A educação é, sem dúvidas, um dos principais caminhos de ascensão social, mas a carência de oportunidades ofusca esse privilégio na vida de muitas pessoas. Essa é uma das conclusões do mais recente estudo do Instituto de Pesquisas UNINASSAU. De maneira qualitativa, cidadãos pertencentes às classes C e D, moradores de vários bairros do Recife, foram ouvidos e expuseram suas visões de mundo, entre elas a que aborda o universo educativo. A pesquisa foi realizada em parceria com o LeiaJá e o Jornal do Commercio.
Os entrevistados, com idades que variam de 16 a 64 anos, enxergam a educação, de forma praticamente unânime, como um instrumento que pode mudar suas vidas, principalmente em aspectos financeiros. Porém, a pesquisa concluiu que existem alguns fatores que impedem a dedicação de recifenses. Muitos não estudaram porque começaram a trabalhar cedo em “casas de família” ou precisaram ajudar os pais. Sobretudo, a análise qualitativa também revela que os entrevistados maduros apresentam arrependimento por não terem estudado.
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Em um contexto oposto ao dos recifenses que não gozaram de oportunidades educacionais, há também entrevistados que afirmam ter tido chances de estudar. Entretanto, de acordo com a análise da pesquisa, eles não aproveitaram as oportunidades. Entre os questionados considerados maduros, existe o consenso de que a educação é valiosa; Os que são pais verbalizam, enfaticamente, o desejo de que “os filhos estudem”.
Auxiliar de reposição em uma rede de eletrodomésticos, Rodrigo Barbosa, de 27 anos, expressa o sentimento de que a educação poderia ter proporcionado a ele uma vida melhor, economicamente falando. Quando criança, o recifense precisou trabalhar comercializando refrigerantes ao lado do pai em jogos de futebol, pois era necessário ajudar a família. De acordo com Barbosa, sua juventude sem recursos financeiros suficientes, a necessidade de trabalhar e alguns problemas familiares prejudicaram seu percurso nos caminhos da educação. Ele não chegou a concluir o ensino fundamental, mas almeja, quando tiver oportunidade, participar de um curso preparatório para supletivo.
Para Rodrigo, a educação é o meio que pode proporcionar melhorias econômicas e sociais em sua vida. “A educação oferece situações melhores em nossas vidas. Ela é a base de tudo, por meio dela você aprende e pratica coisas boas. Pelo lado do comportamento, você sabe chegar e sair dos lugares, além de ajudar ao próximo. Quando a gente fala em educação escolar, ela nos ajuda a ter bom desempenho em entrevistas de emprego e nos faz mostrar aos filhos que a escola é importante”, opina o jovem recifense, em entrevista ao LeiaJá.
Em sintonia com a conclusão da pesquisa que remete ao desejo de educação para os filhos, Rodrigo está entre os que acreditaram nos benefícios educativos para suas crianças. Pai de duas garotas de cinco e sete anos de idade, o jovem defende que as meninas devem estudar. “Elas precisam do estudo para ter um futuro melhor. Hoje, eu entendo a importância da educação”, comenta o recifense.
Graduação
Ainda de acordo com o estudo do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, independente da renda, os eleitores maduros não têm ensino superior. Em meio aos entrevistados, as justificativas para a falta de graduação são “Não tivemos oportunidade” e “Não temos dinheiro”.
Os obstáculos apresentados pelos entrevistados para o não ingresso na universidade também trazem uma reflexão sobre base de ensino. De acordo com a pesquisa, eles afirmam que não podem estudar em uma faculdade gratuita, porque não têm “estudo”, ou seja, não reúnem preparo para a aprovação.
Já em relação aos aspectos financeiros, estudar em instituições de ensino privadas, que exigem mensalidades, não é possível para os entrevistados. A falta de dinheiro para arcar com as despesas da faculdade é o argumento apresentado. “Parte deles revela a esperança de um dia obter diploma de nível superior”, diz a pesquisa.
A conclusão de um curso superior representa ainda a ideia de que uma graduação pode render bons frutos, principalmente financeiros. “O diploma serve muito”, “Só com eles podemos ganhar dinheiro” e “Se com diploma emprego é difícil, imagine sem” foram algumas das visões identificadas nos entrevistados durante a pesquisa.
Análise
Segundo o coordenador da pesquisa e cientista político, Adriano Oliveira, o estudo aponta, de maneira muito clara, como a educação representa uma forma de mudar a realidade de muitos recifenses. Oliveira analisa ainda que a conclusão de uma universidade ainda é um feito admirado pelo povo da capital pernambucana.
“A educação é instrumento de mobilidade social. Estudar significa ampliar as oportunidades. O diploma de nível superior é valorizado, pois através dele é possível conquistar e manter o emprego. Os eleitores maduros mostram tristeza por não ter conquistado o diploma. Os jovens revelam esperança para conquistar o diploma”, comenta Adriano Oliveira.
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