Tópicos | Representatividade

Este ano, o especial de Natal da TV Globo vai apostar na representatividade. O programa será protagonizado por uma família negra, moradora de uma comunidade do Rio De Janeiro, e terá como Papai Noel o ator veterano Milton Gonçalves. O elenco comemorou o projeto e está ansioso por vê-lo no ar. 

Batizado de Juntos a Magia Acontece, o episódio especial vai ser exibido no dia do Natal, 25 de dezembro. Nele, uma família do bairro de Madureira, subúrbio da capital carioca, precisa reencontrar o espírito natalino para passar uma 'noite feliz'. No elenco, além de Milton, estão Camila Pitanga, Zezé Motta, Fabrício Oliveira e Luciano Quirino. 

##RECOMENDA##

Em entrevista ao Uol, Milton Gonçalves falou sobre interpretar o Bom Velhinho na televisão. "Acho maravilhoso. Estar aqui e fazer esse personagem me emociona. É uma batalha de muitos anos, de séculos. A gente tem que eliminar o mudo. Vou fazer o melhor Papai Noel que eu puder". Camila Pitanga também falou sobre a importância da representatividade no especial de Natal: "Acho que a gente poder contar com a nossa voz uma história que é de família, mas é de uma família preta, na noite de Natal, é muito especial". 

 

Embora correspondam a mais da metade dos habitantes do País, os brasileiros negros permanecem sub-representados no Poder Legislativo. Os pretos e pardos eram 55,9% da população, mas são apenas 24,4% dos deputados federais e 28,9% dos deputados estaduais eleitos em 2018.

Dos vereadores eleitos em 2016, 42,1% eram pretos e pardos. Os dados são do Estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

##RECOMENDA##

O porcentual de candidaturas de pessoas pretas ou pardas, no entanto, chegou a 41,8% para cargos de deputado federal, a 49,6% nas eleições para deputado estadual e a 48,7% para vereador.

"Assim, não é possível atribuir a sub-representação desse grupo populacional unicamente a uma ausência de candidaturas, pelo menos no que tange às eleições legislativas proporcionais de 2014 a 2018", ressaltou o IBGE, em nota.

O estudo mostrou ainda a discrepância entre a receita das candidaturas de pessoas brancas e a de pessoas pretas ou pardas. Enquanto 9,7% das candidaturas de pessoas brancas a deputado federal tiveram receita igual ou superior a R$ 1 milhão, entre as candidaturas de pessoas pretas ou pardas, apenas 2,7% contaram com pelo menos esse valor.

"As candidaturas de pretos ou pardos são menos representativas entre candidaturas com mais recursos", aponta Luanda Botelho, analista da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

Considerando todas as candidaturas que dispuseram de receita igual ou superior a R$ 1 milhão, apenas 16,2% eram de pessoas pretas ou pardas.

Segundo o IBGE, estudos sobre eleições no Brasil já mostraram que a escassez de recursos financeiros é um dos fatores que diminuem as chances de sucesso eleitoral de uma candidatura.

"Outro elemento determinante para o sucesso seria o candidato já possuir cargo parlamentar, o que constitui, portanto, mais uma dificuldade para um grupo sub-representado reverter esse quadro", afirmou o IBGE.

A terceira edição do Rec’n Play, evento que une tecnologia, economia criativa e cidades, em Pernambuco, promete ser gigante. E este é um título que vai além das mais de 300 atividades que acontecerão dentro e fora dos espaços selecionados para receber o evento. Maior até que a estimativa de 20 mil pessoas, circulando pelo bairro do Recife, para assistir à palestras e participar de workshops. A grandeza do festival este ano não está só medida em atrações, mas - principalmente - em representatividade.

Com convidados ilustres, shows diversos e até mesmo uma praça de alimentação de dar água na boca, as ações para garantir a equidade de gênero no festival podem - apesar de não dever - passar despercebidas. Porém, basta olhar duas vezes para notar o esforço de seus organizadores em tornar esta edição ainda mais inclusiva para mulheres e grupos LGBTI. 

##RECOMENDA##

Para este ano, 50% dos curadores do evento são do sexo feminino. Além disso, a presença de atividades pensadas especialmente para o público LGBTI torna o festival ainda mais plural e preparado para uma geração que quer, mais do que aprender sobre negócios, se sentir representada. 

“Desde o primeiro ano que a nossa intenção é aumentar a diversidade, principalmente em relação a participação feminina”, afirma o coordenador do evento, Bruno Stehling. Essa colocação torna-se ainda mais importante quando se analisam os dados divulgados no começo do ano pelo programa YouthSpark, da Microsoft. A pesquisa feita pela gigante aponta que, no Brasil, apenas 18% dos graduados em Ciência da Computação e 25% dos empregados em áreas técnicas de tecnologia da informação (TI) são mulheres.

Para reverter esse quadro, o estímulo da presença feminina torna-se ainda mais requisitado. “Eu acho que a gente chegou num momento de inflexão. Não dá pra voltar atrás nesse tema”, diz Stehling. Em relação ao público LGBTI entidades como coletivo Transborda e o Porto+, que é uma iniciativa do Porto Digital, são pontes de apoio e fomento para a inclusão de diferentes gêneros e debates no ramo dos negócios digitais e da tecnologia.

A palavra delas

Entre os convidados já confirmadas pelo evento estão nomes importantes como Tânia Cosentino, Presidente da Microsoft Brasil, Flávia Picolo, da Accenture e Renata Albertim, CEO e Co-fundadora do Mete a Colher, entre outras. Painéis como “A representatividade negra nos games”, com Tainá Félix, “Data Driven Marketing”, com a diretora de Marketing da Mercedez-Benz do Brasil, Ebru Semizer e “Mulheres na Robótica”, com a estudante Maria Eduarda Oliveira, de 15 anos, são outros destaques.

Nomes como o do apresentador Luciano Huck, o professor de criatividade Murilo Gun, os jornalistas Luis Nassif e Caco Barcellos, também participam do evento. 

Um adeus às filas

Para os amantes da tecnologia, outra novidade do festival é a utilização de QR CODEs para conseguir participar das atividades. Ao invés do habitual crachá um aplicativo, homônimo ao evento, será usado para que o público consiga ter acesso aos ambientes fechados. “O uso de app será tanto para Android e iOS. O usuário vai conseguir ver o mapa do bairro, saber mais sobre programação, o que vai ter naquele dia. A novidade deste ano é não precisar mais ficar na fila. Por causa disso é obrigatório ter a inscrição geral no site”, explica o coordenador do evento.

Bruno lembra que, apesar da facilidade é necessário que o público entenda que esses espaços são bastantes disputados e estão sujeitos a lotação. “Nossa ideia é ser o festival mais democrático do mundo em tecnologia. Ampliar a experiência do usuário. Conseguir com que o público entenda a dinâmica e participe de forma ativa de tudo”, diz.

O Rec’n Play está marcado para acontecer entre os dias 02 e 05 de outubro, no bairro do Recife. A programação é aberta a pessoas de todas as idades e todas as atividades são gratuitas. As inscrições são obrigatórias e já podem ser realizadas no site.

Prestes a estrearem na Copa do Mundo de Futebol Feminino, as meninas da seleção brasileira ganharam um incentivo a mais de quatro artistas nas ruas da Zona Norte de São Paulo: pinturas nas paredes da Vila Brasilândia.

As homenagens aconteceram por intermédio do projeto #ElasRepresentam, desenvolvido pela agência MullenLowe Brasil, com o próposito de incentivar os brasileiros a apoiarem as meninas da seleção canarinho na maior competição do esporte.

##RECOMENDA##

As imagens foram pintadas nos mesmos locais onde os jogadores da seleção masculina também tinham sido retratados para a disputa de 2018. As pinturas foram realizadas pelos artistas Sarah Lorenk, Clara Leff, Afolego e Digão O Comprimido (este último, também foi o responsável pelas imagens do ano anterior), e nelas, foram retratadas a força e a representatividade das meninas do Brasil e de suas jogadoras mais antigas.

O primeiro jogo da seleção acontece no próximo domingo (9). As meninas vão enfrentar a seleção da Jamaica, às 10h30.

Por Gabriela Ribeiro

Em 17 de maio de 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da classificação internacional de doenças. Por esse motivo, a data foi instituída como o Dia Internacional contra a Homofobia, símbolo da luta contra a violência, preconceito e discriminação.

De acordo com dados divulgados em março deste ano pela ILGA (International Lesbian, Gay, Bisexual, Trans and Intersex Association), a homessexualidade ainda é considerada crime em 70 países e seis desses preveem pena de morte. No Brasil, a homossexualidade não é crime, no entanto, segundo levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), referente a 2018, o país registrou 420 mortes de pessoas da comunidade LGBT.

##RECOMENDA##

No cinema, diversas produções já evidenciaram as dificuldades enfrentadas pela comunidade. O Leia já listou filmes sobre o assunto que contam histórias reais e fictícias. Confira:

Boy Erased: Uma Verdade Anulada

 

Milk - A Voz da Igualdade

 

A Garota Dinamarquesa

 

Filadélfia

 

Adeus, Minha Rainha

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

 

Amor por Direito

Desobediência 

  Conhecido por interpretar uma drag queen na novela A Força do Querer, na Globo, o ator Silvero Pereira ‘arrasou’ nesta quarta-feira (15) ao aparecer vestido de mulher no Festival de Cannes. Além do vestido longo, ele aderiu a peruca, maquiagem e acessórios.

Silvero foi ao festival representando o longa ‘Bacurau’, do pernambucano Kleber Mendonça. O filme concorre à Palma de Ouro, premiação máxima da competição. Em seu Instagram, Silvero explicou a razão por optar pela vestimenta. “Desde pequenininho usei, ESCONDIDO, lençóis como vestido e toalhas como peruca HOJE escolhi essa vitrine pra dizer do medo que sofria e da coragem que construí no meu corpo, na minha força interior!”, escreveu.

##RECOMENDA##

Nos comentários, os fãs elogiaram a atitude: "brilha muito e brilha mais!"; "D I V A da diversidade"; "Arrasou !!! Parabéns, lindo como sempre', escreveram. 

[@#video#@]

O coletivo Trovoa abre, no próximo sábado (4), no Museus da Abolição, no Recife, a exposição Entremoveres. A mostra reúne os trabalhos de 30 artistas negras mulheres (travestis, trans e cis) e pessoas não binárias. A ocupação artística fica em cartaz até 4 de agosto.

Além dos trabalhos artísticos, a mostra também vai promover atividades formativas. As ações pretendem abordar uma pluralidade de linguagens, discursos e pesquisas de mídias produzidas por profissionais mulheres que têm sua atuação realizada no campo artístico.

##RECOMENDA##

Dentre as expositoras estarão  Aline Sales,  Amanda Souza, Ana Lira, Anne Souza, Ariana Nuala, Benedita Arcoverde, Biarritzzz, Deba Tacana, Erzulie Timboiá, Gi Vatroi, Ianah, Juma Gitirana, Kalor, Karla Fagundes, Kildery Iara, Letícia Barros, Lia Letícia, Liz Santos, Magú, Mariana de Matos, Mitsy Queiroz, Nathê Ferreira, Nena Callejera, Polly Souza, Priscilla Buhr, Priscila Ferraz, Priscilla Melo, Preta Aoita, Rebeca Gondim e Mun-Ha. 

Serviço

Exposição Entremoveres

Abertura

Sábado (4) - 16h

Visitação

Até 4 de agosto

Segunda à sexta | 9h às 17h; Sábado | 13h às 17h

Museu da Abolição (Rua Benfica, 1150 - Madalena)

Gratuita

 O ‘Leia para uma criança’, do Itaú Unibanco, lançou neste mês a coleção digital “Garotas Incríveis”. O projeto conta com três livros em formato kidsbook e tratam da igualdade de gêneros. As obras, que podem ser lidas gratuitamente, foram escritas por mulheres e trazem protagonistas femininas.

O primeiro livro é ‘Meu Amigo Robô’, que conta a história de uma menina que sonha em ter um amigo de lata e pede para que um “faz tudo” o construa. Já em ‘Malala, a menina que queria ir para a escola’, os pequenos poderão conhecer a história da ativista paquistanesa Malala Yousafzai. A pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Por último, o terceiro livro é ‘As Bonecas da Vó Maria’ e foi inspirado na história de três empreendedoras de sucesso.

##RECOMENDA##

Os livros contam com recursos audiovisuais e podem ser lidos por meio de aplicativo e nas redes sociais. ‘Meu Amigo Robô’ já está disponível para download no site. Os outros títulos serão disponibilizado em breve.

Nesta sexta-feira (19), é comemorado o Dia do Índio. A data foi instituída em 1943 no governo de Getúlio Vargas e proposta por lideranças indígenas no Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México em 1940. A data serve como recurso para que a população reflita sobre a situação dos povos indígenas na sociedade atual, além de incentivar a preservação da cultura e criação de medidas públicas efetivas que amparem os povos originários.

De acordo com estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 a população brasileira indígena somava 817.963 pessoas. O censo também revelou que em todos os Estados da Federação, inclusive no Distrito Federal, há populações indígenas. Apesar da cultura indígena ser difundida desde o ensino fundamental nas escolas, a representatividade desta população nos meios de comunicação ainda é limitada.

##RECOMENDA##

No entanto, nos últimos anos, youtubers indígenas estão surgindo e conquistando espaço nas redes sociais. Eles endossam a luta e ressaltam a importância dos povos indígenas na construção de uma sociedade igualitária. Conheça alguns canais:

Denilson Baniwa

Criado em 2007, o canal do publicitário indígena Denilson Baniwa é pioneiro na criação de conteúdo para o Youtube. Em um vídeo publicado em 2014, Denilson falou do choque ao perceber a falta de representatividade na plataforma.

 

Ysani Kalapalo

Natural de Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, Ysani é dona de uma dos canais indígenas mais ‘badalados’ da internet. A indígena acumula mais de 50 mil inscritos e em seus vídeos aborda questões culturais, além de compartilhar suas primeiras experiências na ‘cidade grande'.

 

Wariu

Com pouco mais de 16 mil inscritos, o canal Wariu desconstrói a visão do brasileiro sobre os povos indígenas através de vídeos explicativos.

 

Índia Atualizada

Já a índia Angélica, da tribo Anacé, tradicional do Ceará, cria conteúdo com base nos acontecimentos presenciados na aldeia.

Com o mote ‘a valorização da luta feminista’, o Abril Pro Rock chega a sua segunda noite de shows. O festival ampliou a programação e destinou um dia de festa exclusivo para bandas comandadas por mulheres. As apresentações acontecem nesta sexta-feira (19), no Baile Perfumado, na Zona Oeste do Recife.

A noite das minas reúne bandas nacionais e internacionais que através da música protestam contra o machismo e ressaltam a importância da luta feminista e do empoderamento. Conheça um pouco mais de três atrações que fazem parte da programação do APR das Minas.

##RECOMENDA##

Pussy Riot

A grande atração da noite é a banda russa Pussy Riot. Conhecida por atos políticos sem hora e nem data marcada. As meninas do coletivo ficaram conhecidas em 2012, quando fizeram um concerto não autorizado, incluindo uma oração contra o presidente russo Vladimir Putin, em frente a Catedral de Moscou. Condenadas por “vandalismo e intolerância religiosa” ficaram presas por dois anos.

Na final da Copa do Mundo, em 2018, o grupo tomou o estádio no início do segundo tempo do jogo entre França e Croácia. Mais uma vez elas protestavam contra o governo de Putin, que assistia a partida no estádio. Por meio do punk rock, a banda feminista luta pelos direitos das mulheres e LGBTs. No Recife, quem sobe aos palcos representando a banda é Nadya Tolokonnikova juntamente com outros membros do coletivo. Pussy Riot será a última banda a se apresentar.

Arrete

Criado em 2012, o projeto ‘Arrete’ é composto pelas Mc’s Ya Juste, Nina Rodrigues e Weedja Lins. Através de expressões corporais e rimas fortes, com base no hip-hop, as pernambucanas abordam questões ligadas ao empoderamento feminino, questões sociais, afetos e cultura local.

O primeiro álbum do grupo “Sempre com a Frota” foi produzido com aprovação e apoio do Funcultura e está disponível nas plataformas digitais. No Abril Pro Rock, a banda é a terceira a se apresentar.

[@#video#@]

Letrux

Com uma pegada diferente, a carioca Letícia Novaes, conhecida como Letrux sobe ao palco do APR com uma sonoridade pop que mescla influências da música dramática italiana, cantando sobre desilusões e deleites do amor.

Em 2017, seu disco solo ‘Letrux em Noite de Climão’ foi eleito o 10º melhor disco brasileiro pela revista Rolling Stone Brasil.

No APR das minas ainda se apresentam Demonia, 808 Crew, Sinta a Liga Crew, Côco de Umbigada e a Dj Karla Gnom. Os portões da casa de show serão abertos às 20h e os ingressos podem ser adquiridos a partir de R$60 na Sympla

LeiaJá também

---> Feminismo e ativismo em debate no Abril pro Rock

---> De Pussy Riot a Ratos: 10 atrações do Abril pro Rock 2019

 O projeto global de empoderamento feminino na indústria criativa ‘Ladies, Wine & Design’ (mulheres, vinho e design) discute no Recife, na próxima quarta-feira (24), a participação feminina na produção de eventos musicais.

Idealizado pela designer americana Jessica Walsh, o projeto chegou à capital pernambucana em 2018 e tem como proposta reunir mulheres em encontros mensais para discutir temas relevantes para a comunidade local, promovendo networking e um espaço seguro para as criativas.

##RECOMENDA##

Nesse encontro, o LWD recebe Ana Garcia, organizadora do Coquetel Molotov, Ana Lúcia Altino, organizadora do Virtuosi e Nadejda Maciel, produtora do Maddam Music. O evento acontece no Cobra Restaurante, Zona Norte do Recife, às 19h. A inscrições são gratuitas e podem ser realizadas através da Sympla. Mais informações podem ser adquiridas através do Instagram oficial do projeto.

Serviço

LWD Recife

24 de abril | 19h 

Cobra Restaurante (R. Jacobina, 58 - Graças, Recife)

Inscrições gratuitas 

 Em março deste ano, a cena literária pernambucana ganhou mais uma produção independente. ‘Furtiva’, escrito pela jovem poeta Júlia Bione, de 16 anos, traz à superfície o íntimo da sua alma. A obra conta com 19 poesias que discorrem essencialmente sobre o amor. O livro faz parte do projeto Mostra de Publicações Independentes (MOPI), uma iniciativa da editora pernambucana Castanha Mecânica.

As poesias sem rimas, escritas em sua maioria dentro dos ônibus que circulam na Região Metropolitana do Recife, serviram como válvula de escape para Bione, que usou todo seu talento para se desprender das amarras e convenções sociais e de expor sua homossexualidade à família. A necessidade de ser vista, ouvida e de se fazer existente foi o motor necessário para que a obra tomasse vida.

##RECOMENDA##

“‘Furtiva’ foi um pedido de socorro e depois que ele foi pra rua eu me senti livre, eu falei ‘Eu estou livre para ser o que eu sou, para ser quem eu sou’”, revelou a jovem escritora em entrevista ao LeiaJá.

Criada por uma base formada por mulheres, Bione foi instruída desde cedo sobre o suposto ‘lugar de mulher’. Submissão e machismo eram vistos como necessários. No entanto, isso nunca entrou em sua cabeça: conformismo não era uma opção para a menina.

Aos 11 anos, inspirada em Racionais MC's, Bione escreveu seu primeiro poema. Assim como os do livro, ele também falava de amor.

Poesia Marginal e Slam

Com 13 anos, Bione ainda era Júlia, mas ela já sabia o que queria ser e resolveu se arriscar em uma roda de rima próxima de sua casa, no Prado, Zona Oeste do Recife. Antes de conseguir batalhar, foi impedida de disputar pelo menos duas vezes, simplesmente pelo fato de ser mulher. Na primeira vez, ela se deparou com a afirmação ‘Menina não batalha. A gente pega muito pesado e não queremos pegar pesado com menina’. Indignada, a adolescente voltou para casa e continuou a escrever, meses depois retornou na roda e aderiu o nome de ‘Bione’, com o intuito de confundir os realizadores sobre seu gênero, mas a tentativa foi em vão.

Frustrada, em decorrência da proibição de fazer o que foi destinada, a adolescente passou por problemas psicológicos durante um período. “Eu pensava: ‘Eu não tô conseguindo batalhar aqui, não tô conseguindo fazer o que eu gosto do lado de casa, como é que vou fazer pra o mundo inteiro?’”, revela.

No entanto, Bione não estava satisfeita com a proibição e voltou à roda uma terceira vez, quando finalmente conseguiu batalhar. A poeta conta que a primeira vez que conseguiu participar foi quando sentiu mais medo. “A primeira vez que eu pensei em desistir foi a primeira vez que eu quis fazer”, diz. Como a batalha era de rap (com improviso) a adolescente não se saiu bem, mas já se sentiu uma vitoriosa por ter conseguido fazer parte da roda.

Um tempo depois, Bione conheceu o ‘Slam das Minas’, em que as poetas recitam poesias autorais e foi ali que encontrou o seu lugar. Produzindo poesias marginais sobre resistência e revolução, ela trata de problemas sociais, como o racismo, o machismo e a homofobia. A jovem poeta conta que no início só queria falar sobre o que estava sentindo, até perceber que outras pessoas também sentiam a mesma coisa e encontravam nela uma maneira de ter voz na sociedade.

[@#video#@]

Em Pernambuco, existem três grupos de Slam: O Slam PE, o Slam Caruaru e o Slam das Minas, do qual Bione faz parte. Além das rodas de batalhas individuais em cada grupo, os slams também competem entre si para garantir representantes do Estado no Slam BR - Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, que acontece anualmente em São Paulo. O evento reúne ‘slammers’ de todo o Brasil e o vencedor representa o país na Copa do Mundo de Slam, disputada em Paris.

Em 2018, após vencer as batalhas em Pernambuco, Bione foi a São Paulo representando e ficou em 3° lugar. Com 15 anos, ela era a poeta mais nova da competição. “Eu fiquei muito assustada, pois no ano anterior quem tinha ganho era Pernambuco, com Bell Puã. Eu era a sucessora, em busca do bi”, conta.

Sobre políticas públicas de incentivo à cultura, Bione fala que é escassa e seletiva, um assunto complicado de falar. “Quando a gente fala de Slam e batalhas de rap, políticas públicas é um assunto que não se encaixa muito, elas às vezes impedem de que a gente vá pra rua, que a gente fale. Vai além de colocar um palco e colocar os meninos pra rimar, tem relação com o respeito. Todo mundo respeita uma roda de poesia na rua da Aurora, porque é na rua da Aurora, mas políticas públicas dentro da favela não existe”, enfatiza. Bione sabe por quem fala e para quem fala. Confira uma de suas poesias:

 Nesta terça-feira (2) é comemorado o Dia Internacional do Livro Infantil. A data foi escolhida em homenagem ao dinamarquês Hans Christian Andersen, considerado o primeiro autor moderno de contos de fadas. ‘Soldadinho de Chumbo’, ‘ A Pequena Sereia’ e ‘Patinho Feio’ são algumas das obras clássicas escritas por Hans.

Para celebrar esta data, o LeiaJá listou algumas obras infantis que abordam temas como representatividade, empoderamento e igualdade de gênero. Confira:

##RECOMENDA##

Olivia não quer ser princesa

A porquinha Olívia não entende o porquê de todas as suas amigas gostarem de rosa, varinha de condão e quererem ser princesas. Olívia não quer vestir as mesmas roupas, sonhar os mesmos sonhos e pensar igual a todo mundo. Ela quer explorar todas as possibilidades e descobrir quais coisas combinam mais com o seu jeito de ser. A narrativa é de Ian Falconer e ilustrações de Roberto Fukue. No Brasil, a obra foi lançada em 2014 pela editora Globo.

Ceci tem pipi?

Max e Ceci se conhecem na escola e até onde Max sabe existem pessoas com pipi, que são os mais fortes e as pessoas sem pipi. No entanto, Ceci não tem pipi e parece ser tão forte quanto Max. Ela joga bola, desenha mamutes e tem uma bicicleta de menino. Em ‘Ceci tem pipi?’ as crianças têm contato de forma divertida sobre a importância da igualdade de gênero entre meninas e meninos.

 

Menina não entra

Idealizado pela escritora brasileira Telma Guimarães Castro Andrade, ‘Menina não entra’ também aborda a igualdade de gênero. Na narrativa, um grupo de meninos decidem formar um time de futebol e não querem deixar Fernanda participar por ela ser menina. Mas a visão dos garotos muda quando percebem que ser menina não significa não ter habilidades .

 

A princesa e a costureira

Prometida em casamento a um príncipe do reino vizinho, a princesa Cintia vai encomendar seu vestido de noiva e acaba se apaixonando pela costureira Isthar. Cintia irá contar com ajuda de amigos para enfrentar seus pais e viver esse amor. O livro foi escrito por Janaina Leslão e conta com ilustrações de Júnior Caramez. De acordo com a editora, a obra pretende auxiliar famílias e escolas na discussão sobre a diversidade e ampliação dos direitos LGBT.

Tenho Dois Papais

Financiado com o apoio de uma campanha colaborativa no Catarse, a obra apresenta a história de um garotinho que tem dois pais, mostrando que sua vida é igual a de outras crianças que têm pais heterosexuais.

Amoras

Escrito pelo rapper Emicida e inspirado na música ‘Amoras’, a obra mostra a importância da autoaceitação. O livro tem ilustrações de Aldo Fabrini.

 

 

Meu crespo é de rainha

Publicado originalmente em 1999, o livro celebra a beleza e a diversidade dos cabelos crespos e cacheados, além de desconstruir a ideia de beleza padrão imposta pela sociedade.

O cineasta Jordan Peele, diretor do recém lançado Nós, estrelado por Lupita Nyon'go revelou, em entrevista, uma restrição para seus filmes. Ele garantiu que não escala atores ou atrizes brancos para os papéis principais. O diretor também falou sobre a sensação de conseguir estimular e promover a presença de artistas negros nas produções hollywoodianas.

A entrevista foi dada no Upright Citizens Brigade Theatre. "Não consigo me ver escalando um cara branco para o papel principal em nenhum dos meus filmes. Não é que eu não goste de caras brancos, eu só sinto que já vi esse filme antes", explicou.

##RECOMENDA##

O diretor também falou sobre como se sente por emplacar atores e atrizes negros e, assim, tentar driblar uma situação que predomina na indústria do cinema: "Eu me sinto em uma posição de privilégio por poder dizer para Universal que eu quero fazer um filme de terror de US$ 20 milhões sobre uma família negra. E os investidores dizem sim".

Para Peele, o mercado atual está passando por uma mudança e apostando em uma nova perspectiva de lucratividade e representatividade e citou como exemplos os filmes Pantera Negra e Moonlight, recentes sucessos.

 Nesta sexta-feira (8) é comemorado o Dia Internacional da Mulher e, para celebrar a força, coragem e dedicação da figura feminina na sociedade, o NOW promove o ‘Especial Mês das Mulheres’.

A plataforma de streaming irá disponibilizar, de 8 a 31 de março, 50 filmes com temáticas voltadas para o universo feminino, que terão com 50 % de desconto, para os clientes da NET e Claro.

##RECOMENDA##

Entre os títulos de destaque estão dois títulos com Cate Blanchett: Carol, que também tem Rooney Mara em papel de destaque no filme; e Oito Mulheres e um Segredo, que junta outras mulheres poderosas no elenco, como Sandra Bullock, Anne Hathaway, Rihanna, Helena Bonham Carter e Sarah Paulson.

Confira lista completa dos títulos disponíveis:

Você pode até não conhecê-la por nome, mas provavelmente já viu alguns dos seus desenhos 'rodando' a internet. Carol Rossetti caiu no gosto popular dos internautas em 2014, quando suas ilustrações tomaram as redes sociais. Através do projeto ‘Mulheres’, a designer e ilustradora discute temas ligados ao universo feminino e debate assuntos como representatividade, feminismo, inclusão e amor próprio. Em entrevista ao LeiaJá, Rossetti falou sobre ‘Mulheres’ e outros projetos que permeiam sua vida.

De acordo com a mineira, que mora Belo Horizonte, a obra teve início sem pretensão. “Comecei a desenhar mais pra praticar, foi algo bem espontâneo. A meta era fazer um desenho por dia. O pessoal gostou e começou a compartilhar.”, conta. ‘Mulheres’ ganhou repercussão internacional, foi traduzida para vários idiomas, saiu da internet e conquistou o mundo. As histórias contadas na série, antes baseadas em conversas com amigas, passaram a ser inspiradas em relatos feitos por mulheres de vários países à autora. Imagens com mulheres negras, trans, com deficiência ou com outras características são evidenciadas nas criações, sempre acompanhadas de uma frase 'reconfortante'.

##RECOMENDA##

Em 2015, foi lançado um livro homônimo do projeto, que conta com 130 ilustrações da série, sendo 30 exclusivas do livro, na época. A página do Facebook, que era seguida apenas pela família e amigos, atualmente tem mais de 310 mil inscritos. Carol também teve seu trabalho exposto na TEDWomen 2015, na Califórnia e palestrou no TEDx Vinhedo 2015, conferência que discutiu o poder de mulheres e meninas e as incentivaram a ser criadoras de mudanças.

Cores

Em 2016, após o sucesso de ‘Mulheres’, foi lançado ‘Cores’. O projeto em quadrinhos foi idealizado para o público infantil e conta histórias de um grupo de crianças que querem ser livres para brincar sem os preceitos estipulados pela sociedade. Carol afirma que é muito importante ajudar na luta para a desconstrução de preconceitos, mas que auxiliar na construção de cidadãos melhores também é fundamental. “Cores foi feito para o público infantil, mas acabou que os adultos também gostam e consomem o produto’, revela.

Assim como ‘Mulheres’, ‘Cores’ também virou livro e as obras podem ser adquiridas online.

[@#galeria#@]

O post do meu vizinho parece ser melhor do que o meu

Participando do projeto ‘Inktober’, no qual artistas compartilham um desenho por dia, durante 30 dias, no mês de outubro. Rossetti lançou o ‘O post do meu vizinho parece ser melhor do que o meu’, baseado na premissa de que ‘o gramado do vizinho é sempre mais verde’. Com traços simples, em tons rosados, a narrativa gráfica remete aos processos criativos de artistas independentes.

“A gente glamouriza muito, se compara muito e temos que administrar muita coisa. É necessário plano de marketing, saber como aquela arte vai chegar ao público. É um trabalho muito completo e diversificado,’ revela.

Nesse projeto, Rossetti nos conta a história de uma cineasta que é muito boa no que faz, mas que se compara constantemente com outros artistas. Durante a narrativa, Carol se coloca na história e diz que às vezes também se sente uma ‘fraude’ por demorar para concluir alguns trabalhos. ‘O post do meu vizinho é sempre mais verde’ pode ser lido na íntegra no Instagram da artista.

Vento do Norte

Em produção desde 2016, ‘Vento do Norte’ é o trabalho mais recente e atual de Carol Rossetti. Com uma abordagem um pouco diferente dos trabalhos anteriores, essa é a primeira graphic novel da ilustradora. Apesar dos personagens de Carol continuarem sendo empoderados e levarem representatividade, através de protagonistas negros, engajados em causas políticas e LGBTs, o tema central dessa história é ‘perda’.

“Em 2016, que chamo de 2000 e desespero, foi um ano muito pesado. Eu perdi uma amiga próxima para dengue e no mesmo ano meu avô morreu. Foram duas perdas diferentes, o meu avô já vinha doente há algum tempo, mas a minha amiga foi algo inesperado,” diz.

No entanto, a autora deixa claro que seu novo projeto não é só sobre dor, mas também sobre enxergar saídas em momentos difíceis. Sem data para o término, mas com previsão de 3 volumes, Carol acredita que o projeto tem sido bem aceito pelo público. ‘Sinto que acabo gerando ansiedade nas pessoas’, conta.

Questionada sobre como ela vê a importância de seus trabalhos no contexto social, Rossetti disse que tenta romper com rótulos estabelicidos para sociedade. “Todo pessoal que trabalha com narrativa, com ou sem imagem, constrói o que é visto como normal. Eu tento trazer uma representatividade mais abrangente, para uma sociedade que tem muitos abismos representativos”, explica.

Com previsão de lançamento para março de 2019, a obra de Yomi Adegoke e Elizabeth Uviebinené chega ao Brasil. Com o título ‘Slay in Your Lane - The Black Girl Bible’ em livre tradução, “Brilhe na sua praia- A Bíblia da garota negra”, o livro é sucesso no Reino Unido e no Brasil, será vinculado pela editora Primavera.

Focado no feminismo negro, o livro conta a de vida das autoras e conta com entrevistas com dezenas de mulheres negras bem-sucedidas na Grã-Bretanha, incluindo Amma Asante, atriz, roteirista e diretora premiada com o BAFTA de Cinema; Vanessa Kingori, diretora de redação da British Vogue; e Denise Lewis, que conquistou a medalha de ouro na Olímpiada de Sidney, em 2000, no heptatlo.

##RECOMENDA##

“Brilhe na sua praia- A Bíblia da garota negra” já está em pré-venda na Amazon e custa R$44,90.

 

*Com informações da assessoria

LeiaJá também

---> Lista: 6 livros sobre empoderamento feminino

---> Grupo editorial Record lança ‘Kit Gay’

No próximo sábado (16), Maria Júlia Coutinho, a Maju, irá estrear na bancada do "Jornal Nacional". Conhecida por noticiar a previsão do tempo, a jornalista de 40 anos, será a primeira mulher negra a apresentar a atração jornalística.

Em 2017, ela recebeu a incumbência de comandar o "Jornal Hoje", aos sábados, no esquema de substituir os âncoras Evaristo Costa e Sandra Annenberg em suas folgas.

##RECOMENDA##

Assim como Maju, outros repórteres foram vistos por trás da mesa dos telejornais. Na Globo, Heraldo Pereira foi o primeiro jornalista negro a apresentar o "JN". Joyce Ribeiro, que passou pelo jornalismo do SBT, também foi a primeira mulher negra a estar à frente do "Jornal da Cultura", na TV Cultura.

 O Grupo editorial Record anunciou nesta terça-feira (12), em seu Instagram, o lançamento de um novo box literário. Intitulado como ‘Kit Gay’ a edição faz uma clara referência a uma 'fake news' usada como recurso pelo Presidente da República Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais no Brasil, em 2018, para conquistar votos.

Com os títulos “Dois garotos se beijando", de David Levithan, “George”, de Alex Gino e “Você tem a vida inteira", de Lucas Rocha, os leitores poderão mergulhar na história de protagonistas LGBTs. O produto já pode ser adquirido na Amazon.

##RECOMENDA##

Nas redes sociais, os internautas comemoram a publicação e citaram o ‘afronte’ da editora. “É disso que o Brasil precisa!!!”; “essa editora é muito ícone”; “Quanta afronte ADORO”; “Olha o kit gay aí, meu povo! Ele existe!’, escreveram.

[@#video#@]

No final do mês de janeiro deste ano, a TV Brasil estreou mais uma animação infantil e, desta vez, uma produção pernambucana ganhou espaço e está sendo exibida para todo o Brasil. ‘Bia Desenha’ conta com 13 episódios de 7 minutos e tem roteiro de Karol Pacheco e Neco Tabosa. O desenho se passa na periferia da capital pernambucana e conta a história de uma família não convencional que vive em um quintal, onde Bia, de 6 anos e, Raul, de 5 anos, são criados por pais solos.

Com o mote ‘desobediência poética’, a dupla de roteiristas conseguiu levar representatividade à TV brasileira, através de protagonistas negros e periféricos. Segundo Karol, que assina alguns de seus trabalhos como 'Kalor', ainda houve a preocupação de saber quais profissionais, dos que trabalhariam na produção, se encaixavam nesse perfil.

##RECOMENDA##

“Não adianta estar na cara aquilo tudo lá (representatividade), quando na realidade os recursos estão indo para os mesmos bolsos. Isso é muito importante de se pensar, porque ter política que não é pública, é muito preocupante”, enfatizou.

Foto: Divulgação

Com arte de Raul Souza e direção de Neco Tabosa, o projeto foi financiado pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual (Prodav), do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), promovido pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) e conta com a produção da Carnaval Filmes e REC Produtores Associados.

Questionada sobre novas temporadas da animação, Pacheco revelou que não sabe qual será os próximos passos da série. “Apesar de ‘Bia Desenha’ trazer à tona essa realidade tão próxima de tantos brasileiros e brasileiras, não sabemos como o mercado receberá, e se de fato será incentivada a continuar. Bia Desenha combina um modo quilombo de se viver, em comunidade, em face a um Estado que deixa seus cidadãos muitas vezes na mão", aponta.

O cenário da animação foi inspirado no quintal da casa de Kalor, localizada em Camaragibe, a 16 km do Recife. Cercado por ruas íngremes e descalçadas, o quintal da casa da comunicadora é um prato cheio para crianças brincarem. Com um espaço amplo, tem pé de manga, acerola e canela e foi com base em suas vivências nesse lugar que a história de Bia ganhou vida. Assim como a protagonista da animação, ela também foi criada por mãe solo, pois seu pai foi assassinado quando ela tinha 3 anos.

Kalor, que é autora e membro de projetos destinados a desopressão artística das classes periféricas e abraça iniciativas que põem a mulher negra no centro das discussões, faz parte de uma estatística que abrange muitos brasileiros. De acordo com últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística (IBGE), em 2015 o Brasil tinha mais de 11,6 milhões de famílias comandadas sem a existência de uma figura masculina. Desse percentual, 59,9 % vivem abaixo da linha da pobreza e o número se intensifica para 66,4 % quando se fala de mulheres negras.

Mesmo com os obstáculos impostos pelas condições financeiras e raciais, a artista conseguiu furar bloqueios e ingressou no ensino de nível superior. Cursando jornalismo na UNINASSAU, com uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni), estagiou em alguns veículos de comunicação, incluindo o LeiaJá, e teve uma importante participação em diferentes edições da revista Outros Críticos, sobre arte e cultura.

[@#galeria#@]

#tecnologiaserviçodaorgia

Escolhida em 2016 para integrar um grupo de 10 artistas participantes de uma iniciativa realizada pelo Museu do Sexo da Putas, interversão artística concebida na capital mineira com foco em desnudar o dia a dia de prostitutas, Kalor apostou na performance e criou o projeto #tecnologiaserviçodaorgia.

Foto: Mayara Menezes/Divulgação

A ação proposta pela Associação das Prostitutas de Minas Gerais, e contemplada pelo Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais, hospedou os artistas, durante um mês, em um hotel na rua Guaicurus, considerado um dos maiores centros de prostituição do Brasil, onde eles conviveram com as profissionais do sexo e puderam, através de diferentes linguagens, dar voz a essas mulheres que vivem à margem da sociedade.

Apresentando um trabalho com quatro partes, Kalor concluiu duas durante a residência: ‘Eu Tive que Engolir or Engolir Porra Nem1a’ e ‘Modos de fazer sabão’. O primeiro fala sobre os assédios machistas que as mulheres são ‘obrigadas’ a engolir diariamente e usou o leite como metáfora       Foto: Mayara Menezes/Divulgação 



para esses ataques, já o segundo foca na higienização exacerbada imposta pela sociedade ao órgão sexual feminino.

Outra parte do projeto foi concluída em Pernambuco. Intitulada ‘Certidão de aborto’, a performance foi baseada numa experiência vivenciada pela artista na Maternidade Barros Lima, localizada em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. “Eu fui vítima de um aborto espontâneo. Na verdade eu estava num processo de sangramento em outras maternidades, onde o atendimento demorou. Eu já fui pra o Barros Lima para fazer a curetagem e era um ambiente muito hostil: violência obstétrica, pessoas que estão dando à luz junto com pessoas que estão perdendo no mesmo ambiente, ausência de forrar a cama, ausência de luz no banheiro”, relata.

As performances feitas por Kalor no #tecnologiaaserviçodaorgia foram apresentadas no II FINCAR – Festival Internacional de Cinema de Realizadoras, exibido no Cinema São Luiz, no 27º Festival de Inverno de Garanhuns e na Performances negras e caboclas pela DesCÚlonização Social na Udesc, entre outros.

Diante de um contraste gritante entre performances sexuais e animação infantil, Kalor diz que após um pouco mais de dois anos da criação de #tecnologiaaserviçodaorgia, ela vê o projeto com um novo olhar.

Políticas públicas

Em 2017, Pacheco era diretora de Comunicação e Igualdade Racial na Fundação de Cultura de Camaragibe e foi eleita presidente do Conselho de Cultura. Ela foi uma das responsáveis pelo restabelecimento e fortalecimento da Fundação de Cultura do município. Enxergando o órgão como ferramenta aliada da população, Kalor diz que encontrou um gerenciamento da esfera cultural desigual, em que determinados grupos e festas eram mais beneficiados do que outros. “Em vez de me preocupar de colocar na capa determinado político, eu me preocupava em deixar o cidadão informado, em saber sobre  Sistema de Cultura, o que é Fundo, o que é Plano e assim a gente encontrou uma Camaragibe que na cultura estava muito vinculada as festas, aos ciclos”, ressaltou.

No período em que integrou a gestão da instituição, esforços foram investidos, tanto pela administração da organização como pela classe artística de Camaragibe, rica em teatro, música e audiovisual, para que a 'Cultura’ se reerguesse. Foram abertos espaços para que linguagens e grupos excluídos fossem contemplados pelas políticas públicas do município. “A gente sabe que a música está em detrimento de outras linguagens, muito dinheiro, muita visibilidade pra música. Por exemplo no edital de Carnaval, de São João, mas não tem edital de audiovisual. Então, a gente percebeu que tinha muita gente de audiovisual e grafite aqui em Camaragibe e começamos a dar espaço pra esse pessoal’, contou.

Para Kalor, suas realizações são resultados de um contato mínimo de conhecimento adquirido através da faculdade, onde ela pode se entender como cidadã e teve possibilidade de acessar os serviços públicos destinados à Cultura. “Existe um grupo muito restrito de pessoas que acessam esses recursos, que são de impostos pagos por toda população e ano após ano, vemos a aprovação no Funcultura dos mesmos nomes,” revela.

Reconhecendo a cultura como espaço de luta social, a comunicadora e performista ainda falou sobre privilégios dados a pessoas de classes sociais elevadas, que não enfrentam os mesmos obstáculos vivenciados por periféricos e negros. Pacheco também defende a inclusão de cotas nos editais de projetos culturais, em que mulheres, índios e negros têm espaço garantido. “Assim nós vamos tendo uma reparação”, ressalta. O sistema de cotas em editais de Cultura foram aderidos após estudo realizado pela Comissão de Gênero e Diversidade da Agência Nacional do Cinema, que apontou que 75,4% dos filmes produzidos em 2016 pelo órgão foram dirigidos por homens brancos.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando