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Alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que 'em várias localidades do mundo' governos tentem pressionar, coagir e ofender o Poder Judiciário quando não gostam das decisões judiciais ou da 'defesa intransigente que o Poder Judiciário faz da Constituição e da legislação'.

A afirmação foi feita durante sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal na tarde desta terça-feira, 5, durante julgamento que negou pedido de extradição feito pela Turquia contra o empresário Yakup Sagar. O colegiado, por unanimidade, seguiu o voto de Alexandre de Moraes, que considerou que parte das imputações feitas a Sagar 'tem clara motivação política'.

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"Um dos pilares do estado democrático de direito, junto com eleições livres e imprensa livre, é a independência do Poder Judiciário. Um Poder Judiciário independente, autônomo, que não sofre pressões do Executivo. Não sofre pressões, coações e perseguições. Lamentavelmente nós temos, de tempos pra cá, em várias localidades do mundo, Executivos tentando pressionar o Poder Judiciário. Quando não gostam das decisões do Judiciário. Quando não gostam da defesa intransigente que o Poder Judiciário faz da Constituição e da legislação. Simplesmente ou pressionam, ou coagem, ou ofendem, ou pior ainda, prendem, como no caso em questão", afirmou o ministro em seu voto.

Alexandre destacou que o governo turco prendeu 2745 juízes e promotores, o que chamou de 'absurdo', e ainda apontou como as detenções implicam em uma 'coação psicológica gigantesca' a outros magistrados. Além disso, o ministro destacou que um integrante da suprema corte do País chegou a ser preso pelo governo turco, em um ataque direto à instância máxima do Judiciário daquele país. "Claramente, ostensivamente e eu diria vergonhosamente, o Poder Judiciário vem sofrendo um ataque à sua autonomia e à sua independência", afirmou.

O ministro do STF não fez nenhuma menção ou referência aos aliados do presidente Jair Bolsonaro, mas é atacado com frequência pela base bolsonarista, incomodada com os posicionamentos do magistrado em investigações que são sensíveis ao Palácio do Planalto. Nos últimos anos, houve diferentes momentos em que foram registradas escaladas dos ataques - o mais recente deles no final de março, quando Bolsonaro exaltou o golpe de 1964, que deu início à ditadura militar.

O caso de Sagar

No julgamento em que Alexandre fez as declarações sobre os ataques ao Judiciário em todo mundo, os ministros do STF analisaram algumas alegações feitas pelo governo turco contra Yakup Sagar, que foi preso, para fins de extradição, em dezembro de 2021.

Depois de ser interrogado, Sagar teve a preventiva substituída pelo uso de tornozeleira eletrônica. Dono de uma empresa de confecção em São Paulo, ele mora no Brasil desde dezembro de 2016, com a mulher e a filha, e obteve a condição de refugiado no início deste ano.

O Executivo da Turquia acusa o empresário de integrar, junto com mais 83 pessoas, o movimento Hizmet, ligado à suposta organização Fethullah Gülen, que, em julho de 2006, teria tentado golpe armado contra o governo, que tinha como primeiro-ministro o atual presidente, Recep Tayyip Erdogan.

Ao pedir a extradição de Sagar, o País citou delitos tipificados no Código Penal do país e na lei sobre financiamento ao terrorismo, argumentando que os crimes não são políticos e que o empresário seria responsável por 'angariar recursos para viabilizar as atividades criminosas da organização'.

Já a defesa do empresário apontou a descrição genérica dos fatos a ele imputados e alegou desvio de finalidade do processo, que 'teria se tornado instrumento de perseguição extraterritorial do governo turco a seus opositores'.

O advogado de Sagar também destacou que a Constituição proíbe extradição no caso de imputação de crime estritamente político.

Além disso, a defesa evocou a condição de refugiado de Sagar, indicando ainda que o empresário não tem antecedentes criminais no Brasil, tem endereço conhecido e sua filha cursou Comércio Exterior no País.

Ouvida no processo como parte 'amiga da corte', a Defensoria Pública da União argumentou que o governo turco 'tem realizado acusações como forma de perseguição'. No mesmo contexto, a Conectas Direitos Humanos destacou que o Estado turco 'não demonstra respeitar os direitos de seus nacionais e que há uma série de denúncias internacionais contra a prática de perseguição política por meio de extradições'.

Ao analisar o caso, Alexandre de Moraes votou por negar o pedido de extradição e ainda revogou as medidas cautelares impostas ao empresário, destacando como parte das acusações contra Sagar tem 'clara motivação política'. Além disso, o ministro indicou que não há comprovação de que o movimento Hizmet seja terrorista.

O relator explicou que o Supremo não autoriza extradições se houver risco 'de o réu ser julgado por juízes de exceção'. "Um dos pilares do Estado de Direito é a independência do Poder Judiciário, que deve ser autônomo e não pode sofrer pressões, coações e perseguições", apontou.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu cinco dias para o Ministério da Justiça prestar informações sobre o andamento do pedido de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.

A ordem é para o secretário nacional de Justiça, Vicente Santini, detalhar as medidas adotadas para garantir o cumprimento do mandado de prisão preventiva expedido em outubro do ano passado contra o blogueiro. Dono do portal Terça Livre, Allan dos Santos foi colocado na lista de difusão vermelha da Interpol - sistema de alerta para captura de foragidos internacionais.

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O blogueiro é investigado em duas apurações conexas: o inquérito das milícias digitais, que mira a atuação de grupos organizados na internet para promover ataques e desinformação; e o inquérito das fake news, que se debruça sobre ofensas, ameaças e notícias falsas contra autoridades.

Embora tenha sido bloqueado nas redes sociais por ordem judicial, o blogueiro tem criado perfis alternativos a cada vez que uma conta é derrubada. Em um deles, Allan dos Santos se disse vítima de 'perseguição' ao comentar nesta segunda a decisão de Moraes.

Interferência

O processo da extradição de Allan dos Santos foi atravessado por acusações de servidores do Ministério da Justiça, que relataram ter sofrido pressão interna para impedir que o blogueiro seja trazido de volta ao Brasil. A Polícia Federal apura se houve tentativa de interferência indevida no procedimento.

As suspeitas foram ampliadas depois que a delegada federal Silvia Amelia da Fonseca, responsável por enviar toda a documentação do caso ao Ministério de Relações Exteriores, foi exonerada do cargo de diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI). A medida foi vista internamente como uma represália por ter dado andamento ao procedimento.

O secretário de Justiça chegou a ser ouvido pela PF e, em depoimento, disse que solicitou informações sobre o processo de extradição com o objetivo de 'dar cumprimento à decisão judicial'. Ele negou ter tentado interferir no caso.

Condenado a nove anos de prisão por estupro de vulnerável, o atacante Robinho recebeu um pedido de extradição enviado pelo Ministério Público de Milão ao Brasil. As informações são desta terça-feira (15) do jornal italiano La Repubblica, que ressalta que o jogador já foi julgado culpado em terceira instância, não tendo mais direito a recursos jurídicos.

Mesmo com o Brasil não permitindo extradição de seus cidadãos, o Ministério Público de Milão solicitou ao Ministério da Justiça brasileiro que permita que Robinho seja preso em caso de tentativa de deixar o país.

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Caso Robinho

O atacante brasileiro foi condenado por estupro de vulnerável por conta de um episódio em janeiro de 2013, em boate de Milão, onde levou uma mulher libanesa de 23 anos a um camarim com outros amigos e tiveram relações sexuais não consensuais por cerca de uma hora.

A vítima afirmou ter sido embriagada e abusada sexualmente pelo atacante e mais cinco pessoas enquanto estava inconsciente.  Além da condenação de nove anos de prisão, Robinho terá que pagar uma indenização de cerca de R$ 372 mil.

Foi registrado na Procuradoria de Milão nesta segunda-feira (31) o procedimento do pedido de execução de pena contra o jogador de futebol Robinho e seu amigo Ricardo Falco por violência sexual.

O trâmite começa 12 dias após a confirmação da condenação a nove anos de prisão dada pela Corte de Cassação, última instância da Itália.

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Conforme preveem as normativas da Justiça italiana, o escritório de execução da Procuradoria formulará o pedido de extradição com um mandado simultâneo de prisão internacional nos próximos dias.

Os atos da instância máxima já chegaram ao MP e o processo de execução está sob liderança da procuradora Adriana Blasco.

Depois do recolhimento de alguns documentos para confirmar a identidade dos dois condenados, começará a fase de execução com a transmissão do pedido de extradição ao Ministério da Justiça da Itália, a notificação formal às autoridades brasileiras e a emissão do pedido de prisão.

O Brasil não deve realizar a extradição de Robinho e Falco porque a Constituição do país não permite que os cidadãos sejam enviados para cumprir penas em outras nações, mas com o mandado de prisão internacional em aberto, os condenados podem ser presos se viajarem para outro país que tenha acordos do tipo com a Itália.

Atualmente, cerca de 70 nações possuem esse tipo de parceria com os italianos, incluindo Argentina, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e todos os membros da União Europeia.

Robinho e Falco foram condenados em primeira instância em novembro de 2017, em segunda em dezembro de 2020 e tiveram a pena confirmada no último dia 19 de janeiro. Ambos foram condenados por violência sexual em grupo contra um jovem albanesa, de 22 anos à época dos fatos, ocorrida em um clube de Milão em 22 de janeiro de 2013.

Da Ansa

A Justiça britânica autorizou, nesta segunda-feira (24), o fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, a recorrer à Suprema Corte da decisão judicial de dezembro sobre sua extradição para os Estados Unidos.

Em um novo episódio desta longa saga judicial, no mês passado, a corte de apelações de Londres havia aprovado a entrega do australiano à Justiça americana.

Os Estados Unidos querem julgar Assange pelo vazamento, desde 2010, de mais de 700.000 documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas americanas, especialmente no Iraque e no Afeganistão.

Em 10 de dezembro, o governo dos EUA obteve uma grande vitória quando um tribunal de apelações de Londres revogou uma decisão anterior de não entregá-lo.

No entanto, no Reino Unido, para recorrer ao Supremo Tribunal, o juiz deve primeiro autorizá-lo. Em primeira instância, a juíza londrina Vanessa Baraitser havia impedido a extradição em janeiro de 2021, considerando que Assange, de saúde mental frágil, poderia cometer suicídio se fosse entregue ao sistema judicial dos Estados Unidos.

Mas em outubro, os advogados de Washington apelaram dessa decisão. Eles garantiram que o australiano de 50 anos não seria mantido em isolamento punitivo em uma prisão federal de segurança máxima e que receberia tratamento médico adequado.

Considerando essas garantias suficientes, o tribunal de apelação decidiu no mês passado que o caso fosse enviado ao Ministério do Interior, que tem a palavra final sobre qualquer extradição.

- Liberdade de expressão ou espionagem? -

O caso de Assange tornou-se uma causa para os defensores da liberdade de expressão, para quem o WikiLeaks tem os mesmos direitos que outras mídias de publicar material secreto, se for de interesse público.

Mas o governo dos EUA, que o indiciou por 18 acusações, incluindo espionagem, diz que Assange não é um jornalista, mas um hacker e que a divulgação de documentos não editados coloca em perigo a vida de seus informantes. Se extraditado, ele pode ser condenado a um máximo de 175 anos, embora a sentença exata seja difícil de calcular.

Uma coalizão de associações antiguerra e milhares de defensores da paz assinaram uma declaração na sexta-feira pedindo sua libertação imediata. "O governo (do presidente dos EUA, Joe) Biden enfrenta os adversários da América por suas deficiências na liberdade de imprensa, mas deve abordar sua própria hipocrisia", disse Nathan Fuller, diretor da Courage Foundation.

O australiano está detido na prisão de alta segurança de Belmarsh, perto de Londres, desde que foi preso de surpresa em abril de 2019 dentro da embaixada equatoriana depois que o então presidente Lenín Moreno retirou o asilo concedido por seu antecessor Rafael Correa.

Primeiro, foi em cumprimento a uma sentença britânica por ter violado as condições de sua liberdade condicional ao se refugiar na legação para evitar ser extraditado para a Suécia, onde enfrentava acusações de agressão sexual.

O australiano alegou temer ser enviado de lá para os Estados Unidos. Mais tarde, ele foi mantido em prisão preventiva enquanto sua extradição é decidida, pois o juiz considerou que ele poderia tentar fugir novamente se fosse libertado.

Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, poderá ser extraditado para os Estados Unidos, decidiu nesta sexta-feira (10) a Justiça do Reino Unido, ao aprovar um pedido de recurso do governo americano. O australiano de 50 anos enfrenta nos Estados Unidos ao menos 17 acusações criminais, incluindo uma violação da lei de espionagem, e conspiração para invadir computadores do governo.

As revelações do WikiLeaks expuseram crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão, detenções extrajudiciais na prisão de Guantánamo, em Cuba, e telegramas de diplomatas revelando abusos de direitos humanos em diferentes partes do mundo. A decisão representa um golpe para os esforços de Assange de evitar sua extradição para os EUA para enfrentar acusações de espionagem, embora as opções de recurso permaneçam abertas para sua equipe jurídica.

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"O tribunal permite o recurso", disse o juiz Timothy Holroyde, revertendo uma decisão de janeiro deste ano que impedia a extradição. As autoridades dos Estados Unidos acusam o australiano de divulgação de uma vasta coleção de registros militares confidenciais americanos e informações diplomáticas que, segundo eles, colocaram vidas em perigo.

O advogado que representa o governo americano, James Lewis, insistiu nas garantias dadas por Washington de que Julian Assange não será submetido a medidas especiais nem ficará detido no temido centro penitenciário de altíssima segurança ADX Florence, no Colorado, conhecido como "Alcatraz das Montanhas Rochosas".

O advogado James Lewis afirmou que a Justiça americana vai garantir que Assange receba os cuidados clínicos e psicológicos necessários e que poderá solicitar cumprir sua pena na Austrália, seu país de origem.

Assange está sob custódia no Reino Unido desde abril de 2019. Antes, ele tinha ficado sete anos na embaixada do Equador na capital britânica para evitar uma extradição para a Suécia, pedida em 2010, em um caso de agressão sexual que viria a ser arquivado em 2017. Ele está há dois anos e meio na penitenciária de segurança máxima de Belmarsh.

O australiano, considerado por seus simpatizantes uma vítima de ataques contra a liberdade de expressão, havia conquistado um resultado positivo em janeiro. Na ocasião, a Justiça rejeitou o pedido de extradição de Washington, alegando que existia a risco de Assange cometer suicídio. Nos Estados Unidos, ele pode enfrentar uma pena de 175 anos de prisão.

Em seu recurso, Washington questiona a confiabilidade de um especialista que testemunhou a favor de Assange sobre a fragilidade de sua saúde mental atual.

O psiquiatra Michael Kopelman reconheceu que enganou a Justiça ao "ocultar" o fato de que seu cliente se tornou pai durante seu confinamento na embaixada do Equador em Londres.

O australiano, que conta com o apoio de várias organizações de defesa da liberdade de imprensa, é procurado pelos Estados Unidos por espionagem, após a publicação de cerca de 700.000 documentos militares e diplomáticos confidenciais.

Ele foi detido pela polícia britânica em abril de 2019, depois de passar sete anos na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou quando estava em liberdade sob fiança. Ele temia a extradição para os Estados Unidos, ou para a Suécia, cuja Justiça o denunciou por estupro. Desde então, estas acusações foram retiradas.

WikiLeaks e as acusações contra Assange

O WikiLeaks ficou famoso em 2009 quando publicou centenas de milhares de mensagens enviadas por pagers em 11 de setembro de 2001, o dia do atentado nos Estados Unidos contra as Torres Gêmeas e o Pentágono. A ONG, fundada em 2006 por Julian Assange, permite a publicação online de documentos secretos sem identificar quem os vazou.

Pouco a pouco, suas revelações se tornaram mais controvertidas, como quando publicou um vídeo em que soldados americanos aparecem cometendo abusos no Iraque ou quando divulgou milhares de documentos militares sobre o Afeganistão.

Em novembro de 2010, o WikiLeaks publicou, com a ajuda de cinco jornais internacionais (The New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Le Monde e El País), mais de 250 mil documentos secretos que revelavam segredos da diplomacia americana. Este episódio, depois batizado como "cablegate", transformou o australiano em inimigo número 1 dos EUA.

Ao todo, o WikiLeaks diz ter publicado "mais de 10 milhões de documentos" sobre vários assuntos, incluindo o mundo das finanças, do entretenimento e da política. (Com agências internacionais).

Com a saída da delegada Dominique de Castro Oliveira do escritório da Interpol, o governo Jair Bolsonaro já acumula ao menos duas dezenas de mudanças na Polícia Federal em razão de divergências políticas com o governo e com a cúpula da corporação, ou de investigações que desagradaram ao Planalto.

Para delegados ouvidos pelo Estadão, a série de intervenções não encontra precedentes, e levou à geladeira, ou "corredor" - termo usado na PF para quem está em estado de fritura pela direção - experientes quadros, com histórico de participação em importantes investigações. As mudanças continuam mesmo em meio a uma investigação que se arrasta há mais de um ano no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre suspeita de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na corporação.

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"Fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei", disse Dominique, em mensagem encaminhada aos colegas. "Há uma forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada", escreveu. A delegada atuava há 16 meses na Interpol, cargo de indicação da direção.

Internamente, colegas afirmam que ela era crítica à gestão do delegado-geral, Paulo Maiurino, e que assinou manifestação pública a favor do delegado Felipe Barros Leal, afastado do inquérito que investiga suposta interferência política de Bolsonaro na PF. Pelas mãos da delegada passou também o pedido de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos. Em nota, a cúpula da PF afirma que o episódio não teve relação com a saída da delegada, que teria atuado de maneira protocolar ao encaminhar o pedido, sem decidir nada a respeito.

Dominique vai reforçar a Superintendência da PF no Distrito Federal, para onde já foram deslocados outros sete delegados desde que Maiurino assumiu o comando da corporação. Hoje, há 45 delegados naquela unidade.

O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Félix de Paiva, afirmou que a entidade acompanha o caso. "Com as informações disponíveis até o momento, a associação não concorda que colegas sejam movimentados sem fundamentação clara e sem critérios." Além deste, outros casos recentes que chamam atenção dos delegados.

DRCI

A delegada Silvia Amelia da Fonseca, que deu andamento ao processo de extradição de Allan dos Santos, foi exonerada da diretoria do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI). Dias antes da extradição, o secretário Nacional de Justiça, Vicente Santini - homem de confiança da família Bolsonaro, que já ocupou diversos cargos no governo - havia pedido para ter acesso a processos de extradição ativa, aqueles em que o Brasil pede a outros países a entrega de alvos da Justiça.

Outro caso recente é de Thiago Delabarry, que chefiou a área de combate a corrupção e lavagem de dinheiro na cúpula da PF e deixou o cargo após Maiurino assumir a Diretoria-Geral. Em julho deste ano, a Superintendência da PF no Rio Grande do Sul indicou Delabarry para o comando da delegacia de combate a corrupção, em Porto Alegre. Em setembro, seu nome foi vetado por Maiurino.

O veto é atribuído ao fato de que, sob sua gestão, o delegado Bernardo Guidale conduziu o acordo de delação premiada do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, que citou o ministro do STF Dias Toffoli e o presidente do STJ, Humberto Martins. Maiurino foi segurança de Toffoli e trabalhava para a Presidência do STJ antes de ser nomeado. Ele teria se surpreendido com o pedido de investigação do ministro do Supremo. Toffoli se aproximou de Bolsonaro ao longo do governo.

Bernardo Guidali, que conduziu a delação de Cabral, também perdeu cargo no Serviço de Inquéritos Especiais (Sinq), responsável por investigar autoridades com foro privilegiado.

'REMANEJAMENTO'

Em nota, a PF afirmou que "as movimentações de servidores dentro da instituição é regular e faz parte dos mecanismos de gestão administrativa, não havendo outras razões que não a de ordem técnica para melhor atender as finalidades institucionais". Diz ainda que "eventuais substituições de cargos de chefia um processo natural que não causa qualquer tipo de prejuízo aos serviços prestados". O Estadão tentou contato com Maiurino, mas ele não se manifestou. O Palácio do Planalto não havia se manifestado até a publicação desta matéria.

INVESTIGAÇÃO

Episódios de suposta interferência são também investigados no inquérito aberto pelo STF a partir das declarações do ex-ministro da Justiça e agora pré-candidato à Presidência, Sérgio Moro (Podemos), quando deixou o governo Bolsonaro no ano passado. Moro afirmou que o presidente queria trocar a direção do órgão e na superintendência do Rio para proteger parentes e aliados.

Em uma reunião ministerial cujas imagens foram anexadas ao inquérito, Bolsonaro aparece dizendo: "Vou interferir, e ponto final". O presidente se defende dizendo que se referia à segurança pessoal de sua família no Rio. No âmbito deste inquérito, Bolsonaro foi questionado, por exemplo, a respeito da troca do comando da PF no Rio, que era chefiada pelo delegado Ricardo Saadi. Em 2019, o presidente afirmou abertamente que iria trocar Saadi. Ele acabou substituído por Carlos Henrique de Oliveira, que disse em depoimento à PF ter sido apresentado pelo presidente por Alexandre Ramagem, delegado e chefe da Abin, que se tornou homem de confiança da família após fazer a segurança de Bolsonaro na campanha de 2019 - muitos dos agentes da época foram levados por Ramagem à Abin. À época, havia um inquérito eleitoral contra Flávio Bolsonaro por suspeita de ocultação de bens.

O delegado Victor Cesar Santos, do Rio, também substituiu recentemente o superintendente da Polícia Federal em Brasília, onde tramitam inquéritos como aquele que levou às buscas contra Ricardo Salles, e investigações sobre suposto tráfico de influência do filho 04 do presidente, Jair Renan Bolsonaro - que recebeu um carro elétrico de um grupo do Espírito Santo após viabilizar aos empresários uma agenda com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

A própria saída de Maurício Valeixo da direção da PF está entre os objetos de investigação no STF. Ele chegou a ser indicado como adido em Lisboa, mas o governo segurou sua nomeação. Permaneceu no "corredor", e deve se mudar para os Estados Unidos para cursar mestrado. Igor Romário, que também conduziu a Lava Jato e tinha a confiança de Moro, e esteve na cúpula da PF até a saída de Valeixo, teve sua nomeação como adido no Canadá segurada.

DEPOIMENTO

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), recusou nesta quinta-feira o pedido da defesa do ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) para invalidar o depoimento do presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura se houve interferência política do chefe do Executivo na Polícia Federal. Moraes argumentou que o Ministério Público Federal (MPF) não viu irregularidades no procedimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Envolvida no processo de extradição do blogueiro Allan dos Santos dos Estados Unidos, Geórgia Renata Sanchez Diogo foi exonerada da chefia da Assessoria Especial Internacional do Ministério da Justiça nesta sexta-feira (3).

Ela indicou que vai assumir outro cargo na assessoria internacional e o conselheiro da Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, Lauro de Castro Beltrão Filho, vai para seu lugar.

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"No passado, também já teve diplomatas nesse cargo. Faz parte, né?", comentou ao Globo.

Prática comum

Também envolvida na extradição do bolsonarista responsável por fake news para favorecer o presidente, a delegada Silvia Amélia já havia sido exonerada da chefia da Diretoria de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça.

Na última quarta (1º), a delegada da Interpol Dominique de Castro Oliveira foi demitida da organização internacional vinculada à Polícia Federal com apenas 16 meses de atuação. Ela processou a solicitação para incluir Allan na lista vermelha da Interpol.

Ao deixar o posto, ela apontou que deve ter feito "algum comentário que contrariou" a direção da PF. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse que não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu”, descreveu na despedida.

Moro denuncia interesses pessoais

A instituição sofre recorrentes trocas de superintendentes que assumem investigações contra pessoas ligadas ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Assim ocorreu com os delegados dos inquéritos do filho Renan e do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

O controle sobre a PF motivou o pedido de demissão do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que revelou que foi impedido de investigar os filhos do presidente e que Bolsonaro usa a instituição para defender interesses pessoais.

A justiça britânica decidirá nesta segunda-feira (4) se autoriza a extradição do fundador do WikiLeaks, o polêmico Julian Assange, para os Estados Unidos, que deseja julgá-lo por acusações de espionagem, o que poderia resultar em uma pena de até 175 anos de prisão.

O australiano, de 49 anos, será informado durante um audiência na corte penal de Londres se a juíza Vanessa Baraitser considera pertinente o pedido de extradição apresentado pela justiça americana, em um caso que seus defensores consideram crucial para a liberdade de imprensa.

A decisão da juíza pode ser objeto de recurso pelas duas partes, o que poderia prolongar a saga judicial que envolve Assange desde 2010, quando o site WikiLeaks publicou centenas de milhares de documentos militares e diplomáticos confidenciais que deixaram Washington em situação difícil.

Entre os documentos estava um vídeo que mostrava helicópteros de combate americanos atirando contra civis no Iraque em 2007. O ataque matou várias pessoas em Bagdá, incluindo dois jornalistas da agência de notícias Reuters.

Antes do pronunciamento, a justiça inglesa examinou de maneira detalhada a solicitação americana para ter certeza de que não é desproporcional ou incompatível com os direitos humanos.

As audiências celebradas em setembro, após meses de atraso devido à pandemia de coronavírus, foram marcadas por protestos na porta do tribunal, onde partidários do australiano exibiram cartazes com frases como "Prendam os criminosos de guerra, libertem Julian Assange!".

Alegando o temor de que Assange, cuja saúde física e mental pareceu muito debilitada, cometa suicídio, sua companheira sentimental, Stella Moris, entregou em setembro ao gabinete do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, uma petição com 800.000 assinaturas contra a extradição.

Mantido em uma penitenciária de segurança máxima de Londres desde sua detenção em abril de 2019 na embaixada do Equador, onde permaneceu refugiado por sete anos, Assange poderia ser condenado a 175 anos de prisão caso a justiça americana o declare culpado de espionagem.

Washington alega que Assange colocou em perigo as vidas de seus informantes com a publicação dos documentos secretos sobre as ações militares americanas no Iraque e Afeganistão, que revelaram atos de tortura, mortes de civis e outros abusos.

Mas para o comitê de apoio ao australiano, estas são "acusações com motivação política que representam um ataque sem precedentes à liberdade de imprensa".

A defesa do australiano denunciou que o presidente americano Donald Trump queria transformá-lo em um castigo "exemplar" em sua "guerra contra os jornalistas investigativos" e que Assange não teria um julgamento justo nos Estados Unidos.

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão virtual, deferiu a extradição do empresário norte-americano Carlos Nataniel Wanzeler, um dos donos da empresa TelexFree. A decisão segue entendimento firmado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em diversos pareceres, elaborados a partir do pedido de Extradição 1.630, de autoria do governo dos Estados Unidos.

O pedido de extradição foi feito em abril deste ano pelos EUA, em razão do mandado de prisão expedido pelo Tribunal Federal do Estado de Massachusetts. Em fevereiro, o empresário foi preso preventivamente no Brasil. Desde março, Wanzeler tentou, por diversas vezes, revogar a prisão cautelar. Em uma das ocasiões, invocou a pandemia de covid-19. Em todos os pedidos, houve indeferimento pelo ministro relator, Ricardo Lewandowski, seguindo entendimento do Ministério Público Federal (MPF).

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No último pedido, feito em julho, a defesa do norte-americano – que chegou a ter cidadania brasileira – alegou vários motivos para que a extradição fosse rejeitada e que houvesse a substituição da prisão por outras medidas cautelares. Solicitou alternativamente o deferimento condicionado do pedido de extradição, com expressa inclusão no acórdão da necessidade de novo compromisso dos EUA no qual se assegurasse a não imposição de pena superior a 30 anos.

A defesa também pleiteou que a entrega de Wanzeler somente ocorresse após a superação do estado de calamidade pública e emergência sanitária, decorrentes da pandemia de covid-19, e depois do término dos processos em trâmite no Brasil – um relativo à perda da cidadania brasileira e outro de natureza penal. Em parecer, a PGR afirmou que o fato de o primeiro não ter transitado em julgado não impede a extradição, pois “os recursos interpostos pelo extraditando naqueles autos não possuem efeito suspensivo e a decisão administrativa que declarou a perda de sua nacionalidade brasileira continua válida e eficaz”.

O pedido de extradição não se refere aos mesmos fatos pelos quais o empresário responde a processo penal no Brasil. O caso nos Estados Unidos é sobre fraudes eletrônicas e lavagem de dinheiro supostamente operadas por Wanzeler em solo norte-americano a partir da empresa Telexfree. Já as investigações brasileiras visam apurar a gestão ilegal de instituições financeiras, comércio ilegal de valores imobiliários e crimes de estelionato praticados em solo brasileiro.

O deferimento da extradição pelo STF diz respeito apenas ao delito de fraude eletrônica, no qual se verificou o requisito da dupla tipicidade, ou seja, a correspondência entre os tipos penais previstos na legislação dos dois países. Esse tipo penal corresponde, na legislação brasileira, ao crime de estelionato.

Como condição para a extradição, a Segunda Turma estabeleceu que os Estados Unidos devam assumir, em caráter formal, perante o governo brasileiro, o compromisso de não impor, quanto a todos os delitos, pena privativa de liberdade superior a 30 anos de prisão. Também condicionou a entrega de Wanzeler à conclusão dos processos penais aos quais ele responde no Brasil ou ao cumprimento da respectiva pena privativa de liberdade.

O colegiado determinou, ainda, a necessidade de descontar da eventual pena a ser cumprida nos EUA o período em que o empresário permanecer preso no Brasil em razão da prisão cautelar para fins de extradição, ressalvada a possibilidade de execução imediata da decisão, por força de ordem discricionária do presidente da República.

Da assessoria do MPF, com informações do STF

 

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, terá de esperar até depois das eleições presidenciais dos Estados Unidos para saber se será extraditado para aquele país, que deseja julgá-lo por espionagem - informou nesta sexta-feira (25) a juíza britânica responsável pelo caso.

Assange enfrenta 18 acusações nos Estados Unidos relacionadas à publicação em 2010, por parte do WikiLeaks, de centenas de milhares de documentos confidenciais. Entre outras coisas, telegramas diplomáticos e outros documentos expunham suas ações militares no Afeganistão e Iraque, incluindo mortes de civis, tortura e outros abusos.

A Justiça britânica analisa atualmente se concede o pedido de extradição dos EUA do australiano de 49 anos, que está em uma prisão de segurança máxima desde sua detenção na embaixada do Equador em Londres, em abril de 2019.

A apresentação de provas neste julgamento, que começou em 7 de setembro, termina na próxima semana. Hoje, a juíza Vanessa Baraitser concordou em dar ao advogado de Assange mais tempo para preparar seus argumentos finais.

"Minha decisão provavelmente virá depois das eleições nos Estados Unidos", reconheceu a magistrada, dando à defesa quatro semanas para preparar seus argumentos e mais duas para os representantes legais do governo americano.

"Parece improvável que possamos obter um veredicto antes de 4 de novembro", data das eleições presidenciais dos Estados Unidos, ressaltou o advogado de Assange, Edward Fitzgerald.

Os defensores do australiano afirmam que a tentativa de extraditar e julgar seu cliente nos Estados Unidos é politicamente motivada e conduzida pelo presidente Donald Trump.

Washington afirma que Assange ajudou a analista de Inteligência Chelsea Manning a roubar os documentos confidenciais e o repreende por ter exposto os nomes de seus informantes aos olhos do mundo inteiro, colocando suas vidas em perigo.

Nos Estados Unidos, o fundador do WikiLeaks pode enfrentar uma pena máxima de 175 anos de prisão.

A Nova Zelândia suspendeu nesta terça-feira (28) o tratado de extradição com Hong Kong devido à "profunda preocupação" com a nova lei de segurança que a China impôs no território, uma medida adotada anteriormente por Canadá, Reino Unido e Austrália.

"A adoção por parte da China da nova lei sobre a segurança nacional corroeu os princípios do Estado de Direito" e "violou os compromissos da China com a comunidade internacional", declarou o ministro de Relações Exteriores da Nova Zelândia, Winston Peters.

A suspensão, que pode irritar Pequim, principal parceiro comercial de Wellington, é justificada porque "a Nova Zelândia não pode confiar mais na independência do sistema judicial de Hong Kong em relação à China", completou o ministro.

Peters disse também que a Nova Zelândia reforçará as restrições às exportações de material militar para Hong Kong e alertou os cidadãos neozelandeses que queiram visitar a antiga colônia britânica.

Três parceiros da Nova Zelândia nos serviços de inteligência "Five Eyes" (Canadá, Reino Unido, Austrália) também suspenderam seus tratados de extradição com Hong Kong, enquanto os Estados Unidos sinalizaram querer seguir os mesmos passos.

Pequim ainda não reagiu oficialmente, mas a diplomacia chinesa alertou que as pressões contra a China em relação à lei de segurança é uma "ingerência grosseira nos assuntos internos" do gigante asiático.

Os detratores do governo chinês denunciam que a lei de segurança coíbe as liberdades civis e os direitos humanos em Hong Kong.

A China anunciou, nesta terça-feira (28), a suspensão de acordos de extradição entre Hong Kong e três países ocidentais (Canadá, Austrália e Reino Unido), os quais criticaram a aplicação por parte de Pequim de uma lei de segurança no território semiautônomo.

Esses três países já haviam suspendido esses acordos, unilateralmente, em protesto contra a nova legislação em vigor desde 30 de junho na ex-colônia britânica.

"Essas ações equivocadas (...) prejudicaram gravemente as bases da cooperação judiciária", disse o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin, à imprensa.

"A China decidiu suspender os tratados de extradição entre Hong Kong e Canadá, Austrália e Reino Unido, assim como os acordos de cooperação em questões de justiça criminal", enfatizou.

Vários países ocidentais, com os Estados Unidos à frente, pediram à China que recuasse em relação à lei de segurança nacional em Hong Kong.

Essa nova lei faz a oposição democrata local temer um retrocesso grave das liberdades em vigor nesse território de 7,5 milhões de habitantes, devolvido pelo Reino Unido à China em 1997.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou nesta segunda-feira (20) que o governo britânico vai alterar o tratado de extradição entre Reino Unido e Hong Kong por tempo indefinido. A iniciativa acontece em um momento de crescentes preocupações com uma nova lei de segurança nacional imposta por Pequim à ex-colônia britânica.

"Obviamente, temos preocupações sobre o que está acontecendo em Hong Kong", disse Johnson em entrevista à ITV News. O ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, justificou a decisão alegando que a lei de segurança imposta em Hong Kong "mudou consideravelmente" a maneira como seu sistema judicial funciona. "É uma violação clara e séria do tratado que organizou o retorno de Hong Kong a Pequim em 1997", disse Raab.

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Segundo o chefe da diplomacia britânica, com a nova legislação, a China pode reivindicar "jurisdição sobre certos assuntos", que seriam então "apresentados aos tribunais chineses", o que contraria o acordo entre os dois países.

Raab também anunciou que o Reino Unido decidiu estender a Hong Kong o embargo de armas aplicado à China desde 1989. "A extensão deste embargo significa que não haverá mais exportação de armas potencialmente letais, seus componentes ou munições", explicou o ministro.

A decisão é tomada em meio a desacordos entre Londres e Pequim sobre variados temas, incluindo a decisão da Grã-Bretanha de barrar a gigante tecnológica chinesa Huawei de suas redes sem fio 5G e a crescente insatisfação pública na Grã-Bretanha pelo tratamento da minoria uigur em Xinjiang, uma região autônoma no território da China.

No domingo, 19, o embaixador chinês na Grã-Bretanha, Liu Xiaoming, foi entrevistado na BBC e foi confrontado com imagens que mostrariam uigures com os olhos vendados sendo forçados a entrar em trens. "Não existem campos de concentração em Xinjiang", disse. "Há muitas acusações falsas contra a China."

A iniciativa de Johnson teve apoio até da oposição. Keir Starmer, líder do partido trabalhista britânico, disse ontem que suspender o tratado de extradição foi um "passo na direção certa", mas acrescentou que o governo deve impor barreiras a autoridades chinesas envolvidas em violações de direitos humanos. "Algumas das ações do governo (chinês) são profundamente preocupantes e não podemos fechar os olhos", disse Starmer, em um vídeo postado em sua conta no Twitter.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, irá à Grã-Bretanha nesta semana para uma visita de dois dias, com a China e Hong Kong sendo um dos temas críticos do encontro com o governo local.

Britânicos mantinham um tratado de extradição com Hong Kong há décadas. Sob essa regra, as autoridades de Hong Kong poderiam pedir à Grã-Bretanha que extraditasse qualquer pessoa acusada de um crime e vice-versa. No entanto, a nova lei de segurança nacional que Pequim impôs a Hong Kong neste mês despertou preocupações crescentes de que a regra permita que extraditados pela Grã-Bretanha enfrentem punições excessivas. O Canadá e a Austrália já suspenderam tratados semelhantes.

Os residentes de Hong Kong desfrutavam de relativa liberdade de expressão sob a estrutura de "um país, dois sistemas" de Pequim. Agora, porém, a população de 7,5 milhões está sujeita às mesmas restrições que os chineses - qualquer um que seja considerado culpado de subversão pode enfrentar prisão perpétua.

O governo de Johnson já disse que ofereceria direitos de residência e um oportunidade para a cidadania britânica para até três milhões de cidadãos de Hong Kong. A China condenou a medida, com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, dizendo à Grã-Bretanha para "parar de interferir nos assuntos de Hong Kong e nos assuntos internos da China".

Há alguns anos, Londres e Pequim mantinham laços cada vez mais próximos, com muitos britânicos olhando para o comércio com a China como parte essencial do aspecto econômico pós-Brexit. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Promotoria de Tóquio anunciou, nesta quinta-feira (21), que prepara um pedido oficial de extradição para dois homens detidos no dia anterior nos Estados Unidos, suspeitos de terem ajudado o ex-presidente da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, a fugir da Justiça no final de 2019.

"Estamos nos preparando para solicitar rapidamente sua extradição", afirmou a Promotoria de Tóquio em comunicado.

Michael Taylor, de 59 anos, ex-membro das forças especiais americanas, que passou a trabalhar como segurança particular, e seu filho Peter Taylor, de 27 anos, foram presos na madrugada de ontem em Harvard (Massachusetts), segundo a Justiça americana.

À tarde, usando o uniforme prisional laranja e com máscaras para se protegerem do coronavírus, eles se apresentaram por videoconferência a um juiz federal de Boston, que explicou as etapas do processo.

Ambos apresentam "grande risco de fuga" e devem permanecer detidos até o pedido formal de extradição do Japão, consideraram os promotores em documentos judiciais do tribunal distrital de Massachusetts.

Peter Taylor estava se preparando para partir para o Líbano, onde Ghosn se refugiou. Os Estados Unidos e o Japão têm um tratado de extradição, diferentemente do Líbano.

Os dois homens, assim como o libanês George-Antoine Zayek, são acusados pelo Japão de ter ajudado o magnata a escapar da Justiça japonesa durante uma fuga na noite de 29 de dezembro de 2019.

O advogado de defesa de Taylor, Paul Kelly, afirmou que o caso "não foi tão direto quanto parece" e que havia "outros" processos judiciais em um país que não era o Japão nem os Estados Unidos, sem dar mais detalhes.

Espera-se uma audiência para os próximos dias ou semanas. "O status quo por enquanto será a prisão" de ambos, informou o juiz Donald Cabell.

Entre as acusações de peculato financeiro, Ghosn foi libertado sob fiança e cumpria prisão domiciliar. Entre julho e dezembro de 2019, Peter Taylor fez várias viagens ao Japão e encontrou Ghosn pelo menos sete vezes, dizem os promotores.

Segundo os promotores, os Taylors e o libanês George-Antoine Zayek ajudaram Ghosn a se esconder dentro de uma grande caixa semelhante as usadas para transportar equipamentos musicais, que eles carregaram para um jato particular.

O controle de bagagem não era obrigatório naquele momento para esse tipo de aeronave.

- Fuga "descarada" -

Ghosn, que liderou a Nissan por quase duas décadas antes de sua prisão em 2018, estava sob fiança aguardando julgamento por supostos crimes financeiros quando escapou ousadamente do Japão.

As caixas que Taylor e Zayek supostamente usaram para transportar discretamente Ghosn em sua fuga no estilo "Houdini" foram encontradas num quarto de hotel.

"Não há imagens de Ghosn saindo do quarto 4609", diz a defesa, apresentando evidências de câmeras de segurança.

"Ghosn estava escondido em uma das duas grandes caixas pretas carregadas por Michael Taylor e Zayek", observou acusação.

Os dois homens embarcaram em um jato particular com as caixas e partiram para a Turquia, segundo documentos do tribunal.

"Dois dias depois, em 31 de dezembro de 2019, Ghosn anunciou publicamente que estava no Líbano", acrescentaram os promotores.

As autoridades japonesas observaram no início deste ano que não há evidências de que Ghosn tenha deixado o país.

"A conspiração para remover Ghosn do Japão foi um dos atos de fuga mais flagrantes e bem orquestrados da história recente, envolvendo um número estonteante de encontros em hotéis, viagens de trem-bala, personagens falsos e o aluguel de um avião particular", destacaram os promotores.

Em fevereiro, a Nissan entrou com uma ação civil para reivindicar cerca de 90 milhões de dólares de Ghosn pelo que chamou de "anos de má conduta e atividade fraudulenta".

A Justiça britânica decidiu nesta segunda-feira (27) adiar a análise do pedido de extradição apresentado pelos Estados Unidos contra o fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange - detido na região de Londres -, e que pode acontecer apenas em novembro.

Após uma primeira semana de audiências judiciais em fevereiro, os tribunais britânicos suspenderam o julgamento sobre a extradição até 18 de maio.

Em uma audiência de procedimento celebrada nesta segunda-feira em Londres, a juíza Vanessa Baraitser aceitou, porém, o pedido de mais tempo apresentado pela defesa do australiano.

A nova data será anunciada em 4 de maio, mas a juíza advertiu que o processo pode não acontecer até novembro, pela pouca disponibilidade para três semanas consecutivas, tempo previsto para o julgamento.

A Justiça americana deseja julgar Assange por espionagem, devido à publicação a partir de 2010 de quase 700.000 documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas dos Estados Unidos, especialmente no Iraque e no Afeganistão.

O australiano, que não compareceu à audiência desta segunda-feira, permanece detido na penitenciária de segurança máxima de Belmarsh, perto de Londres.

"Com a epidemia de coronavírus, não é possível preparar este caso", afirmou o advogado Edward Fitzgerald, antes de destacar que não tem acesso direto a seu cliente há mais de um mês.

O governo dos Estados Unidos acusa o fundador do WikiLeaks de ter colocado em perigo as fontes de seus serviços secretos. Os advogados de Assange denunciam um processo político baseado em "mentiras".

Assange foi detido em abril de 2019, depois de passar sete anos na embaixada do Equador em Londres. Violando as condições de sua liberdade condicional no Reino Unido, ele se refugiou na missão diplomática por temer uma extradição para a Suécia e, deste país, para os Estados Unidos.

O espanhol de extrema direita Carlos García Juliá, um dos autores do massacre de Atocha, um atentado cometido em Madri em 1977, chegou nesta sexta-feira (7) à Espanha, após ser extraditado pelo Brasil.

García Juliá passou 25 anos como foragido da Justiça.

"Na manhã de hoje, o voo que transportava o foragido e os agentes encarregados de sua custódia aterrissou no aeroporto Madri-Barajas Adolfo Suárez", afirmou em um comunicado a Polícia Nacional espanhola.

Na sequência, García Juliá deu entrada no presídio Soto del Real da capital espanhola.

"Chegou no início da manhã a Soto del Real, o centro penitenciário Madrid 5, na província de Madri", disse à AFP uma porta-voz das Instituições Penitenciárias.

Em 1980, o extremista de direita foi condenado a 193 anos de prisão por matar a tiros três advogados, um estudante de direito e um funcionário em um escritório da rua Atocha, de Madri. O atentado aconteceu em plena transição espanhola, após a morte do ditador Francisco Franco, e abalou o país.

"Há 43 anos, matou cinco pessoas no atentado de Atocha. Uma massacre que não pôde conter o desejo de liberdade de toda uma sociedade. Hoje, a Democracia e a Justiça voltam a triunfar. Hoje, chega a Madri um de seus assassinos, Carlos García Juliá, após ser extraditado pelo Brasil", comemorou no Twitter o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez.

García Juliá decolou na quinta-feira à noite do aeroporto de Guarulhos de São Paulo, onde foi entregue aos agentes da Polícia Nacional espanhola.

As imagens captadas no aeroporto mostram García Juliá sorridente, cercado de agentes, à espera do furgão que o levaria para o avião.

Em 1991, García Juliá recebeu liberdade condicional e permissão para aceitar um trabalho no Paraguai, mas não cumpriu a obrigação de se apresentar todo o mês na embaixada da Espanha no país sul-americano e fugiu.

Depois, em 1996, foi detido na Bolívia, julgado por tráfico de drogas e condenado a seis anos de prisão. Fugiu, aproveitando-se de uma permissão penitenciária e ficou 20 anos desaparecido até sua detenção em dezembro de 2018, em São Paulo. García Juliá ganhava a vida como motorista de Uber e usava uma identidade venezuelana falsa, chamando-se Genaro Antonio Materán Flores.

Segundo um comunicado da Polícia Nacional espanhola, "o procedimento (de extradição) foi estendido por 13 meses pelos sucessivos recursos e apelações que a defensa foi exercendo diante das autoridades judiciais brasileiras, alegando a prescrição do delito, erros na dupla incriminação e o tempo de cumprimento de prisão na Bolívia".

Em agosto passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro autorizou a extradição e, no início de janeiro, o Brasil notificou a Espanha. Lá, García Juliá deve cumprir os dez anos de prisão que faltam.

"Não há lugar, ou abrigo, para terroristas no Brasil", tuitou à noite o ministro da Justiça, Sergio Moro.

As autoridades paraguaias entregaram na noite desta sexta-feira (24) o brasileiro Luiz Henrique Boscatto, acusado de liderar uma organização criminosa de contrabando de cigarros. A Polícia Federal recebeu o brasileiro extraditado na Ponte Internacional da Amizade, na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná.

Boscatto foi um dos principais alvos da Operação Contorno Norte, deflagrada em Maringá (PR) em junho do ano passado. A operação prendeu 16 pessoas envolvidas em esquema especializado de contrabando de cigarros paraguaios, que eram investigadas desde 2016.

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Os investigadores chegaram ao grupo após uma carreta carregada com cigarros contrabandeados colidir com um veículo no Contorno Norte de Maringá e resultar na morte de uma pessoa.

A organização fazia o transporte dos cigarros vindos de Salto Del Guairá, no Paraguai, por meio de uma rede de funcionários, olheiros, barqueiros, carregadores e motoristas. Em três anos de investigação, a polícia prendeu 204 membros do grupo e apreendeu cerca de 105 mil caixas de cigarros avaliados em R$ 250 milhões pela Receita Federal.

Boscatto também estava envolvido em outras operações da Polícia Federal e tinha mandado de prisão aberto contra ele no Brasil. Ele estava preso no Paraguai desde março de 2019, quando foi detido no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi do Paraguai, na capital, Assunção.

A prisão ocorreu com apoio da Interpol e da Direção Geral de Migração do aeroporto. Boscatto foi detido quando tentava ingressar no país vizinho.

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou nesta quarta-feira à noite que vai retirar definitivamente o polêmico projeto de lei sobre as extradições para a China, uma grande concessão aos manifestantes pró-democracia.

"O governo retirará oficialmente o projeto de lei para apaziguar por completo as preocupações da população", declarou Lam em um vídeo divulgado pelo governo.

Esse texto polêmico, que autorizava as extradições para a China continental, foi o que provocou a crise política que abala a ex-colônia britânica há três meses, a mais grave desde a sua devolução à China em 1997.

Após as primeiras manifestações em massa, Lam anunciou a suspensão do projeto em meados de junho. Os manifestantes, temendo o seu retorno, continuaram exigindo nas ruas sua retirada oficial e definitiva.

Ao longo das semanas, os manifestantes estenderam suas reivindicações para denunciar um retrocesso nas liberdades e a crescente interferência da China na região semi-autônoma.

O movimento de contestação mantém ações quase diárias, várias das quais terminaram em confronto.

A possibilidade de Lam e Pequim estarem dispostos a fazer concessões, depois de meses de pouca flexibilidade, foi anunciada nesta quarta-feira ao meio-dia por vários meios de comunicação de Hong Kong e, em seguida, confirmada por um deputado que havia se encontrado com a chefe do Executivo.

- "Não é o suficiente, tarde demais" -

Essas informações, e a esperança de apaziguamento da crise, aqueceram o mercado financeiro. A bolsa de Hong Kong fechou com alta de quase 4%, depois de ter perdido mais de 10% desde o início dos protestos.

As ações da companhia aérea Cathay Pacific, à qual Pequim deu um alerta devido ao apoio de certos funcionários ao movimento, subiram 7,21%.

Mas não é certo que essa concessão seja suficiente para acalmar os manifestantes, que exigem mais mudanças.

"Não é o suficiente, tarde demais", declarou Joshua Wong, que em 2014 foi o rosto visível do "Movimento dos Guardas-chuva" e que foi preso brevemente na semana passada, durante uma ação contra as principais figuras da atual mobilização.

"Também pedimos ao mundo que esteja atento a essa tática e que não seja enganado por Hong Kong e pelo governo chinês. Na realidade, eles não cederam em nada, e preparam uma repressão em larga escala", acrescentou.

Nos diferentes fóruns na internet usados pelo movimento pró-democracia também apareceram comentários indicando que isso não significaria o fim dos protestos.

"Mais de mil pessoas foram presas, um número incalculável de feridos", indicava uma mensagem amplamente divulgada no aplicativo de mensagens Telegram.

"Cinco exigências principais, nenhuma a menos. Libertem HK [Hong Kong], revolução agora", acrescentava.

Os manifestantes continuam a exigir a introdução do sufrágio universal ou a abertura de uma investigação independente sobre o uso da força pela polícia de Hong Kong.

Por outro lado, Pequim mostrou na terça-feira que quer acalmar a situação. O porta-voz do escritório de negócios de Hong Kong e Macau, Yang Guang, disse que os habitantes da ilha, "incluindo jovens estudantes", têm o direito de se manifestar "pacificamente".

Durante os últimos três meses, Lam adotou um tom provocativo, dando a impressão de não pretendia fazer concessões.

Na terça-feira, durante coletiva de imprensa, afirmou que não pretendia renunciar, depois que uma gravação de áudio vazou.

Nela, Lam diz que queria deixar seu posto e que só tinha um espaço de manobra "muito limitado" para resolver a crise.

O chileno Maurício Hernández Norambuena, preso desde 2002 por liderar o sequestro do publicitário Washington Olivetto, foi extraditado na madrugada desta terça, 20, para o Chile. O ex-guerrilheiro de 61 anos chegou ao país por volta das 5h da manhã em um voo da Força Aérea chilena e foi transferido para a prisão de segurança máxima de Santiago.

A informação da extradição de Norambuena foi divulgada pelo ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro no Twitter.

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Pena

O Ministério da Justiça e da Segurança Pública informou ter recebido um compromisso formal do governo do Chile de que o preso não será submetido às penas de morte ou de prisão perpétua.

O ministro da Justiça do Chile, Hernán Larraín, confirmou o acordo e disse que o preso "cumprirá a pena determinada internacionalmente". A defesa de Norambuena argumenta que não teve acesso aos termos do acordo com o país andino e tenta desde domingo impedir a extradição, por meio de um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). O relator é o ministro Celso de Mello. No pedido, assinado pela advogada Sabrina Diniz Bittencourt Nepomuceno, argumenta-se que as condicionantes impostas pelo STF em 2004, quando a extradição foi autorizada, não estariam sendo cumpridas.

No Brasil, Norambuena foi condenado à pena máxima de 30 anos pelo sequestro do publicitário. Ele já cumpriu 16 anos, a maior parte em isolamento, passando por cinco presídios federais. Em abril deste ano, foi transferido pela primeira vez para um presídio comum, e cumpria a pena na Penitenciária de Avaré, no interior de São Paulo.

No sábado, foi levado à carceragem da Polícia Federal de São Paulo, procedimento comum que antecede as extradições. Segundo o HC enviado ao Supremo, os federais dão conta de que a extradição se dará até quinta-feira desta semana.

No Chile, porém, Norambuena é condenado como terrorista a duas penas de prisão perpétua. Ele integrou o movimento de esquerda Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR), onde era conhecido como "comandante Ramiro", e é acusado de, em 1991, ter participado do assassinato de Jaime Guzmán, senador próximo do ditador Augusto Pinochet, e também de participar do sequestro do herdeiro do grupo de mídia El Mercúrio, Cristián Edwards.

Condições

Em 2004, quando analisou a possibilidade de extradição, o Supremo autorizou a ida de Norambuena de volta ao Chile, mas desde que houvesse a comutação das penas perpétuas em uma máxima de 30 anos de prisão, seguindo a Constituição brasileira. Um acordo para a troca das penas nunca chegou a ser oficializado.

De acordo com a advogada de Norambuena, a Constituição chilena não autoriza indultos penais a condenados por terrorismo, o que impediria a redução da pena. Entretanto, agora o ministério liderado por Sérgio Moro informou, por nota, que "houve um comprometimento formal do governo do Chile com a não execução de penas não previstas na Constituição brasileira", dentre elas "prisão perpétua e pena de morte" - o que liberaria a transferência.

Na segunda-feira, 19, o site do jornal El Mercúrio trouxe declaração do presidente da Suprema Corte chilena, Haroldo Brito, em que ele dizia que as negociações não envolveram o Judiciário chileno. "O que eu sei é o que eles estão ouvindo agora; a decisão dos governos parece ser claramente no sentido de fazer cumprir a responsabilidade criminal já declarada do senhor Hernández Norambuena", o que o jornal informou entender como indicativo de que Norambuena teria de cumprir as duas perpétuas.

Sabrina Nepomuceno alega que o compromisso que, segundo o Ministério da Justiça e da Segurança Pública foi assumido pelo governo do Chile, não contém os mesmos termos estabelecidos pelo STF. "Para haver a extradição, o Chile teria de se comprometer a converter as duas penas perpétuas em uma prisão máxima de 30 anos, e contar para o cumprimento os 16 anos em que ele já esteve preso." Ou seja, o compromisso deveria ser de que o condenado fosse liberado em, no máximo, 14 anos.

Em julho, a defesa de Norambuena já havia ingressado com habeas corpus para reverter a extradição. O pedido foi distribuído ao ministro Ricardo Lewandowski, que negou seguimento. Um recurso, agravo regimental, estava à espera de decisão desde o dia 2 de agosto. (Bruno Ribeiro e Felipe Resk)

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