sofreu com a violência e repressão. Ela iniciou a militância na Organização Revolucionária Marxista, antes mesmo de fazer parte do armado Comando de Libertação Nacional. Dilma teve que abandonar a faculdade de economia em Minas Gerais. Depois, o grupo que integrava fez parte da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, mas ela nunca pegou em armas. A ex-presidenta foi capturada pela Operação Bandeirantes, em 1970. Foi presa e torturada em São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. 

Passou pelo pau-de-arara, pelas máquinas de eletrochoque, e foi violentada com palmatória e cassetetes, que desfiguraram a sua arcada dentária. Então, ela foi condenada a seis anos de prisão, teve os direitos políticos cassados e ficou encarcerada numa cela com 50 mulheres. Por ter participado do julgamento, Dilma conseguiu reduzir a sua pena e sair da prisão em 1972. 

Em relato na Comissão Nacional da Verdade, em 2014, Dilma contou sobre a prática comum dos socos, eletrochoques, e arrancar dentes das pessoas presas. Ela era constantemente ameaçada. “Eu vou esquecer a mão em você. Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém sabe que você está aqui. Você vai virar um presunto e ninguém vai saber”, relatou a ex-presidenta, sobre uma das ameaças recebidas.

 

Miriam Leitão

A jornalista Miriam Leitão foi presa em 1972, aos 19 anos, por envolvimento com o PCdoB no combate ao regime militar. Ela contou que, durante a prisão no quartel de Vila Velha, no Espírito Santo, sofreu torturas físicas enquanto estava grávida de um mês. Ela foi jogada em uma cela escura e completamente nua, tendo sido obrigada a interagir com uma jiboia viva. 

Levou chutes, socos, tapas e cacetadas por parte dos oficiais, além de ter sido ameaçada de estupro por diversas vezes e ter sido privada de receber comida nas celas do quartel. Ela revelou que os soldados lançavam cães em sua direção enquanto a chamavam de terrorista aos gritos, fazendo com que os animais ficassem irritados. 

 

Rose Nogueira

A militante Rose Nogueira, que atuava na Ação Libertadora Nacional (ALN), foi presa em um dia comum enquanto estava em seu apartamento com o marido Luiz Roberto e seu filho, Carlos. Ela foi abordada pelo delegado Fleury, que ameaçou não devolver o seu filho, mas, na abordagem, Rose o convenceu a deixar a criança com os avós. 

Levada ao Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), em São Paulo, foi torturada psicologicamente, violada, estuprada, e aprisionada em celas insalubres com mais de 50 mulheres, incluindo Dilma Rousseff. Por estar amamentando à época que foi presa e não podia tomar banho, Rose cheirava a leite azedo. 

Ela passou nove meses presa na Penitenciária de Tiradentes. Quando foi solta, ficou em condicional sendo vigiada até o julgamento, que aconteceu dois anos depois, em 1972, quando foi julgada e absolvida. 

 

Amélia Teles

Amelinha Teles foi torturada com a família: o marido, a irmã e os dois filhos pelo coronel Brilhante Ustra. Amelinha era constantemente agredida por ele na frente dos filhos. Na Comissão, ela relatou ter passado pelo pau-de-arara, ter levado choques no corpo inteiro, apanhado de palmatória e sofrido violência sexual. Os filhos eram levados para vê-la nua, cheia de sangue e urina.

Militante do PCdoB, Amélia Teles foi presa em 1972 pela Operação Bandeirantes e foi conduzida para o DOI-CODI, em São Paulo, quando caiu nas mãos de Brilhante Ustra, que a torturou pessoalmente junto ao marido Carlos Nicolau Danielli, que foi assassinado em frente à esposa e usado para tortura psicológica. 

Segundo relatos de Amélia, Brilhante Ustra decidiu que os filhos dela, que tinham menos de 5 anos na época, fossem levados à sala de tortura e obrigados a assistir as sessões em que a mãe era agredida e estuprada por ofíciais do Exército. Ela sobreviveu e tornou-se militante na causa das famílias de desaparecidos políticos. 

A família Teles ganhou, em primeira instância, uma ação contra o coronel Ustra pelos crimes que sofreram, fazendo com que ele fosse o primeiro a ser reconhecido como torturador, em 2008. 

 

Iracema de Carvalho Araújo

Com aproximadamente 11 anos, pois não sabe ao certo o ano em que nasceu, Iracema foi sequestrada junto à mãe pelo Destacamento de Operações de Informação (DOI) de Recife. Sua mãe, Lúcia, era professora ligada do PCdoB e às Ligas Camponesas, por isso tornou-se alvo da polícia. Naquele dia, os militares colocaram Iracema e Lúcia num carro, vendadas, e as agrediu fisicamente, prejudicando 80% da visão de Iracema com um soco no rosto. 

Ela chegou a passar por sessões de tortura física e obrigada a assistir a mãe sendo agredida, espancada e eletrocutada no DOI-CODI. Ela lembra que a tortura que sofreu foi intensa e marcou a sua memória. 

 

Araceli Cabrera Sánchez Crespo

Araceli Crespo é um dos casos mais escandalosos da ditadura. Aos oito anos de idade, Araceli foi sequestrada, drogada, torturada, morta e carbonizada. O seu corpo foi encontrado em uma mata em Vitória, capital do Espírito Santo, completamente desfigurado e já em estado de decomposição. 

Os principais suspeitos são Dante de Barros Michelini, o Dantinho; seu pai, Dante de Brito Michelini; e Paulo Helal, que pertenciam a famílias de influentes do Espírito Santo junto ao regime militar. Eles negaram conhecer a vítima durante o julgamento. No entanto, Dantinho e Helal conheciam a mãe de Araceli, a boliviana Lola Sánchez. Ela era um contato para traficar cocaína na rota Brasil-Bolívia, e teria usado a própria filha como “mula” para entregar drogas a membros da família Michelini. 

Em 1980, Santinho e Helal foram condenados a 18 anos de prisão e o pagamento de uma multa de 18 mil cruzeiros. No entanto, foram absolvidos por “falta de provas” pelo juiz Paulo Copolilo, 11 anos depois. Lola fugiu do país. 

O Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, é em homenagem a Araceli. A data é celebrada no dia 18 de maio, data da morte da menina. 

 

Dinalva Oliveira Teixeira

A baiana foi uma das vítimas fatais da ditadura militar. Militante do PCdoB, foi uma das guerrilheiras mais conhecidas na região do Araguaia. O relatório da Comissão Nacional da Verdade apontou que ela foi presa, torturada e assassinada em julho de 1974, perto de Xambioá, no Tocantins. Ela estava grávida em estado avançado.

O relatório também diz que Dinalva foi fuzilada olhando nos olhos do sargento Joaquim Artur Lopes de Souza, de codinome Ivan, e aconteceu o seguinte diálogo:

Dina: Vou morrer?

Ivan: Vai, agora você vai ter que ir

Dina: Eu quero morrer de frente

Ivan: Então vira pra cá. 

 

Aurora do Nascimento Furtado

Militante da ALN, Aurora foi assassinada aos 26 anos de idade. Ela foi presa em 1972 e encaminhada à “Invernada de Olaria”, delegacia civil no Rio de Janeiro. 

Aurora foi torturada no pau-de-arara, levou choques, foi espancada, afogada e sofreu queimaduras. Além disso, recebeu a “coroa de cristo”, uma tira de aço colocada em volta da cabeça que vai sendo apertada aos poucos para que o crânio seja esmagado e os olhos saiam para fora das órbitas. Ela foi alvejada por 29 tiros e teve o corpo jogado na rua. 

 

Zuzu Angel 

Uma das estilistas mais importantes do Brasil, Zuzu Angel virou referência não apenas no nicho. O filho dela, Stuart Angel, era militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e foi sequestrado por agentes da repressão em 1971. Seu corpo nunca foi encontrado e a sua mãe, Zuzu, passou a vida lutando para que pudesse encontrá-lo. 

No entanto, Zuzu morreu em 14 de abril de 1976, depois que o carro dela foi encurralado e capotado na saída do Túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro, e logo levantou-se a hipótese de ter sido uma emboscada para matá-la. 

Um ano antes ela teria deixado uma carta para Chico Buarque e outros amigos dizendo que “se algo vier a acontecer comigo, se eu aparecer morta, por acidente, assalto ou qualquer outro meio, terá sido obra dos mesmos assassinos do meu amado filho”. O relatório da Comissão da Verdade chegou à conclusão, em 2014, que a morte de Zuzu não foi um acidente e que houve envolvimento dos militares. O túnel onde ela morreu foi renomeado para Túnel Zuzu Angel. 

 

As Forças Armadas irão punir oficiais que comemorem o golpe militar de 1964 ou que participem de eventos que celebrem o regime ditatorial, nesta sexta-feira (31). As informações foram repassadas à Folha de S. Paulo por interlocutores do comandante do Exército, Tomás Paiva.

O golpe, que deu início à ditadura militar no Brasil, acaba de completar 59 anos. Apesar da decisão ter sido independente, ela segue a postura do Ministério da Defesa de não comemorar a data na ordem do dia em quartéis e batalhões ao redor do país. 

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De acordo com as fontes, a principal preocupação se volta a um evento no Rio de Janeiro, chamado “Movimento Democrático de 1964”, restrito a sócios e convidados do Clube Militar, que ocorrerá para "celebrar" o golpe. Conforme o jornal, generais afirmaram que a presença de oficiais na ativa pode ocorrer.  

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, irá permanecer publicamente em silêncio nesta sexta. O plano foi acertado em conversas informais com os comandantes do Exército, Tomás Paiva, da Marinha, Marcos Olsen, e da Aeronáutica, Marcelo Damasceno. O Ministério dos Direitos Humanos também ignora a data e não emitirá nenhuma nota de repúdio. 

LeiaJá também 

- - > ‘Vítimas relembram torturas de Ustra durante a ditadura

No dia em que os extremistas exaltam o aniversário de 59 anos do golpe militar de 1964, o senador Hamilton Mourão (Republicanos) elogiou o regime de excessão e afirmou que a ditadura "dinamizou a sociedade brasileira". 

General do Exército e ex-vice-presidente do governo Bolsonaro, Mourão defendeu o golpe e o chamou de "Revolução de 31 de março". "Somam-se ataques às Forças Armadas desfechados nesta semana em mais um aniversário da Revolução de 31 de março de 1964", escreveu para o Correio Braziliense. 

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O senador entende que o período de ditadura, no qual civis foram torturados pelo Estado, foi positivo e desconsiderou totalmente o viés de golpe. "É praticamente impossível não encontrar os traços e antecedentes das reformas empreendidas naquele período, que dinamizaram sua sociedade e, principalmente, fortaleceram a democracia brasileira, que, pela primeira vez, teve um regime inaugurado sem golpe de Estado." 

O próprio Exército orientou oficiais a não comemorarem a data este ano, sob ameaça de punição. Mourão enfatizou que os militares "conhecem muito bem seu papel nessa democracia" e criticou o atual governo por se omitir com a segurança pública. "Quem parece não conhecer são os que, achando-se donos da história, querem dirigir o país com os olhos no retrovisor." 

Pela primeira vez em quatro anos, o Ministério da Defesa do Brasil não comemora o aniversário do golpe militar de 1964. Geralmente, a celebração é adicionada à ordem do dia e lida em batalhões e quartéis ao redor do país. Neste dia 31 de março, que marca 59 anos desde o golpe, três vítimas do ex-coronel e torturador Carlos Brilhante Ustra revelaram os episódios de violência dos quais fizeram parte durante a ditadura. Os depoimentos foram publicados na coluna do jornalista Chico Alves, do UOL. 

Ustra, que morreu em 2015, foi um coronel do Exército Brasileiro, ex-chefe do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) em São Paulo. O órgão tinha como atividade principal a repressão a grupos de oposição à ditadura militar, especialmente “agitadores” de esquerda, artistas e professores. 

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Em 2008, Ustra tornou-se o primeiro militar condenado pela Justiça Brasileira pela prática de tortura durante a ditadura militar. Ele chegou a ser homenageado, mais de uma vez, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando era deputado federal e também após o ex-mandatário assumir o Planalto. 

Um dos relatos publicados pela coluna menciona o dia em que duas crianças, de quatro e cinco anos, assistiram a mãe ser torturada após ter sido estuprada. A mulher é a jornalista Amelinha Teles, hoje com 78 anos. Ela foi sequestrada por agentes da ditadura e levada para o DOI-Codi de São Paulo, junto com o marido, Cézar, e com Carlos Nicolau Danielli. Nicolau foi um dos dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCB), do qual Amélia também fez parte. 

O episódio se passou em dezembro de 1972, ano em que Carlos Nicolau morreu. As vítimas ficaram reféns do DOI de 28 de dezembro a 14 de fevereiro, por 48 dias. 

Os depoimentos 

Amelinha relatou que, primeiro, os agentes do DOI-Codi tiraram o seu marido e o colega de partido do carro no qual foram sequestrados. A ação aconteceu na Vila Clementina, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo. Os homens foram agredidos com chutes e socos no estômago e no rosto. A sessão de tortura foi comandada por Ustra, que à época era major e utilizava os codinomes "Doutor Silva" e "Doutor Tibiriçá". 

A jornalista diz que chegou a questionar Ustra diretamente sobre as agressões, mas levou um tapa na cara e foi levada à sala de tortura junto aos outros dois.  

"Passei por diversos tipos de torturas. Tinha choque elétrico na vagina, no seio, na boca, no ouvido. Tinha palmatória, com uma madeira toda furada, de maneira que a pele vai soltando. Fui espancada por vários homens, além dele. Naquela primeira noite mesmo eu fui estuprada por um deles que era Lourival Gaeta, que tinha o codinome Mangabeira", compartilhou Amelinha.  

Segundo a vítima, cerca de oito homens participavam das sessões, enquanto obedeciam a ordens de Ustra. "Um dia, Ustra foi buscar em casa meus dois filhos, Edson, de 4 anos, e Janaína, de 5 anos, e minha irmã, Criméia, grávida de oito meses. Ele espancou a minha irmã. E teve a desfaçatez de levar meus filhos para dentro de uma sala onde eu estava sendo torturada, nua, vomitada, evacuada", completou Teles. 

Outras vítimas 

O segundo relato publicado neste dia 31 pertence a Gilberto Natalini, médico e ex-vereador paulistano. Hoje ele tem 71 anos, mas à época, tinha apenas 20 anos e estava no início da faculdade de medicina. Foi preso pelo DOI também em 1972. Apesar de ser opositor, não era vinculado à luta armada e nem a organizações políticas. 

"Alguns dias depois, já comecei a apanhar. Eles batiam, davam socos, tapas, choque no corpo, na orelha. Eu sem roupa. Em uma noite, o próprio Ustra me colocou descalço em cima de duas latas grandes. Jogou água no chão e ligou os fios elétricos, para dar choques. Além disso, me batia com um cipó", disse o ex-político. 

Os episódios de Natalini são similares aos do ex-guerrilheiro Emilio Ivo Urich, hoje com 75 anos. Ele fez parte da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e tinha 23 anos quando foi preso, antes dos demais, em 20 de novembro de 1970.  

"Na chegada já mandaram que eu tirasse a roupa, lá no pátio. Subi imediatamente para uma sala de tortura. Fui recebido pelo Ustra e passei a ser torturado. Me perguntavam onde estava Yoshitane Fujimori", disse. 

Fujimori foi um guerrilheiro que coordenava ações de inteligência à época. "Nos primeiros 15 dias fui muito torturado pelo Ustra e pelas outras equipes apenas com o objetivo de dizer onde estava o Fujimori. Não queriam saber se eu tinha assaltado banco, se eu tinha sequestrado alguém. Eu ficava à disposição dos torturadores 24 horas. Tomei a decisão de não entregar Fujimori, porque se entregasse ele teria que entregar outros. Há 15 anos processei o Estado brasileiro por danos morais, por conta das torturas, e ganhei. Nesse processo está comprovado que eu era torturado até três vezes por dia", finalizou Ivo. 

Deputados bolsonaristas prestaram homenagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a sessão deliberativa na Câmara dos Deputados, na manhã desta quinta-feira (30). Jair voltou ao Brasil durante a manhã depois de ter passado quase três meses nos Estados Unidos.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, falou que seu retorno ao país “é motivo de festa e alegria”. 

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“Vamos lembrar a história”, disse o deputado cabo Gilberto Silva (PL-PB), explicando que as forças armadas promoveram “um ato histórico” ao deflagrar o golpe militar em 1964. Durante os 21 anos da ditadura, direitos foram retirados da população, entre outras limitações causadas pelos militares no poder.

Outro membro do Partido Liberal que falou na plenária foi o deputado Giovani Cherini (PL-RS), que se referiu a Bolsonaro como “o melhor presidente dos últimos 35 anos”.

A deputada Julia Zanatta (PL-SC) declarou em sua fala que hoje é “dia de alegria”, além de ter comentado que o presidente Lula “está muito sumido”. A parlamentar publicou uma foto sua nas redes sociais vestindo uma camisa estampada com uma mão com quatro dedos e marcas de tiros, fazendo alusão à morte do presidente da República.

O Exército Brasileiro decidiu que não irá divulgar a Ordem do Dia com nota alusiva ao 31 de março de 1964 este ano. A decisão foi divulgada pela colunista Carla Araújo, do UOL. Comandante da Força, o general Tomás Paiva, teria alegado que "o normal" seria não existir, referindo-se à mensagem tradicionalmente lida nos últimos quatro anos de governo Bolsonaro. A informação foi confirmada pelo Estadão. Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército destacou que "em 2023, não haverá Ordem do Dia sobre o assunto."

A mudança também é simbólica para a nova gestão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou substituindo a liderança do Exército após os atos golpistas deflagrados no dia 8 de janeiro. O general Júlio César Arruda foi exonerado após somente 23 dias no comando do Exército.

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Conforme mostrou o Estadão, a demissão do comandante se deu por um acúmulo de fatores, como a recusa em permitir prisões no acampamento em frente ao Quartel General do Exército após os ataques na Praça dos Três Poderes, e sua resistência em exonerar o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, conhecido como "coronel Cid".

Histórico

A mensagem divulgada pelo Exército com alusão ao golpe militar passou a ser divulgada em 2019, no primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro. Segundo o porta-voz da Presidência da República na época, o general Otávio Santana do Rêgo Barros, o então presidente não considerava o 31 de março de 1964 como um golpe militar. Bolsonaro teria determinado ao Ministério da Defesa que fizesse as "comemorações devidas" para a data.

As alegações de Bolsonaro eram compatíveis com seu discurso sobre a ditadura militar (1964-1985). O ex-presidente ficou conhecido após proferir falas defendendo o período e homenageando o general Carlos Alberto Brilhante Ustra, uma das figuras mais opressoras do regime, chefe de operações do DOI-CODI de São Paulo, entre 1970 a 1974.

Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff, torturada pelo regime ditatorial, orientou aos comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha a suspensão de qualquer atividade para lembrar a data nas unidades militares. Nos primeiros mandatos do governo Lula, os comunicados chegaram a ser divulgados, mas foram interrompidos em 2007.

O pastor e deputado federal Marco Feliciano (PL) reforçou a fala ambígua feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta sexta-feira (9), a apoiadores no Palácio da Alvorada em uma das suas poucas aparições após a derrota nas urnas.

Na fala, o presidente diz aos seus apoiadores que pedem golpe militar em frente aos quartéis generais em todo o Brasil que “quem decide meu futuro são vocês”, e que “nada está perdido”.

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O deputado federal destacou, nas suas redes sociais, algumas falas do presidente que dão a entender o apoio às manifestações antidemocráticas: “Nasa está perdido. Ponto final, somente com a morte”, “Dou a minha vida, vida física, pela pátria”, “As forças armadas, tenham certeza, estão unidas”, “Faremos a coisa certa, diferentemente de outras pessoas. Nós venceremos”. O pastor também fez questão de deixar registrada a data da fala do presidente.

Cerca de uma hora depois das publicações com as falas de Bolsonaro, Feliciano publicou “Tic Tac Tic Tac Tic Tac”, dando a entender que uma bomba está prestes a explodir, que “a hora vai chegar”. 

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O filho mais velho de Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL), assumiu que a intenção de um golpe militar no Brasil "nunca foi cogitada". A declaração foi feita ao Metrópoles depois do presidente chorar diante de generais em um evento das Forças Armadas.

O senador indicou que o atual governo não vai dificultar a posse de Lula (PT) como presidente eleito. Porém, já em janeiro, vai insistir na aprovação do voto impresso dentro do Congresso.

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"Nunca houve essa conversa de golpe. Um golpe nunca foi cogitado. Muitos em Brasília estavam tentando se proteger de algo que nunca existiu. Bolsonaro sempre agiu e agirá dentro da Constituição Federal", afirmou o senador.

Desde a derrota nas urnas, eleitores de Jair Bolsonaro se concentram em rodovias e em frente de quartéis em protesto contra o resultado das eleições. A ala mais radical de manifestantes incita as Forças Armadas a assumir o Executivo e pede o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), bem como a destituição de seus ministros. 

Após o resultado das eleições de 2022 e a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) para o presidente eleito Lula (PT), além de fechar as BR’s em frente aos quartéis generais em todo o Brasil, os bolsonaristas vêm se fazendo do Art. 142 da Constituição Federal de 1988 e a Lei Complementar 97/1999 para pedir um golpe militar na tentativa de impedir a posse de Lula, que acontecerá no dia 1º de janeiro, em Brasília. 

O Art. 142 da Constituição fala sobre as Forças Armadas, que são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. E a Lei Complementar 97/1999 dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. 

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Inclusive até representantes da Justiça estão se fazendo da Constituição erroneamente para pedir o golpe militar, como o ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), Ivan Sartori, que chegou a falar que “a solução seria realmente a aplicação do artigo 142 combinado com a lei complementar 97/1999, que permite a ação imediata para que cessem essas arbitrariedades que estamos presenciando". 

Ao LeiaJá, uma advogada especialista em direito constitucional explicou que o artigo da Constituição fala sobre o papel que as Forças Armadas tem na democracia constitucional, que é a função da defesa da pátria, dos poderes e dos cidadãos nacionais, e que não dá margem para outra interpretação, como a de um possível golpe militar. “Os termos impostos pela Constituição de 88 não cabe nenhum tipo de interpretação que deturpe os valores constitucionais segmentados desde o preâmbulo estabelecido no texto constitucional. Não cabe, em hipótese nenhuma, a possibilidade de ter as Forças como se fosse um poder moderador, como alguns costumam dizer. Não há essa possibilidade”, salientou. 

O advogado membro julgador do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PE, Raphael Costa, corroborou que o uso do artigo 142 da Constituição pelos bolsonaristas está sendo um uso deturpado. “Os manifestantes querem garantir que o presidente ou as Forças Armadas, por iniciativa própria, venham garantir o poder constitucional do Executivo dizendo que houve fraude eleitoral, que não houve e já foi comprovado. Eles querem que as Forças ajam como poder moderador, mas não existe poder moderador no Brasil. Não cabe nos moldes da República”. 

“Nada mais é do que uma interpretação falsa”, destacou. “Uma falácia. O grupo de pessoas que está fazendo o uso da Constituição para que aconteça uma intervenção militar, na verdade está pedindo um golpe de estado”, explicou Raphael. 

Segundo a especialista, qualquer tipo de interpretação do artigo 142 que aborda a ruptura dos valores constitucionais de 88 “são atos institucionais golpistas”, assim como sobre a Lei Complementar 97/1999. “A Lei dispõe sobre normas gerais para a organização e preparo das Forças Armadas, que vem regulamentar o artigo 142 da Constituição. A interpretação dessa norma, que está inferior à Constituição, tem que estar de acordo com os valores constitucionais. Não há numa democracia constitucional qualquer possibilidade de se valer de um dos artigos da Constituição, muito menos para o artigo 142 para estabelecer uma ruptura democrática. Não posso falar nem em manifestações antidemocráticas, são manifestações golpistas ”, afirmou. 

“Chamar as Forças Armadas para dar um golpe, significa dizer que estou deturpando, fulminando de morte o Estado Democrático Brasileiro, e isso não é compatível com esse constitucionalismo de transformação social, da esperança e cidadã. Como bem estabeleceu Ulysses Guimarães ao promulgar a Constituição: ‘traidor da Constituição é traidor da pátria’”, relembrou. 

A especialista em direito constitucional fez questão de destacar que “não há nada, nenhum artigo, nada que sustente qualquer tipo de falas golpistas no Brasil”. Ela também chamou atenção para a importância da diferenciação da liberdade de expressão e práticas de crime. “Na Constituição não há nenhum direito de garantia individual e absoluta. Todos eles podem ser relativizados nos termos estabelecidos pela Constituição, inclusive a própria liberdade de expressão. Eu não posso confundir liberdade de expressão com práticas de crime e violação a direito de terceiros, e aos que congreguem a subversão das estruturas democráticas no Brasil. Atos que atentem contra a democracia são punidos, não tem relação com liberdade de expressão, e eu só a tenho no momento em que eu não violo o direito de outras pessoas e nem no momento que eu utilize a minha suposta liberdade para subverter a ordem democrática estabelecida no meu país”, afirmou. 

Assim como os demais especialistas, o advogado especialista em direito internacional, Rafael Andrew, também reafirmou que, a priori, o objetivo dos manifestantes bolsonaristas é burlar o verdadeiro sentido do artigo. “O artigo 142 fala sobre a manutenção da lei da ordem, do estado democrático de direito, e mais ainda da autonomia da União, porque a União é quem deve reger no nível máximo todos os entes federados em razão do Pacto Federativo. Nesse sentido, o artigo 142 jamais vai ser uma espécie de intervenção militar. Quando se fala em Forças Armadas, a gente tem que lembrar que elas são um grupo à serviço da República, abaixo hierarquicamente e respondendo diretamente e tão somente à Presidência da República e para a manutenção do Estado”, explicou. 

Democracia é o regime político onde o poder emana do povo. É assim que vem definida a palavra no dicionário e na sua etimologia. Mas não apenas isso, viver em um país democrático também é ter garantido os direitos expressos na Constituição, entre eles, a dignidade humana, o acesso aos serviços públicos, a garantia da liberdade e o respeito à todas as esferas de poder.

Estes e outros princípios estão expressos na Declaração Universal da Democracia, assinada durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em 1997 e lembrada anualmente no Dia Internacional da Democracia, celebrado por 128 países, inclusive o Brasil, nesta quinta-feira (15).

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A declaração construída pela ONU pontua que “a democracia é um direito básico de cidadania, a ser exercido em condições de liberdade, igualdade, transparência e responsabilidade, com o devido respeito à pluralidade de pontos de vista, no interesse da comunidade”. Mas será que o Brasil vive uma democracia plena ou recheada de interesses políticos individuais que se sobrepõem ao povo?

Para o historiador Barthô Júnior, ter hoje uma Constituição que garanta o direito da população e viver em um país com um regime democrático "é uma questão de orgulho e, de certa forma, alívio”, principalmente levando em consideração que tal sistema já foi anulado por governos que cercearam os rumos da democracia, como os dos 21 anos da ditadura militar brasileira.

"Viver hoje em uma democracia, cujo país já passou por tantos desmandos e pela ausência de um estado de direito, de um poder soberano do povo, é um fator que nos leva a comemorar e ao mesmo tempo pensar se ela é totalmente plena”, ponderou Barthô.

“Uma democracia plena deve estar presente não só na Constituição, e a mesma, como o próprio nome diz 'Constituição Cidadã', deve vigorar também na sociedade, não apenas nas urnas, onde na atual legislação o voto passa a ser universal para toda pessoa adulta, conquista importante obviamente, mas essa mesma legislação declara a seguridade de uma soberania, do bem estar da nação e da dignidade humana, ou seja, a Constituição por meio dos poderes Executivo e Judiciário devem garantir que tais direitos democráticos sejam de fato executados para aqueles ao qual a democracia foi criada, para o povo”, emendou.

Indagado sobre como avaliava o contexto atual da democracia brasileira, tendo em vista o que o país já viveu historicamente, o professor ressaltou o significado do direito do voto e a sua evolução, como também a eficácia do regime político na vida da sociedade.

"O voto é para nós o rosto da democracia, mas não devemos parar por aí. A democracia é muito mais ampla do que apenas o direito ao voto, e sim direito a serviços básicos que estão presentes na Constituição, que deveria dar a todo o povo brasileiro a dignidade humana, sem distinções. Isso não quer dizer que não estamos em um país democrático, constitucionalmente somos, mas o que falta é essa democracia estar refletida em todos os setores da sociedade que competem ao Estado. A democracia deve estar presente na educação, na saúde, na mesa e no prato do brasileiro, essa seria uma democracia plena, em direitos e deveres, entre o povo e o estado, não menos que isso”, frisou.

Um sistema ameaçado constantemente

O Brasil teve a democracia restituída em 1985, com o fim da ditadura militar que durou 21 anos, e em 1988 viu a sua Constituição Federal vigente ser elaborada. Após as duas décadas mais duras vividas pelo país, o regime democrático vem sendo cada vez mais amadurecido, contudo, nos últimos anos passou a ser alvo de ameaças constantes por grupos que começaram a pregar a volta dos militares ao poder e, mais especificamente de 2019 para cá, essa minoria viu suas falas endossadas em diversos discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL), dos seus filhos e aliados.

Uma prova disso é a queda do Brasil nos índices internacionais que medem a eficácia da democracia nos países. Em fevereiro deste ano, o tradicional índice aferido pela revista The Economist – existente desde 2006 e que apura dados de 165 países – mostrou que a pontuação brasileira caiu de 6,92, em 2020, para 6,82, em 2021. Em 2006, o país registrava 7,3 pontos.

Segundo o cientista político Antônio Henrique Lucena, desde a crise financeira de 2008 se instalou nos Estados Unidos e na Europa uma onda de políticos antissistema e com discursos populistas, e o Brasil está passando por esta onda. Se ela continuará ou não veremos com o resultado das eleições em outubro.

“Bolsonaro terminou sendo um ‘acidente’ em virtude do lavajatismo e do antipetismo que a gente tinha e foi galvanizado por Sérgio Moro, o descontentamento com os anos petistas e a crise econômica. Isso tudo ajudou na ascensão dele que se vendia como um outsider, mas na verdade, ele era um insider heterodoxo que se vendia como um outsider do sistema, não conformado com as regras estabelecidas. E aí, a gente viu como tudo se colocou”, disse o especialista.

De acordo com os dados do Índice da Democracia do The Economist deste ano, o melhor aspecto democrático apontado no Brasil é o processo eleitoral, que atinge uma pontuação do que classificam como sendo de uma “democracia perfeita”. Ainda assim, os brasileiros viram Jair Bolsonaro – eleito em 2018 e outras oito vezes – questionar a lisura do sistema eleitoral e levantar suspeitas, antecipadamente e sem provas, de uma suposta fraude no pleito deste ano.  

Além disso, também vem sendo possível registrar eleitores bolsonaristas indo às ruas, como no último 7 de setembro, pedir uma espécie de intervenção militar, mas com o presidente Jair Bolsonaro no poder. O que é inconstitucional.

“[Pedidos de intervenção militar] mostram um descontentamento com a democracia, assim como também irresponsabilidade, porque é inconstitucional. Intervenção militar com Bolsonaro no poder não existe. É uma minoria que não respeita o processo democrático. Não são pessoas que estão preocupadas com a democracia, mas em manter seu candidato no poder e isso é muito ruim”, avaliou Antônio Lucena.

Até que ponto vão os riscos?

A junção dos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral – que desencadearam uma carta elaborada pela Faculdade de Direito da USP em defesa da democracia com o endosso de juristas, políticos e artistas – com esse possível desejo de manter Bolsonaro no poder, mesmo que não seja vitorioso nas urnas - tema que levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a investigar um grupo de empresários brasileiros, entre eles o fiel bolsonarista Luciano Hang, dono das Lojas Havan – tem gerado discussões sobre os reais riscos que a democracia corre atualmente.

Na ótica de Antônio Lucena, contudo, é “relativamente baixa a possibilidade de um golpe de estado, com blindados na rua e militares apoiando o governo Bolsonaro caso ele perca as eleições”.

"O custo disso é muito alto, não estamos em 1964. O Brasil já é uma democracia. Estamos vendo um mundo muito mais organizado, apoiando militarmente a Ucrânia frente a uma investida genocida da Rússia contra aquele país, várias sanções que a Rússia está sofrendo, e provavelmente um golpe militar no Brasil não seria bem visto internacionalmente e catastrófico para a nossa economia”, argumentou o cientista político.

Fora os dois aspectos citados acima, também há quem tema um rompimento democrático com uma replicação do que se viu nos Estados Unidos, quando o então presidente não reeleito, Donald Trump, incentivou a invasão do Capitólio - centro do poder Legislativo americano – por seus apoiadores para contestar o resultado das urnas.  

Entretanto, para Lucena, isso não deve acontecer no Brasil, pois haveria um isolamento em uma tentativa de aventura.  

“Arruaças a gente deve ter, sem dúvida nenhuma. E já estamos vendo pessoas já morreram por conta disso. Em grande medida, o fruto dessa instabilidade é o próprio Bolsonaro que fica atiçando, batendo de frente contra as instituições e esticando a corda. Termos governantes que respeitem a democracia, que defendam esse legado tão dificilmente construído após 1988 é extremamente importante para a população, e em uma tentativa de aventura, as pessoas que lideram ficariam isoladas”, projetou.

Nesta quinta-feira (31), data que o golpe militar completa 58 anos, um grupo assinado por 89 entidades da sociedade civil divulgou um documento repudiando as tentativas de se celebrar o golpe militar de 1964. 

“O regime autoritário imposto pelo golpe militar de 1964 ceifou vidas, com cerca de 434 pessoas mortas, mais de 20 mil cidadãos e cidadãs brasileiras torturadas, além da perseguição e do afastamento da vida pública de quase cinco mil representantes políticos em todo o País. A censura imposta a estudantes, jornalistas, artistas e intelectuais deixou cicatrizes profundas nas instituições e na sociedade brasileira”, diz o documento, coordenado pelo Pacto Pela Democracia. 

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O golpe de 1964, que durou até 1985, é constantemente celebrado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores, que o exaltam como tendo salvado o Brasil de uma hipotética “ameaça comunista”. 

Historiadores acreditam que o fantasma vermelho foi um pretexto para a derrubada do presidente João Goulart. “O período recente da história brasileira tem sido marcado por ataques à democracia e às instituições com perseguição de opositores e vozes dissidentes, como membros da sociedade civil organizada, jornalistas, artistas e ativistas”, pontuou. 

“Todos os pilares democráticos estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 vêm sendo ampla e gravemente atacados pelo atual governo federal ao longo dos últimos três anos, sendo o processo eleitoral um alvo recorrente e primordial de tais investidas”, afirma. 

O ministro da Defesa, Braga Netto, publicou, na quarta-feira (30), uma ordem do dia celebrando o golpe de Estado que culminou na ditadura militar. Ele qualifica a ação que matou e torturou várias pessoas como “movimento” e “marco histórico da evolução política brasileira”

Em domínio dos militares, a força de segurança do Mianmar, no sudeste asiático, abriu fogo contra um protesto e matou, pelo menos, oito pessoas nesse domingo (2). O país sofreu o golpe há cerca de três meses e, desde então, vem passando por manifestações contra o regime autoritário.

Considerada "a primavera de Mianmar", os organizadores deste, que foi um dos maiores protestos, incentivaram os civis em atos descentralizados. "Vamos sacudir o mundo com a voz da unidade do povo de Mianmar", indicou em comunicado.

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Três manifestantes foram assassinados em Wetlet, no Centro do país, e outras duas pessoas foram mortas em diferentes cidades de Shan, no nordeste. Mais uma vítima foi registrada na cidade de Hpakant, no norte do Mianmar, e mais duas foram baleadas em Mandalay, na segunda cidade mais populosa.

O golpe militar do dia 1º de fevereiro derrubou o governo eleito liderado pela ganhadora do Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi. Dezenas de milhares de pessoas foram desabrigadas pelos conflitos armados entre o governo e os rebeldes, de acordo com as Nações Unidas.

No dia 31 de março de 1964, as forças armadas brasileiras derrubaram o governo de João Goulart e instauraram uma ditadura no país. Com o fim do regime militar, a data ficou marcada como um símbolo da luta pela democracia. Aproveitando esta quarta-feira (31), alguns clubes brasileiros promoveram postagens em suas redes sociais para lembrar a importância da participação popular na política. Veja algumas:

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O vice-presidente do Brasil, General Hamilton Mourão (PRTB), usou seu perfil no Twitter, nesta quarta (31), para celebrar o aniversário do Golpe Militar de 1964. Em tom elogioso, ele relembrou o movimento ocorrido há 57 anos e acabou recebendo  muitas críticas.

Em sua postagem, o vice-presidente disse: “Neste dia, há 57 anos, a população brasileira, com apoio das Forças Armadas, impediu que o Movimento Comunista Internacional fincasse suas tenazes no Brasil. Força e Honra!”. A publicação veio acompanhada de fotos do Centro de Documentação da Fundação Getúlio Vargas.

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Em pouco tempo, o posicionamento de Mourão causou reações, sobretudo negativas. Nos comentários, os internautas criticaram bastante a postura do vice-presidente. “O senhor acha que a ditadura matou pouco por isso você e o presidente resolveram matar o resto dos brasileiros?”; “Um povo na mão de defensores de estupradores, torturadores e assassinos. Um país desgraçado. Vergonha mundial”; “Que um dia o Brasil tenha coragem de enfrentar esses monstros do passado como o Sr de uma vez por todas”; “Ditadura não se comemora, se lamenta”; “Um vice-presidente da República, em plena democracia, celebrar um golpe militar. O senhor não tem vergonha?”. 



 

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) usaram o Twitter, nesta quarta-feira (31), para reagir às manifestações de comemoração aos 57 anos do início da ditadura militar no Brasil. O assunto está entre os mais comentados das redes sociais e foi tema, inclusive, de fala de autoridades brasileiras como o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB).

Para o ministro Gilmar Mendes, não há o que exaltar de um golpe que culminou em anos de violência. 

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“O dia 31/03 não comporta a exaltação de um golpe que lançou o país em anos de uma ditadura violenta e autoritária. Ao contrário: é momento de exaltar o valor da nossa democracia conquistada com suor e sangue. Viva o Estado de Direito”, escreveu Mendes acompanhado de ‘#DitaduraNaoSeComemora’.

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Novas Gerações

Também ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso também falou sobre o assunto e deixou um recado para “as novas gerações”, as quais ele acredita que são as únicas que podem negar a ditadura. 

“PARA AS NOVAS GERAÇÕES: Só pode sustentar que não houve ditadura no Brasil quem nunca viu um adversário do regime que tenha sido torturado, um professor que tenha sido cassado ou um jornalista censurado. Tortura, cassações e censura são coisas de ditaduras, não de democracias”, listou o magistrado.

Segundo Barroso, na época, “os jornais eram publicados com páginas em branco ou poemas. Os compositores tinham que submeter previamente suas músicas ao departamento de censura. A novela Roque Santeiro foi proibida e o Ballet Bolshoi não pôde se apresentar no Brasil porque era propaganda comunista”.

Além disso, o presidente do TSE esclareceu que durante o regime militar “as regras eleitorais eram manipuladas”. “Ditaduras vêm com intolerância, violência contra os adversários e falta de liberdade. Apesar da crise dos últimos anos, o período democrático trouxe muito mais progresso social que a ditadura, com o maior aumento de IDH da América Latina”, argumentou.

O Ministério da Defesa informou nesta terça-feira (30), que todos os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica serão substituídos. A decisão foi comunicada, segundo a pasta, na reunião dos três oficiais com o novo ministro, Walter Braga Netto, e o antecessor, Fernando Azevedo e Silva.

A reunião dos comandantes das Forças Armadas, na manhã desta terça-feira (30), teve momentos de tensão. O Estadão apurou que o mais exaltado no encontro foi o almirante Ilques Barbosa, da Marinha, com reações que beiraram à insubordinação, conforme relatos de presentes.

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O encontro dos oficiais com Braga Netto foi marcado após o presidente Jair Bolsonaro demitir Azevedo e Silva do Ministério da Defesa, nesta segunda-feira (29). O agora ex-ministro resistiu a um alinhamento político das Forças Armadas com o governo.

Como revelou o Estadão, além do comandante do da Marinha, o do Exército, general Edson Leal Pujol, e o da Aeronáutica, Moretti Bermudes, colocaram seus cargos à disposição.

A intenção dos três comandantes com o gesto é deixar claro que não dariam um passo que possa contrariar a Constituição ou caracterizar ingerência nos outros Poderes, o Judiciário e o Legislativo.

Está na pauta desta quarta-feira (17) do Tribunal Regional Federal da 5ª Região o julgamento do recurso da União para que o governo e as Forças Armadas possam realizar atividades alusivas ao golpe de 1964. O caso chegou à Justiça após a deputada federal Natália Bonavides (PT) pedir a retirada de nota publicada em comemoração ao golpe no site do Ministério da Defesa.

Ainda em 2020, a juíza da 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, Moniky Mayara Costa Fonseca, determinou a retirada do texto do site e proibiu o Governo Federal de realizar publicações ou pronunciamentos comemorativos ao golpe militar. "O ato administrativo impugnado é nitidamente incompatível com os valores democráticos insertos na Constituição Federal de 1988, valores esses tão caros à sociedade brasileira, não havendo amparo legal e/ou principiológico em nosso ordenamento jurídico para que exaltações de períodos históricos em que tais valores foram reconhecidamente transgredidos sejam celebrados por autoridades públicas, e veiculados com caráter institucional", escreveu a magistrada na sentença.

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A União recorreu da decisão. A Advocacia-Geral da União (AGU) argumentou que a ação não causou lesão ao patrimônio e defendeu o direito do governo de celebrar a data. "Com efeito, o que a presente demanda procura fazer é negar a discussão sobre qualquer perspectiva da história do Brasil, o que seria um contrassenso em ambientes democráticos, visto que o Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, Constituição da República) pressupõe o pluralismo de ideais e projetos. Querer que não haja a efeméride para o dia 31 de março de 1964, representa impor somente um tipo de projeto para a sociedade brasileira, sem possibilitar a discussão das visões dos fatos do passado - ainda que para a sua refutação", diz o recurso.

A deputada federal pediu aos seus seguidores que compartilhem o caso nas redes sociais para pressionar o TRF-5 a manter a proibição. "Neste momento, em que milhares de vidas estão novamente sendo rifadas pela política genocida da Presidência da República, é hora de defendermos a vida, a justiça e a memória", ela escreveu.

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também se manifestou sobre o caso nas redes sociais. "O regime que causou tanta desgraça ao Brasil não é uma data a ser comemorada. Celebrar o golpe, a violência, a tortura e a morte é celebrar crimes contra a humanidade, que deveriam ter sido julgados e levado seus responsáveis à prisão. O  Poder Judiciário não pode permitir que, em pleno século XXI, o governo Bolsonaro, que defende a ditadura, as torturas e os assassinatos cometidos por aquele regime, comemore oficialmente o período mais sombrio da história brasileira", afirmou.

A repressão dos militares birmaneses aos manifestantes que protestavam contra o golpe fez sua primeira vítima fatal nesta sexta-feira (19), com a morte de uma mulher por um disparo.

Mya Thwate Thwate Khaing foi baleada na cabeça em 9 de fevereiro, em uma manifestação contra o golpe de Estado, em NaiPyidó, capital administrativa de Mianmar. Os confrontos explodiram nessa data, quando as forças de segurança começaram a atirar balas de borracha contra os manifestantes.

Os médicos do hospital da cidade disseram à AFP que pelo menos duas pessoas foram gravemente feridas por balas reais: uma delas, a jovem que faleceu nesta sexta.

Boa parte do país se rebelou quando a junta militar derrubou a então chefe do governo civil, Aung San Suu Kyi, em 1º de fevereiro. Desde então, ela é mantida em prisão domiciliar.

A organização dAmnistia Internacional concluiu, após análise das imagens à sua disposição, que “a polícia alvejou de forma imprudente os manifestantes”.

A irmã da menina, Poh Poh, lançou um apelo emocionado aos jornalistas: "Por favor, juntem-se ao movimento de protesto para que triunfe."

“Eles podem derrubar uma jovem, mas não podem roubar a esperança e a determinação de um povo determinado”, escreveu no Twitter o enviado especial da ONU para os direitos humanos em Mianmar, Tom Andrews.

As cerimônias fúnebres da jovem serão no domingo.

- Sanções internacionais -

As pressões se multiplicaram sobre os militares, que até agora ignoraram as inúmeras condenações e sanções internacionais.

O Reino Unido, uma ex-potência colonial, anunciou na quinta-feira (18) que aplicará sanções a três generais birmaneses por "graves violações dos direitos humanos".

O Canadá, por sua vez, punirá nove oficiais militares birmaneses e acusou a junta de ter realizado "uma ação sistemática de repressão por meio de medidas legislativas coercitivas e do uso da força".

O chefe da junta, general Min Aung Hlaing, tornou-se um pária internacional, após a ofensiva contra os muçulmanos rohingya em 2017.

Na semana passada, o presidente americano, Joe Biden, anunciou que Washington bloqueará o acesso dos generais a um fundo de US$ 1 bilhão nos Estados Unidos.

- Cortes de Internet -

Apesar da dura repressão, continuam as convocações de desobediência civil com inúmeras manifestações e greves no país.

Mianmar sofreu cortes de Internet pela quinta noite consecutiva, informa uma entidade especializada instalada no Reino Unido, acrescentando que houve uma retomada do serviço nesta sexta, às 9h locais.

Nesse horário, centenas de pessoas já estavam reunidas nas grandes avenidas de Yangon, a maior cidade do país, com retratos de Aung San Suu Kyi nas mãos, e clamando por "liberdade para nossa líder".

Na remota região de Sagaing, os manifestantes marcharam pela cidade de Monywa, com três dedos das mãos levantados, símbolo de rebelião.

A junta continua prendendo aliados da ex-chefe de governo, assim como funcionários que participam do movimento de protesto.

A Associação de Ajuda a Presos Políticos (AAPP), com sede em Yangon, relatou mais de 520 detenções desde o golpe militar de 1º de fevereiro.

Os militares justificam seu golpe, alegando que houve fraude nas eleições legislativas de novembro vencidas, em massa, pela Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi.

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, de 75 anos, que não é vista desde sua prisão domiciliar, está sendo acusada por motivos não políticos, como a importação ilegal de walkie-talkies e de ter violado "a lei sobre a gestão de catástrofes naturais". Deve comparecer à Justiça em 1º de março.

O relator especial da ONU para Mianmar emitiu nesta terça-feira (16) um alerta severo sobre o potencial para uma escalada de violência no país, à medida que os protestos continuavam após o golpe militar.

Mianmar ficou praticamente isolado do mundo pela terceira noite consecutiva, depois que os generais que destituíram e prenderam a líder civil Aung San Suu Kyi em 1º de fevereiro cortaram a internet.

Com a expectativa de que os manifestantes anti-golpe se reúnam novamente na quarta-feira nas principais cidades, como já vinham fazendo há dias, o enviado da ONU, Tom Andrews, emitiu o alarme.

"Temo que quarta-feira haja potencial para violência em uma escala maior em Mianmar do que vimos desde a tomada ilegal do governo em 1º de fevereiro", afirmou Andrews.

Andrews informou em um comunicado que com os manifestantes se acumulando na capital comercial Yangon, ele "recebeu relatos de soldados sendo transportados de regiões remotas para ao menos Yangon".

"No passado, esse tipo de movimento de tropas antecediam assassinatos, desaparecimentos e prisões em grande escala", ressaltou.

"Estou com medo de que, dada a confluência desses dois acontecimentos - protestos em massa planejados e tropas se movimentando - possamos estar no precipício dos militares cometendo crimes ainda maiores contra o povo de Mianmar".

Andrews afirmou também ter "notícias de que um julgamento secreto" de Suu Kyi e do presidente deposto Win Myint começou esta semana.

O advogado de Suu Kyi, Khin Maung Zaw, anunciou nesta terça-feira que uma segunda acusação foi apresentada contra sua cliente. Ele disse que ela e Win Myint deveriam comparecer por videoconferência durante um julgamento em 1º de março.

Andrews pediu à comunidade internacional para pressionar os generais e "convencer a junta de que os comícios planejados para quarta-feira devem prosseguir sem prisões ou violência".

"A repressão contínua das liberdades básicas e dos direitos humanos de Mianmar ao povo deve terminar imediatamente", acrescentou.

Ele também pediu às empresas estrangeiras que cortem os laços com Mianmar se os generais "continuarem neste caminho violento".

Os militares justificaram sua tomada de poder alegando fraude eleitoral generalizada nas eleições de novembro vencidas pelo partido de Suu Kyi.

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