RIO DE JANEIRO - A capital carioca amanheceu pedindo justiça pelo assassinato brutal da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, que completa um mês neste sábado (14) ainda sem resolução. A Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro e o delegado à frente do caso, Rivaldo Barbosa, atual chefe da Polícia Civil, seguem sem comentar o caso ou revelar suspeitos. O inquérito corre sob sigilo na Justiça.
Na manhã deste sábado, durante o ato Amanhecer por Marielle e Anderson, no Largo do Machado, o deputado Marcelo Freixo (PSOL) se mostrou confiante com o trabalho da Polícia Civil. "Temos muito respeito pelas investigações da Delegacia de Homicídios. A gente é contra a federalização desse crime, a gente acha que isso atrapalha a investigação", afirmou.
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A Comissão de Direitos Humanos da Alerj, onde Marielle atuou por dez anos ao lado de Freixo, está acompanhando as investigações. "A Delegacia de Homicídios tem expertise, conhece o Rio de Janeiro, é bem sucedida nos crimes de grande visibilidade, tem um histórico positivo. Então a gente precisa apoiar, mas precisa ter a certeza de todo esforço que está sendo feito", ressaltou.
Apesar da blindagem ao caso, as informações que vazaram dão conta de que a principal linha de investigação da polícia é que o crime tem envolvimento de grupos de milícia e estaria relacionado às atividades da parlamentar, que tinha uma forte atuação em defesa dos direitos humanos e contra a intervenção federal no Rio de Janeiro.
No dia 4 de abril, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que as investigações estão avançadas. "Eu acredito que [o trabalho] está na mão de um profissional extremamente responsável, com a melhor equipe que se poderia dispor", assegurou Jungmann, que teria solicitado à polícia que colhesse os depoimentos de testemunhas localizadas pelo jornal O Globo.
Uma das poucas autoridades a comentar o caso, o procurador-geral do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, também se limitou a dizer que todas as equipes estão empenhadas na elucidação do crime. "O caso continua sob sigilo. As autoridades responsáveis estão conduzindo com todo cuidado necessário", afirmou Gussem, após reunião na Delegacia de Homicídios.
A ausência de respostas, no entanto, levou a Anisitia Internacional a publicar uma nota pressionando as autoridades pela resolução e por proteção aos defensores de direitos humanos. "A sociedade precisa saber quem matou Marielle e por quê. A cada dia que passa e este caso permanece sem respostas, o risco e ameaças em torno dos defensores e defensoras de direitos humanos aumentam", alertou a diretora-executiva da Anistia, Jurema Werneck.
A organização ressaltou que o é um dos países onde mais se mata defensores de direitos humanos, com 58 pessoas assassinadas em 2017. "O Estado deve garantir que o caso seja devidamente investigado e que tanto aqueles que efetuaram os disparos quanto aqueles que foram os autores intelectuais deste homicídio sejam identificados. Caso contrário, envia uma mensagem de que defensores de direitos humanos podem ser mortos e que esses crimes ficam impunes", salientou a diretora.
"É o pior pojeto da minha vida"
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou, no último dia 12, a concessão da Medalha Tiradentes post mortem para Marielle Franco. Considerada a maior honraria do parlamento fluminense, a homenagem foi uma iniciativa do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). O projeto foi votado no dia do aniversário do deputado, que discursou emocionado na tribuna, ao lembrar que comemorava a data em festas organizadas por Marielle.
"Foram dez anos de convivência diária, onde eu aprendi mais do que ensinei para Marielle. Conceder a Medalha Tiradentes à Marielle é um dos projetos mais importantes que aprovamos e o pior projeto da minha vida. Queria fazer esta homenagem em vida porque Mari merecia muito, mas nunca imaginei que tamanha violência e covardia podia chegar nela", enfatizou.
Homenagens o dia todo
Mais de 100 cidades de 12 países diferentes também iniciaram o dia prestando homenagens, com fotos, cartazes e ações em memória de Marielle e Anderson. Também haverá a celebração de uma missa em memória das vítimas, na Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, às 11h, no Centro do Rio.
A irmã de Marielle, Anielle Silva, escreveu um artigo que foi publicado no Jornal o Globo, sobre a saudade da parlamentar, que foi a quinta vereadora mais votada em 2016, com mais 46 mil votos. "Nossa casa está sem brilho, sem sorrisos, sem gritos, sem ânimo. A cada dia que passa recebemos mais mensagens de apoio e força, mas nada nos trazia mais força do que quando você chegava e “mariellava” nosso lar", escreveu.
Ativistas convocaram para às 14h um tuitaço nas redes sociais com a hashtag #QuemMatouMarielle. No final da tarde, haverá a Marcha e Tambores por Marielle e Anderson, que sairá dos Arcos da Lapa, no Centro do Rio, em direção ao Estácio, local onde ocorreu o crime. Músicos, blocos e maracatus participam da caminhada.
No dia 26 de abril, um show reunirá diversos artistas no Circo Voador, na Lapa, vai arrecadar recursos para quatro organizações sociais que eram apoiadas pela vereadora: os coletivos Fala Akari, Casa das Pretas, Maré Vive e o Pré-Vestibular Comunitário do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM).