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Após um primeiro anúncio composto apenas por homens, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva prepara a divulgação dos nomes de cinco mulheres para comandar pastas relevantes, também, do ponto de vista orçamentário. A previsão é de que a lista inclua os ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Social que, juntos, têm R$ 509 bilhões de orçamento previsto para 2023 e estão entre os órgãos responsáveis pelo maior volume de recursos - atrás apenas do Trabalho e Previdência, que gere as aposentadorias e benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Há a expectativa de que o segundo anúncio ocorra entre hoje - após a diplomação de Lula e do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - e amanhã. Na tarde de ontem, o petista reuniu aliados em Brasília para tratar da formação do governo com indicados na semana passada, como Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil).

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De acordo com interlocutores de Lula, o próximo anúncio está reservado às mulheres. As definições ainda ocorrem em meio a uma pressão dos petistas por mais espaço na equipe ministerial, especialmente em pastas com maior orçamento e programas estratégicos, mas, por enquanto, os nomes ventilados contemplam mais os partidos aliados do que o PT.

Aliados esperam para esta semana a confirmação da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que passou de adversária a aliada na campanha, para o comando da pasta de Desenvolvimento Social. O ministério é o responsável pela formulação de políticas destinadas à população mais carente e pela gestão do Bolsa Família, atual Auxílio Brasil.

Durante a campanha, Simone foi firme na defesa de programas robustos de transferência de renda e chegou a negociar com Lula a adesão do petista a uma de suas promessas de campanha: a criação de uma espécie de bolsa destinada a estudantes do Ensino Médio. A senadora também reivindica uma ação federal que reduza as filas na saúde.

Nessa área, a presidente da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, é a mais cotada. Nome fundamental para a vacinação contra covid-19 no Brasil, a socióloga e pesquisadora pode ser a primeira ministra da Saúde da história do País - ela já participa do processo de transição.

Escolha dada como certa nos bastidores - Nísia já não tem concorrentes para a vaga, segundo interlocutores do futuro governo -, ela deve assumir com a missão de comandar uma campanha nacional de imunização contra várias doenças em janeiro, segundo já afirmou Alckmin.

REPRESENTATIVIDADE

Na Cultura, o convite foi feito à cantora Margareth Menezes que, se aceitar, será a primeira mulher negra a compor o terceiro governo Lula. O mesmo ineditismo vale para o provável anúncio do nome da indígena Sônia Guajajara, deputada federal eleita (PSOL-SP). Ela deve comandar políticas voltadas aos Povos Originários, área que pode virar uma secretaria vinculada diretamente à Presidência da República ou mesmo um novo ministério - uma promessa de Lula na campanha.

Na Educação, a disputa deve ser vencida pela governadora do Ceará, Izolda Cela (sem partido), apesar da pressão contrária do PT. Considerada uma das responsáveis pela evolução da educação pública em seu Estado, a professora que deixou o PDT neste ano para apoiar Lula tem como concorrente ao cargo o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), líder do partido na Câmara.

Aliados de Lula no Ceará argumentam que Izolda "perdeu muito" ao apoiar o petista, como uma amizade de anos com Ciro Gomes, presidenciável derrotado do PDT, e cobram sua nomeação.

Os petistas ainda concorrem pelo comando do Ministério de Desenvolvimento Social, que estaria reservado a Simone Tebet. O nome indicado pelo PT é o da ex-ministra Tereza Campello, que trabalhou com Dilma Rousseff.

O jurista Silvio Almeida é um dos cotados para assumir o Ministério dos Direitos Humanos. A estrutura atual deve ser dividida em duas, com as áreas de Mulheres, Juventude e Igualdade Racial podendo ficar em uma pasta separada.

O procurador Jorge Messias, conhecido como "Bessias" após ter sido citado pela ex-presidente Dilma em um telefonema para Lula no auge da Lava Jato, em 2016, deve comandar a Advocacia-Geral da União (AGU).

O futuro ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pretende realizar uma reunião no próximo domingo, 11, em Brasília, para definir o organograma de ministérios de sua nova gestão. Lula anunciou as indicações para os ministérios da Fazenda, Justiça, Casa Civil, Relações Exteriores e Defesa nesta sexta-feira, 9. Costa apontou que na terça-feira, 9, novos nomes devem ser indicados.

"Domingo o presidente está marcando uma reunião para bater o martelo sobre o organograma final de como ficarão os ministérios", disse o atual governador da Bahia. "O presidente disse que, em linhas gerais, voltará com o organograma do Lula 2, vamos chamar assim, do segundo mandato. Aquele é o organograma básico que ele tem em sua mente. Os ajustes ele vai definir no domingo."

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"A Casa Civil trabalhará de forma permanente e articulada ao lado e com cada ministério para alcançar o programa de governo do presidente Lula. É uma função de gestão. Minha ida para Casa Civil é para ajudar o presidente na gestão, não farei articulação política. O presidente ainda irá nomear quem o fará", disse. Rui Costa afirmou que ainda não há reunião agendada, mas buscará o atual ministro da Casa Civil para fazer a transição.

Cargos

Rui Costa disse que os cargos de livre nomeação nos ministérios, secretarias e diretorias serão indicados pelo novo titular da pasta. "Não há determinação, não sairá lista de exoneração da Casa Civil nem do Gabinete do presidente", disse.

"Cada ministro uma vez nomeado, hoje foram cinco, vão olhar suas pastas e convidar novas pessoas para ocupar os cargos. Eventualmente, se algum ministro quiser manter, terá a liberdade de solicitar ao presidente", disse. Ele afirmou que todos devem buscar renovar o seus órgãos até o dia 1º, mas que acredita que não será possível concluir 100%.

Costa afirmou que pretende apresentar ao presidente Lula antes de divulgar os nomes que irão compor sua equipe. Em relação a outras pastas, ele explicou que o futuro ministro da Defesa, José Múcio, também indicado hoje, solicitou que adiasse a reunião com os comandantes das Forças Armadas, que estava prevista para a tarde desta sexta, 9.

PEC da Transição

Em paralelo com a composição da nova gestão petista, a equipe de Lula articula a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição que garante recursos para pagamentos de benefícios sociais, como o Bolsa Família. "Todo mundo vai trabalhar para o convencimento e a votação como o projeto saiu do Senado."

Com o resultado das eleições no domingo (30), os nomes cotados para ocupar os ministérios do terceiro governo Lula (PT) já estão sendo especulados. Entre as novidades, o petista deve recriar os ministérios do Planejamento e da Indústria, extintas pelo governo Jair Bolsonaro (PL) e incorporadas ao Ministério da Economia sob o comando de Paulo Guedes. 

De acordo com o cientista político da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a indicação de Lula para que a condução do período de transição de governo iniciada nesta quinta-feira (3), fosse liderada por Alckmin, é de que o governo será composto por uma frente ampla, com a “reconstrução da frente democrática”.

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“Ele poderia ter colocado um petista ali, um Aloizio Mercadante, alguém que já integrou o governo petista, mas isso daria uma característica de governo petista. Talvez o que o Lula esteja querendo imprimir, a partir de 2023, um governo com uma característica de frente ampla: mais aberto à negociação com outros partidos”, disse. 

Ele citou os nomes do deputado federal Randolfe Rodrigues, de Marina Silva e da senadora Simone Tebet, que estão ao lado do petista e compõem outros partidos. 

“A especulação, inclusive, é que a vitória do Lula se deve basicamente a ela [Tebet] por conta dos votos do primeiro turno que migraram para ele. Também tem o próprio MDB que devemos ver como vai ser comportar, o PSD. Então, é possível que seja essa a nova caractertística”, afirmou o cientista político, ao mencionar a possibilidade da instauração de uma frente ampla no governo Lula. 

Novos ministérios

Com relação ao Ministério dos Povos Originários, o cientista político salientou o alto poder simbólico da sua criação, e também comentou sobre a recriação do Ministério da Cultura a partir do ganho para a sociedade. “Os custos desses ministérios não são tão altos se você comparar ao Ministério da Educação, por exemplo. Então, se você tem um Ministério de baixo custo com alto poder simbólico, o que traz ganhos para a sociedade que passou por um período de desmanche da máquina pública no sentido das pastas existirem mas atuarem com perseguições para atender a interesses particulares e privados”, evidenciou.  

O especialista explicou que o aumento da quantidade de ministérios não implica necessariamente nos custos do governo para 2023. “O orçamento do próximo ano já está sendo votado e tem uma previsão que não dá para mexer muito, um bom exemplo disso é a política para ação social como o bolsa família que Lula está tentando implementar. Já vislumbrando uma saída, eles querem fazer uma PEC ou alguma outra medida econômica para compensar o orçamento que já está montado”.

Ele detalhou que a verba do Executivo destinada aos ministérios pode ser repartida para uma quantidade maior de pastas, mas destacou que o orçamento para o segundo ano de governo será diferente. “Quando a gente olhar para 2024, o governo do PT já vai mandar o seu projeto de gastos para aquele ano, e é possível que faça uma previsão maior em função dos ministérios”, afirmou Paranhos. 

Ranulfo Paranhos também fez questão de observar o índice de coalescência na composição dos ministérios, que é caracterizado pelo espaço que os partidos com maior predominância na Câmara dos Deputados recebem. “Quanto mais cadeiras tiver um partido na Câmara dos Deputados, maior será o espaço dele dentro da coalizão do governo, e isso tende a funcionar. O governo Lula meio que atendeu à expectativa desse indicador de coalescência: partidos maiores tinham mais ministérios, e menores, menos ministérios”. 

Para Ranulfo Paranhos, não deve haver espaço para muitas críticas em 2023. “O governo vai tentar recuperar uma parte dessa imagem de preocupado com a economia, mas preocupado, também, com cultura, com questões sociais, com o meio ambiente, para dar esse aspecto mais republicano”, comentou.

Cotação para os ministérios

Uma semana antes do segundo turno, Lula defendeu a recriação do Ministério da Cultura, que foi transformado em Secretaria Especial pelo governo Bolsonaro, em 2019. O petista assegurou que já teria um nome em mente “do ministro ou da ministra da Cultura” para ocupar a pasta. 

Ainda na campanha para o segundo turno, Lula também chegou a mencionar a criação do Ministério da Igualdade Racial e o Ministério dos povos originários. “Esse País terá um ministro indígena”, afirmou. 

O futuro Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão deve cuidar da elaboração do orçamento, reforma administrativa, que envolve o funcionalismo público e também deve acompanhar de perto um plano de obras inspirado no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), marca histórica do petista. 

Os nomes cotados para ocupar a pasta são os do ex-governador do Piauí, Wellington Dias, e do governador da Bahia, Rui Costa. Já para ocupar o Ministério da Fazenda, a aposta é entre o atual secretário de Fazenda de São Paulo, Felipe Salto.

Já o nome de Aloizio Mercadante, que coordenou a campanha de Lula à Presidência, é considerado para o Ministério do Planejamento, que tem um histórico de perfil menos fiscalista e, por isso, acaba não tendo atritos com o Ministério da Fazenda.

A ex-ministra do Planejamento, Miriam Belchior, é uma grande aposta para ocupar um cargo no comando do programa de obras de infraestrutura. O Ministério da Indústria, Comércio, Comércio Exterior e Serviços também deverá ser recriado. Ele possivelmente será comandado por alguém do PSB, partido do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, com o nome de Mário França sendo cogitado para o comando.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou na manhã desta quarta-feira, 12, durante ato de campanha no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, que, caso eleito, vai criar o Ministério da Igualdade Racial e o Ministério dos Povos Originários. O candidato do PT à Presidência da República voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e a pedir que os nordestinos não votem no atual mandatário.

"Quero voltar à Presidência pra mostrar à elite que de novo um metalúrgico vai consertar esse país. A gente vai criar o Ministério da Igualdade Racial e o Ministério dos Povos Originários. Esse país terá um ministro indígena", disse.

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Lula participa nesta quarta-feira de uma caminhada no complexo de favelas da capital fluminense ao lado do prefeito Eduardo Paes (PT), dos candidatos derrotados ao governo do Estado, Marcelo Freixo (PSB), e ao Senado, André Ceciliano (PT) e Alessandro Molon (PSB), entre outros apoiadores.

Durante visita ao Recife, a candidata Simone Tebet (MDB) disse, nesta quarta-feira (14), que seu eventual governo será representado por diversidade, como uma forma de aproximar o povo do Executivo nacional. Ela prometeu paridade de gênero e participação de pessoas negras em seus Ministérios.

A parlamentar frisou que sua gestão vai ter 'a cara do Brasil' e, para isso, vai oferecer metade dos Ministérios para mulheres, com a inclusão de pessoas negras entre seus líderes. "A primeira medida que nós já anunciamos é que nosso ministério vai ser paritário: metade homens, metade mulheres e terá negros, porque essa é a cara do Brasil", pontuou.

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Embora seja a mulher mais bem avaliada na disputa, Simone está longe de alcançar o segundo turno, apontam as pesquisas. Questionada sobre seu apoio após uma eventual derrota no primeiro embate, a candidata mostrou confiança: "vou estar no segundo turno".

Para ela, o 'centro democrático' mostrou que pode ter uma candidatura própria e que a pressão pelo 'voto útil', defendido por militantes de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), representa um desrespeito ao eleitor. "Eu acho um desrespeito com o cidadão brasileiro a gente apostar no voto útil de 'o menos pior' no momento da maior crise do Brasil, de tantos retrocessos civilizatórios e ameaças a democracia", complementou.

Candidato à Presidência da República pelo PT, Lula esteve na noite dessa quinta-feira (18) em Belo Horizonte em comício de campanha. Em seu discurso, defendeu a criação dos ministérios da Igualdade Racial, da Pequena Empresa, além de um ministério para os povos indígenas. Ele ainda afirmou que o ministro dessa pasta será um indígena.

“A gente vai dizer para os indígenas, não vai mais ter garimpo ilegal na terra de vocês. Se preparem, indígenas do Brasil, porque eu vou criar o Ministério dos Povos Originários. E um indígena, ou uma indígena, será ministro nesse país. Se preparem, porque a Funai [Fundação Nacional do Índio] não será mais dirigida por um branco dos olhos verdes. Será dirigida por uma mulher ou um homem indígena”, disse Lula.

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O candidato do PT à Presidência da República também disse que pretende “reconstruir” outros ministério caos seja eleito.

“Se preparem que a gente vai reconstruir o Ministério da Igualdade Racial. A gente vai reconstruir o Ministério da Mulher, o Ministério da Pequena Empresa. Se preparem mais, porque mais coisa vai acontecer neste país”. 

O ex-presidente, que tenta voltar ao Palácio do Planalto após 12 anos, também afastou qualquer possibilidade de privatizar bancos públicos, os Correios e a Petrobras.

Privatização

“Nós vamos recuperar a indústria brasileira e a Petrobras não será privatizada. O Banco do Brasil não será privatizado, a Caixa Econômica não será privatizada, o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] não será privatizado. Esses bancos públicos estarão a serviço do desenvolvimento desse país. E os Correios também não serão privatizados. Esse país tem que voltar para as mãos de homens e mulheres que sabem construir”.

Lula falou por cerca de 20 minutos na capital mineira, exaltou os feitos do seu governo, como a queda da inflação, o pagamento da dívida externa, além de investimentos na educação, como a criação de escolas técnicas. “Para nós, investir em educação, no ensino médio, não é gasto, é investimento. É lucro para este país, que cuida da sua juventude. É por isso que eu estou voltando”.

O comício foi realizado na Praça Estação, em Belo Horizonte. Estavam no palanque, além de Lula, o candidato a vice-presidente da chapa do petista, Geraldo Alckmin (PDB), o candidato ao governo de Minas Gerais, Alexandre Kalil (PSD), o candidato a vice-governador de Minas Gerais, André Quintão (PT); o senador Alexandre Silveira (PSD); e o deputado federal André Janones (Avante). Esse foi o primeiro comício de Lula desde o início oficial das campanhas eleitorais paras as eleições de 2022.

Nesta sexta-feira (19), Lula não tem nenhum evento público de campanha. Ele vai fazer gravações para o seu programa eleitoral em São Paulo. A campanha eleitoral de rádio e TV começa no dia 26 deste mês e vai até 29 de setembro.

Recriado no fim de julho do ano passado, o Ministério do Trabalho e Previdência foi o principal atingido em termos nominais pelos vetos do presidente Jair Bolsonaro no Orçamento de 2022. A pasta levou uma tesourada de R$ 1,005 bilhão do total de R$ 3,184 bilhões cortados do texto aprovado pelo Congresso. O valor corresponde ainda a quase um terço dos gastos discricionários que o ministro Onyx Lorenzoni teria para este ano, restando R$ 2,035 bilhões. Dentro do ministério, o INSS foi a unidade mais afetada, com a perda de R$ 988 milhões que seriam usados na administração, gestão e processamento de dados.

Detentor de um dos maiores orçamentos anuais, o Ministério da Educação aparece na sequência com vetos de Bolsonaro que somam R$ 802,629 milhões. Somente o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) perdeu R$ 499 milhões alocados pelos parlamentares - mais da metade do corte total. O orçamento discricionário da pasta conta ainda com R$ 23,265 bilhões.

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Os vetos para o Ministério do Desenvolvimento Regional chegam a R$ 458,709 milhões, atingindo ações de melhorias urbanas, saneamento e recuperação de bacias hidrográficas em todas as regiões do País. A implantação do Projeto Sul-Fronteira no Mato Grosso do Sul, por exemplo, perdeu R$ 122 milhões. Outros R$ 102 milhões para compra de equipamentos para o Amazonas também foram vetados. A pasta, no entanto, conta ainda com R$ 9,889 bilhões para despesas discricionárias em 2022.

O Ministério da Cidadania - responsável pelo pagamento do Auxílio Brasil - teve vetos de R$ 284,317 milhões, restando R$ 6,893 bilhões para gastos discricionários. A Secretaria Especial do Esporte foi o principal alvo, com a perda de R$ 111,998 milhões em apoios a projetos esportivos e modernização de infraestrutura. O Sistema Único de Assistência Social (Suas) teve verbas vetadas em R$ 105,110 milhões e a Rede de Suporte Social do Dependente Químico perdeu outros R$ 66,220 milhões.

Enquanto tenta emplacar o nome do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, para o governo de São Paulo, Bolsonaro também vetou R$ 177,829 milhões dessa pasta, a quinta mais atingida em termos nominais. O corte foi inteiramente concentrado em recursos para obras em rodovias realizadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A pasta conta ainda, porém, com R$ 8,203 bilhões em recursos discricionários.

Mesmo poupado em termos proporcionais no maior orçamento da Esplanada (de R$ 34,387 bilhões em despesas discricionárias), o Ministério da Saúde também foi impactado pelos vetos, com a perda de R$ 74,203 milhões. O maior corte, de R$ 40 milhões, ocorreu em ações da pasta ligadas ao saneamento básico em pequenas comunidades rurais ou comunidades tradicionais remanescentes de quilombos. Além disso, a Fundação Oswaldo Cruz perdeu uma dotação de R$ 11 milhões em pesquisa e desenvolvimento.

O Ministério das Comunicações perdeu R$ 63,547 milhões para ações de inclusão digital e para projetos de cidades conectadas. A Defesa teve vetos de R$ 62,109 milhões e a pasta da Justiça e Segurança Pública teve cortes de R$ 54,820 milhões. Completando a lista dos dez ministérios mais atingidos em termos nominais, o Meio Ambiente aparece com vetos de R$ 35,141 milhões.

A lista de vetos inclui ainda os ministérios do Turismo (R$ 34,264 milhões); Mulher, Família e Direitos Humanos (R$ 16,479 milhões); Minas e Energia (R$ 11,440 milhões); Ciência e Tecnologia (R$ 10,312 milhões); Relações Exteriores (R$ 3,571 milhões); e Economia (R$ 85,9 mil). Houve vetos ainda de recursos para a Presidência da República (R$ 1,785 milhão), Banco Central (R$ 103,1 mil) e em operações oficiais de crédito (R$ 42,9 mil).

Cinco dos sete ministérios que receberam verbas do orçamento secreto em 2021 ignoram um decreto do presidente Jair Bolsonaro (PL) que tem por objetivo dar transparência às indicações de recursos por parte de políticos. A norma foi assinada pelo presidente no dia 9 de dezembro.

Ao contrário do que determina o decreto, Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, Cidadania e Agricultura não divulgam em suas páginas na internet documentos com a comunicação entre as pastas e o relator-geral do Orçamento. É por meio destas tratativas que o Congresso aloca recursos do orçamento secreto, a pedido de políticos da base do governo.

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A falta de transparência no uso das emendas de relator-geral - a base do esquema revelado pelo Estadão - levou o Supremo Tribunal Federal a determinar, também em dezembro, a publicidade dos documentos relacionados às demandas e à execução das emendas. O decreto de Bolsonaro teve o objetivo, em tese, de cumprir a decisão do STF. Mas, mesmo nos ministérios que começaram a divulgar documentos, ainda há falta de informações detalhadas sobre quem é autor dos pedidos de repasses.

Dois dos ministérios que ignoraram o decreto de Bolsonaro estão entre os que mais receberam verbas do orçamento secreto em 2021. Em 2021, o Ministério da Saúde empenhou (reservou) R$ 7,6 bilhões em recursos das emendas de relator. Já o Ministério da Agricultura recebeu empenhos da ordem de R$ 1,1 bilhão - no ano passado, os empenhos da rubrica somaram R$ 16,7 bilhões.

Após questionamento da reportagem, a Agricultura publicou na quarta-feira um link genérico para a Plataforma +Brasil, que centraliza informações sobre convênios do governo, mas não tornou públicas as comunicações com o relator do Orçamento. "Em breve, estas informações também estarão disponíveis nesta página", diz o site da pasta. Já o Ministério da Cidadania disse ao Estadão que pretendia publicar as informações nesta semana, o que não ocorreu. Os demais ministérios não responderam.

'Organizadas'

De acordo com o decreto assinado por Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, os ministérios deveriam publicar "as solicitações que justificaram as emendas do relator-geral". Essas informações deveriam ser "organizadas de acordo com as programações orçamentárias correspondentes" e "divulgadas nos sítios eletrônicos de livre acesso dos respectivos ministérios", na forma da Lei de Acesso à Informação.

Até o momento, só as pastas da Defesa e do Desenvolvimento Regional cumpriram, em parte, o decreto. O Desenvolvimento Regional, comandado por Rogério Marinho, porém, forneceu informações de forma desorganizada, em documentos não editáveis, com e-mails repetidos e tabelas cortadas, o que, em muitos casos, inviabiliza a identificação do parlamentar responsável pelas indicações. Além disso, o MDR não deixa claro que indicações foram acatadas e resultaram no repasse de recursos.

Já a Defesa deu transparência às indicações datadas do ano de 2020, diretamente enviadas por senadores - os pedidos dos congressistas somam R$ 193 milhões. Apesar disso, a pasta não apresentou, por exemplo, os nomes "por trás" do relator-geral de 2021, senador Márcio Bittar (PSL-AC), que indicou R$ 543 milhões.

Pelo decreto de Bolsonaro, o Ministério da Economia também deveria publicar a lista dos "links" nos quais as demais pastas publicariam as informações - o que não aconteceu. A Economia disse que a divulgação ocorrerá "tão logo (as páginas) sejam informadas pelos órgãos executores".

No caso do MDR, porém, a falta de transparência é maior em relação às indicações feitas antes da decisão do STF e do decreto. Até agora, a pasta não publicou os documentos que recebeu do Congresso com indicações dos mais de R$ 8 bilhões que executou de emendas de relator. A pasta empenhou, só em dezembro de 2020, mais de R$ 3 bilhões para apoiadores da candidatura de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara.

Pastas podem ter as contas rejeitadas, afirma advogado

A desobediência ao decreto presidencial pode acarretar sanções para os responsáveis, segundo o advogado Bruno Morassutti, uma vez que a norma tem a finalidade de regulamentar o cumprimento da Lei de Acesso à Informação (LAI) e da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) pelos ministérios em relação ao RP-9 (código usado para identificar as emendas de relator).

"O Tribunal de Contas da União analisa todos os anos as contas dos ministérios, e um dos critérios é justamente o cumprimento da LAI e da LRF", observou o advogado. "Portanto, se o ministério não trouxer argumentos técnicos razoáveis para não estar cumprindo o decreto do presidente, os responsáveis pela pasta, os ministros, podem ter as contas rejeitadas ou julgadas com ressalvas", afirmou Morassutti, que é cofundador da agência Fiquem Sabendo, voltada à transparência pública.

"E, claro, na eventualidade de existir algum problema que demonstre um descumprimento deliberado, aí é possível que o TCU multe o gestor público e remeta o assunto ao Ministério Público Federal para que tome as medidas cabíveis."

O Auxílio Brasil fará o Ministério da Cidadania ter o maior orçamento da Esplanada dos Ministérios em 2022. Serão R$ 173,6 bilhões para a pasta, conforme relatório apresentado pelo deputado Hugo Leal (PSD-RJ) nesta segunda-feira, 20.

A votação da proposta orçamentária foi adiada para a terça-feira, 21, e parlamentares ainda discutem ajustes na peça.

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O Auxílio Brasil, com um benefício de R$ 400, foi lançado pelo governo do presidente da República, Jair Bolsonaro, em substituição ao Bolsa Família. No Executivo, o programa é tratado como estratégico para Bolsonaro em 2022, ano em que o chefe do Planalto tentará a reeleição.

No Congresso, a avaliação é que o auxílio dará um fôlego eleitoral para Bolsonaro, mas com efeito limitado devido à inflação.

O orçamento da pasta, comandada pelo ministro João Roma (Republicanos), ficará maior que o do Ministério da Saúde (R$ 160,6 bilhões) e o da Educação (R$ 137 bilhões).

A comparação desconsidera as verbas vinculadas ao Ministério do Trabalho e Previdência (R$ 889,4 bilhões), que são carimbadas para os benefícios previdenciários, uma fatia obrigatória que compromete a maior parte do Orçamento da União.

O Ministério do Desenvolvimento Regional foi mais uma vez a pasta mais cobiçada pelos congressistas na hora de indicar emendas parlamentares.

Com as indicações individuais e os recursos do orçamento secreto, o orçamento da pasta comandada pelo ministro Rogério Marinho saltou de R$ 7,7 bilhões para R$ 13,8 bilhões, um aumento de 79% em comparação com o projeto inicial.

Foi publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira (20) a promulgação da Lei 14.225, de 2021, que abre créditos no valor de R$ 235,3 milhões para os Ministérios da Justiça e Segurança Pública, da Defesa e da Cidadania.

A norma é resultado da Medida Provisória (MP) 1.054/2021, aprovada nessa terça-feira (19) no Senado, com relatoria do senador Telmário Mota (PROS-RR).

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A lei destina R$ 41 milhões para Fundação Nacional do Índio (Funai), por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O montante será usado na proteção e promoção de direitos dos povos indígenas, que passam por dificuldades por conta da pandemia. 

A MP atendeu uma decisão liminar do ministro Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou ao governo federal a apresentação de um plano emergencial para o controle da pandemia nas terras indígenas. A liminar foi concedida após ação movida por partidos políticos e entidades de defesa dos povos indígenas.

Já para o Ministério da Cidadania serão R$ 173,3 milhões destinados a ações de segurança alimentar e nutricional e distribuição de alimentos a grupos populacionais tradicionais. O Ministério da Defesa terá R$ 20,9 milhões para ações de enfrentamento e combate à Covid-19.  

*Da Agência Senado

Nessa quinta-feira (7), foi aprovado pelo Congresso Nacional o crédito suplementar de R$ 690 milhões para pesquisa e ações estruturantes dos ministérios, através do PLN 16/2021. Do montante, R$ 55 milhões foram destinados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Segundo entidades da pesquisa no país, o valor total deveria ter sido distribuído à Ciência, para subsidiar projetos de estudo, sobretudo os já agendados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Pesquisa (CNPq). O recorte representa uma redução de aproximadamente 92% do valor inicial e desfalca as ações de pesquisa no Brasil. 

Oito órgãos assinaram um apelo, ainda na quinta-feira (7), ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para reverter uma decisão do Ministério da Economia. As entidades afirmam que uma modificação do PLN 16 foi feita “de última hora” pela Comissão Mista do Orçamento (CMO) do Congresso Nacional, atendendo a ofício enviado ontem pelo Ministro da Economia, e que subtraiu os recursos destinados a bolsas e apoio à pesquisa do MCTI. O PLN 16 abria crédito suplementar destinado ao Ministério, mas com a nova decisão, estarão sob ênfase a produção de radiofármacos e despesas do MCTI. 

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Entre as entidades que assinaram o apelo, estão Associação Brasileira de Ciências, a SBPC, Andifes, Confap, Conif, Confies, Consecti e IBCHIS. Confira na íntegra: 

MANOBRA DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA AFRONTA A CIÊNCIA NACIONAL 

A modificação do PLN 16, feita na última hora, no dia de hoje, pela Comissão Mista do Orçamento do Congresso Nacional, atendendo a ofício enviado ontem pelo Ministro da Economia, subtrai os recursos destinados a bolsas e apoio à pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações e impossibilita projetos já agendados pelo CNPq. É um golpe duro na ciência e na inovação, que prejudica o desenvolvimento nacional. E que caminha na direção contrária da Lei 177/2021, aprovada por ampla maioria pelo Congresso Nacional. 

O PLN 16 destinava 690 milhões de reais para o MCTI, alimentando em particular as bolsas e o Edital Universal do CNPq, mas, em cima da hora, por força de um ofício enviado pelo Ministério de Economia na véspera da reunião da CMO, mais de 90% desses recursos foram transferidos para outros ministérios, restando apenas R$ 55,2 milhões de reais, destinados ao atendimento de despesas relacionadas aos radio fármacos. 

O argumento utilizado pelo Ministério da Economia afronta a comunidade científica e tecnológica: afirma que os recursos já transferidos para o MCTI não estão sendo utilizados. Cabe lembrar que esses recursos são para crédito, são reembolsáveis, e não interessam à indústria. Já nos manifestamos anteriormente sobre a estratégia perversa de alocar 50% do total dos recursos do FNDCT para crédito reembolsável, o qual, uma vez não utilizado, será recolhido ao Tesouro no final do ano. Dá-se com uma mão, para retirar com a outra. Nesse processo, agoniza a ciência nacional. 

Fazemos um apelo aos parlamentares para que revertam essa decisão, com todos os meios disponíveis para repor os recursos destinados ao MCTI e ao CNPq. Está em questão a sobrevivência da ciência e da inovação no país. 

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Após vetar R$ 19,8 bilhões e bloquear R$ 9,3 bilhões do Orçamento no fim de abril, o governo poderá liberar até R$ 4,8 bilhões nas próximas semanas. A informação consta do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas, divulgado nesta sexta-feira (21) pelo Ministério da Economia. Elaborado a cada dois meses, o relatório orienta a execução do Orçamento.

Com base em cenários de evolução da receita, dos gastos obrigatórios e do cumprimento da meta de déficit primário e do teto de gastos, o documento traça cenários da parcela do Orçamento que pode ser contingenciada (bloqueada) ou liberada a cada bimestre.

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O relatório divulgado hoje (21) abre caminho para a recomposição da verba para ministérios e órgãos afetados pela negociação do Orçamento aprovado neste ano. Aprovado com cerca de R$ 30 bilhões remanejados de gastos obrigatórios para emendas parlamentares, o Orçamento de 2021 foi sancionado com vetos (bloqueios definitivos) de R$ 19,8 bilhões e contingenciamentos (bloqueios temporários) de R$ 9,3 bilhões. O acordo para os vetos parciais foi fechado para evitar o descumprimento de regras fiscais por parte do governo.

A liberação foi possível porque o governo revisou para baixo a estimativa de despesas obrigatórias, como subsídios e seguro-desemprego, que abriu espaço de R$ 4,8 bilhões no teto federal de gastos. Esse espaço fiscal ajudará a desafogar o orçamento de ministérios e de órgãos que estavam ameaçados de parar no segundo semestre. Com o valor a ser liberado, o valor contingenciado do Orçamento de 2021 caiu de R$ 9,3 bilhões para R$ 4,521 bilhões.

Déficit menor

O relatório também reduziu de R$ 286 bilhões para R$ 187,7 bilhões a previsão de déficit primário do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) neste ano. Isso foi possível porque a previsão de receitas líquidas da União aumentou, de R$ 1,345 trilhão para R$ 1,433 trilhão. Isso foi possível porque a previsão de crescimento da economia passou de 3,2% para 3,5% em 2021.

“Continuamos com déficit, mas com trajetória de melhora ao longo do ano. A previsão para o déficit caiu pelo grande efeito pelo lado da receita, e com despesa controlada, mesmo com créditos extraordinários. A gente tem uma trajetória mais forte de um déficit menor do que projetava anteriormente”, disse o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Bruno Funchal.

O déficit primário representa o resultado negativo das contas do governo desconsiderando os juros da dívida pública. Desde 2014, o Governo Central registra déficits primários, o que tornará 2021 o oitavo ano seguido de resultados negativos.

Com as reestimativas, a equipe econômica espera que o governo feche o ano com déficit primário abaixo da meta estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2021, que é de até R$ 247,118 bilhões. A estimativa de créditos extraordinários (fora do teto de gastos) foi mantida em R$ 99,5 bilhões, por causa dos gastos relacionados ao enfrentamento da pandemia de covid-19.

 

A lista elaborada pela Casa Civil com 23 acusações e críticas ao desempenho do governo federal no combate à pandemia - que podem vir a ser usadas para a defesa do governo na CPI da Covid no Senado - chamou a atenção de juristas para ao menos um crime de responsabilidade: violação a um direito ou garantia individual. A avaliação é de quatro professores de Direito ouvidos pelo Estadão.

O dispositivo em questão é o artigo 7.º da Lei 1.079/50, a chamada Lei do Impeachment. O artigo diz que é crime de responsabilidade violar qualquer direito individual e social. Para os especialistas, o direito à saúde e à vida se encaixa nas duas definições. A crise de oxigênio no Amazonas, o uso de recursos públicos para promover medicamentos sem eficácia científica comprovada e o atraso nas negociações para compra da vacina da Pfizer estão entre as situações que podem ser enquadradas na lei, segundo eles.

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"Qualquer atuação do Executivo que vá em sentido contrário à garantia da saúde é uma violação da Constituição, e isso é um crime de responsabilidade que pode fundamentar a abertura de um processo de impeachment", disse a defensora pública e professora de Direito Constitucional na PUC-SP Mônica de Melo. O professor Gustavo Badaró, da Faculdade de Direito da USP, concordou. "Para os crimes de responsabilidade, não importa conseguir comprovar uma ou dez situações em que houve infração. Se um crime de responsabilidade estiver bem caracterizado, já tem o mesmo efeito: perda de mandato."

Para Roberto Dias, professor de Direito Constitucional da FGV, a CPI pode investigar a quebra de decoro, infração que também está prevista entre os crimes de responsabilidade. Ele citou a live em que o presidente Jair Bolsonaro imitou uma pessoa com dificuldades para respirar - situação que, de acordo com o professor, pode ser entendida como deboche das mortes por covid-19. "O artigo 9.º da lei que trata de crimes contra a probidade na administração, em seu inciso 7.º, fala sobre proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo."

O professor Marcelo Erbella, especialista em Direito Penal na PUC-SP, avaliou que seria necessário "ir ao extremo" para imputar um crime comum ao presidente da República, porque seria necessário obter provas contundentes, identificar vítimas e mostrar uma relação direta entre um ato de ofício da Presidência e mortes em hospitais. "Não vejo como algo impossível, mas a construção da prova é muito difícil." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A crise militar aberta pelo presidente Jair Bolsonaro com a abrupta troca de comando no Ministério da Defesa e na cúpula das três Forças Armadas foi recebida com silêncio nos meios diplomáticos. Estados Unidos, União Europeia e Argentina, antigos parceiros de quem o atual governo se afastou (no caso dos EUA, recentemente, após a posse de Joe Biden), evitaram se manifestar sobre o episódio.

O jornal O Estado de S. Paulo procurou ouvir representantes dos governos e parlamentares dos EUA, da França e da Argentina sobre a crise. A reação mais comum foi a de evitar envolvimento com o tema. No governo americano, a avaliação é de que se trata de um tema de repercussão doméstica, sobre o qual não se deve tirar conclusões precipitadas.

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No Congresso dos EUA, os Democratas aliados do presidente Joe Biden se dividem em duas alas. Os expoentes da esquerda do partido veem com preocupação os gestos de Bolsonaro e temem uma ruptura antidemocrática. Já os parlamentares centristas, mais próximos ao presidente, defendem que a tentativa de politização das Forças Armadas deve ser acompanhada sem sobressaltos por parte de Washington, e com a consciência de que a resistência da própria cúpula militar a esses esforços é um sinal positivo.

No Conselho de Segurança Nacional e no Departamento de Estado, assessores se limitam a dizer que "estão cientes dos acontecimentos no Brasil" e "apoiam as instituições democráticas". Mesmo porque, segundo um experiente assessor parlamentar do Capitólio, Washington não tem tempo para lidar de perto com duas crises simultâneas no Hemisfério Ocidental.

E, apesar de as questões brasileiras repercutirem nos EUA, todos os olhares de quem acompanha a política externa na América Latina estão voltados ao impasse com o fluxo de imigrantes da América Central na fronteira americana com o México.

O governo argentino, que se manifestou prontamente quando houve crises militares em países como Bolívia e Equador, desta vez se resguardou. Em uma reunião em que o Brasil foi mencionado, o ministro das Relações Exteriores, Felipe Solá, disse que não há motivo para alarme e que se trata de uma questão interna. No Ministério do Interior, a preocupação maior não é com os militares brasileiros, mas com a crise sanitária relacionada à pandemia de Covid-19.

Ex-vice-presidente da Argentina e atual integrante da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Julio Cobos, da opositora UCR, lamentou que o Brasil esteja vivendo "momentos complexos" e observou que "a militarização do poder civil traz consigo uma série de perigos que nossa região conhece muito bem".

França

Presidente do grupo de amizade França-Brasil da Assembleia Nacional francesa e integrante do partido governista A República em Marcha (centro), a deputada Anne Blanc disse que considera a crise entre oficiais das Forças Armadas com o governo brasileiro ao mesmo tempo "inquietante" e "tranquilizadora". "Inquietante porque a gente não sabe as razões que levaram a essas demissões, com o risco aumentado de um golpe militar como o que o Brasil conheceu há exatos 57 anos. O lado tranquilizador é que, finalmente, alguns militares não querem ser associados à política de Bolsonaro."

A senadora do Partido Comunista Francês (PCF) Laurence Cohen, presidente do grupo interparlamentar França-Brasil, disse ter ficado surpresa com os acontecimentos em Brasília.

"O Brasil passa por um momento crítico, com a crise sanitária, e Bolsonaro, com uma sensação de perda de controle dentro do próprio governo, demitiu os ministros, especialmente o da Defesa, como uma tentativa de retomar o poder, para mostrar que era ele quem mandava no jogo. Mas ele não esperava as demissões dos três oficiais e eu tenho a sensação de que Bolsonaro sai enfraquecido desta história", afirmou Laurence.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As mudanças na equipe ministerial feitas pelo presidente Jair Bolsonaro nesta semana devem ser oficializadas em um evento na próxima terça-feira (6) para a posse dos seis ministros nomeados. A cerimônia ocorrerá pela manhã no Palácio do Planalto, segundo fontes informaram ao Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Parte do evento será simbólica, já que os ministros da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, e da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, já assinaram seus termos de posse na terça-feira (30).

O troca-troca na Esplanada começou com o pedido de demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Membro da ala ideológica do governo, o chanceler era alvo de críticas por sua atuação durante a pandemia e sofria pressão no cargo dentro e fora do governo, inclusive com uma ameaça de pedido de impeachment por parte de senadores. Para a chefiar o Itamaraty, Bolsonaro escolheu o embaixador Carlos França, que já foi cerimonialista do Planalto e ocupava até então a chefia da assessoria especial da Presidência.

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Incomodado com a falta de apoio das Forças Armadas aos seus posicionamentos, Bolsonaro também pediu o cargo do ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Em seu lugar, indicou o general Walter Braga Netto. No dia seguinte à queda de Azevedo, em um movimento inédito, o presidente também demitiu os três chefes das Forças Armadas.

A nova cúpula militar escolhida é formada pelo general Paulo Sérgio (Exército), o brigadeiro Baptista Junior (Aeronáutica) e o almirante Almir Garnier (Marinha). Os chefes militares foram anunciados por Braga Netto na quarta-feira, 31, e devem ter também solenidade para a transmissão de seus cargos nos próximos dias.

Com ida de Braga Netto para a Defesa, o seu cargo na Casa Civil foi assumido pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, que deixou a chefia da Secretaria de Governo (Segov). Na dança das cadeiras, o Centrão emplacou mais uma vaga no governo. A deputada Flávia Arruda (PL-DF) foi nomeada como nova ministra da Segov no lugar de Ramos e passará a cuidar da articulação do governo com o Congresso.

Insatisfeito, o presidente também substituiu o comando da AGU. José Levi deixou o cargo depois de se recusar a assinar a ação apresentada por Bolsonaro para derrubar decretos de toque de recolher determinados por três governadores. Em seu lugar, André Mendonça, que era ministro da Justiça, reassumiu a vaga que já havia ocupado entre janeiro de 2019 e abril de 2020.

Para a Justiça, Bolsonaro escolheu o delegado da Polícia Federal Anderson Torres. Próximo da família do presidente, Torres até então ocupava a função de Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas já havia sido cotado para o comando da PF. Os dois ministros foram empossados em cerimônia reservada na terça-feira, 30, no gabinete de Bolsonaro, no mesmo modelo da cerimônia de posse do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na semana anterior.

Pouco depois de Mendonça retornar ao cargo, a AGU enviou ontem manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF) em caráter de urgência pedindo a suspensão de todos os decretos ou atos administrativos de governadores e prefeitos para proibir celebrações religiosas na pandemia, sobretudo na Páscoa. Contrário às medidas de fechamento, Bolsonaro defendeu nesta quinta-feira, 1º, que a "liberdade de culto" é sagrada, assim como o direito de ir e vir.

Veja aqui como ficou o comando das seis pastas depois das mudanças feitas por Bolsonaro:

- Relações Exteriores: Carlos Alberto Franco França;

- Defesa: Walter Braga Netto;

- Casa Civil: Luiz Eduardo Ramos;

- Secretaria de Governo: Flávia Arruda;

- Advocacia-Geral da União: André Mendonça;

- Justiça e Segurança Pública: Anderson Torres.

O presidente da República Jair Bolsonaro negou que tenha politizado o Ministério da Defesa com a troca de comando da pasta esta semana. O general Fernando Azevedo e Silva deu lugar ao também general Walter Braga Netto, que antes comandava a Casa Civil.

"Três ministros foram trocados durante a semana e três foram remanejados. Vou falar um pouquinho apenas sobre o Ministério da Defesa, onde houve uma especulação enorme da mídia, né? 'Está politizando... quer fazer isso, quer fazer aquilo'. Curiosidade: quem era e quem é o ministro da Defesa. Ambos são generais de Exército. Do último posto da carreira. General de quatro estrelas. Vocês sabem, quem é da ativa não pode estar sequer filiado a qualquer partido político", disse.

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Bolsonaro fez uma lista de nomes de ministros durante os governos petistas. "No passado, a presidente Dilma (Rousseff) colocou o Jaques Wagner, do PT, para ser ministro da Defesa. Ela politizou ou eu politizei?", disse.

Ele ainda fez elogios ao general Braga Netto e disse que ele é um general de "linha de frente, de combate".

Um dia após o presidente Jair Bolsonaro demitir os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, o vice-presidente Hamilton Mourão defendeu, nesta quarta-feira (31), respeito ao critério de antiguidade na escolha da nova cúpula militar. A saída conjunta foi decidida por Bolsonaro após os oficiais se recusarem a politizar as Forças Armadas.

"Eu julgo que a escolha tem que ser feita dentro do princípio da antiguidade, até porque foi uma substituição que não era prevista. Quando é uma substituição prevista, é distinto. Então, se escolhe dentro da antiguidade e segue o baile", afirmou o vice, que é general da reserva.

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A defesa de Mourão pelo respeito a regras internas das Forças Armadas ocorre no momento em que Bolsonaro avalia quebrar a tradição de nomear o mais antigo para comandar o Exército. Comandante militar do Nordeste, Marco Antônio Freire Gomes é o nome mais cotado nos bastidores do governo para substituir Edson Leal Pujol, o comandante demitido. O presidente, no entanto, tem sido aconselhado a considerar alternativas para não criar atritos com generais mais experientes. O novo ministro da Defesa, general Braga Netto, se reúne hoje com os candidatos aos cargos.

Caso a escolha recaia sobre Freire Gomes, Bolsonaro poderá repetir a ex-presidente Dilma Rousseff, que quebrou a tradição no Exército ao nomear Eduardo Villa-Bôas para comandar a instituição em 2015. Ele era o terceiro mais antigo na época.

Segundo militares que acompanham a negociação, para nomear Freire Gomes Bolsonaro teria de "aposentar" seis generais mais antigos que ele. Isso porque eles passam à reserva se um oficial mais "moderno", com menos tempo de Exército, for alçado ao comando. A aposentadoria não é uma regra compulsória, mas costuma ter força de norma não escrita nos quartéis. Os oficiais costumam pedir para deixar a ativa como forma de não serem comandados por um antigo subordinado, uma inversão na hierarquia.

Ao falar do assunto na manhã desta quarta-feira, Mourão minimizou a crise instalada com a demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e toda a cúpula militar. O vice ressaltou que as Forças Armadas atuam dentro de um "tripé" de princípios de legalidade, legitimidade e estabilidade. "Então, não muda nada", afirmou ele em entrevista na chegada à Vice-Presidência, pela manhã.

Segundo Mourão, a decisão de Bolsonaro foi "dentro do previsto", já que os chefes das Forças não possuem mandato e podem ser "substituídos a qualquer momento". Foi a primeira vez na história em que os três comandantes são demitidos em conjunto no meio do mandato presidencial.

"O presidente tem a prerrogativa de mudar ministros, comandantes de Forças também. Não é problema isso aí, qualquer um que for assumir o comando das Forças vai manter a mesma forma de atuar", afirmou Mourão.

O vice-presidente evitou avaliar a forma como a demissão dos comandantes ocorreu e disse não ter participado da decisão, que foi comunicada ontem por Braga Netto, em reunião com os então comandantes Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa Júnior (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica).

"Não participei do processo decisório, não posso dizer se foi o melhor ou pior", disse. "Não conversei com ninguém. Procurei me manter fora disso, sou um oficial da reserva. Aprendi com meu pai que quando você passa para a reserva a bola está com os que estão na ativa."

Apesar de classificar a demissão dos comandantes como algo "dentro do previsto", Mourão admitiu que a medida foi "abrupta" e que não era esperada. "Essa foi uma mudança mais abrupta, mas está dentro do previsto. Os comandantes não têm mandato", afirmou. Ele acrescentou que os chefes das Forças podem ser "substituídos a qualquer momento".

Sobre a demissão de Azevedo e Silva, que deixou o Ministério da Defesa na última segunda-feira, 29, Mourão disse que o general é um "amigo" e uma pessoa "sensata e esclarecida", mas ressaltou que Braga Netto deverá atender às necessidades do novo cargo: "Braga Netto tem pleno conhecimento e capacidade para substituir o ministro Fernando (Azevedo)".

Azevedo foi demitido do cargo após desgastes com Bolsonaro, que cobrava maior apoio das Forças Armadas às suas posições. Braga Netto então foi deslocado da Casa Civil e nomeado como novo ministro da Defesa.

O presidente Jair Bolsonaro poderá repetir a ex-presidente Dilma Rousseff e quebrar uma tradição no Exército se decidir nomear como próximo comandante do Exército o general Marco Antônio Freire Gomes. Comandante militar do Nordeste, Gomes é o nome mais cotado nos bastidores do governo para substituir o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, mas o presidente tem sido aconselhado a considerar outro nome para não criar atritos com generais mais experientes.

O novo ministro, general Braga Netto, vai conversar hoje com os cotados para Exército, Marinha e Aeronáutica.

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Na hierarquia militar, os recém exonerados comandantes estavam acima do novo ministro da Defesa, Braga Netto, pelo critério de antiguidade. No Exército, a tradição da escolha dos comandantes obedece à antiguidade dos generais de quatro estrelas, ou seja, quem tem mais tempo no topo da carreira.

Em 2015, a então presidente Dilma ignorou isso e escolheu de uma lista tríplice o general Eduardo Villas Bôas, que à época era comandante de Operações Terrestres. Villas Bôas era o terceiro na ordem. Ela foi a última a desconsiderar o critério, mas também houve casos anteriores, nos governos Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Freire Gomes tem uma passagem recente pelo Planalto. Foi secretário executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Michel Temer. Apesar de ter a preferência no Planalto, pesa contra ele o fato de ser muito "moderno", o que pode provocar insatisfações na hierarquia militar e uma série de mudanças administrativas, caso seja nomeado. Segundo militares que acompanham a negociação, para nomeá-lo Bolsonaro sem quebrar a tradição o presidente teria de "aposentar" seis generais mais antigos.

Na Força Aérea Brasileira, a lista é encabeçada pelos tenentes-brigadeiros do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior, do Comando Geral de Apoio, Luiz Fernando de Aguiar, do Comando de Preparo, e Marcelo Kanitz Damasceno, chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.

Baptista Júnior é o mais cotado. Nas redes sociais, ele costuma divulgar mensagens otimistas sobre a vacinação no País, em linha com a estratégia de comunicação do Palácio do Planalto, além de curtir críticas de deputados e influenciadores bolsonaristas a "comunistas". Esse comportamento é bem visto no Planalto.

Na ordem de antiguidade da Marinha estão os almirantes de esquadra Alípio Jorge Rodrigues da Silva, comandante de Operações Navais, Almir Garnier Santos, secretário-geral do Ministério da Defesa, e Marcos Silva Rodrigues, chefe do Estado-Maior da Armada.

A Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara Federal aprovou, nesta quarta-feira (31), a convocação do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, para dar explicações sobre processos de compras realizadas pelas Forças Armadas aprovados pelo governo federal - entre as quais, a de iguarias.

O requerimento do deputado Elias Vaz (PSB-GO) foi aprovado por unanimidade. Por ser uma convocação, e não um convite, Braga Netto é obrigado a comparecer. A previsão é de que a audiência ocorra na próxima semana. A data será confirmada pelo presidente da comissão, deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ).

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Segundo Elias Vaz, a convocação será uma oportunidade para tratar da crise das Forças Armadas. Bolsonaro demitiu nesta semana o general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. O motivo foi a recusa do então ministro em permitir o uso político das instituições militares pelo presidente. Com ele, saíram ainda os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Em seu requerimento, Vaz pede que sejam esclarecidas as compras alimentares da Defesa. "Queremos saber por que o governo federal gastou milhões com picanha, cerveja, bacalhau, salmão e filé mignon para as Forças Armadas, um cardápio muito distante da realidade da maioria dos brasileiros", afirmou o parlamentar.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que frequentam grupos de WhatsApp governistas estão "esperando um sinal" para saber como agir diante da troca dos comandantes das Forças Armadas e da demissão do ministro da Defesa, avalia o professor de Estudos em Mídia David Nemer, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Ele monitora 75 grupos bolsonaristas como objeto de pesquisa.

"Estão esperando o debate ser pautado para eles poderem se engajar, porque eles não sabem se isso vai ser uma coisa ruim ou não. Porque são dois aspectos de que eles sempre se sentiram próximos: Bolsonaro e as Forças Armadas", disse. "É como ver o pai e a mãe brigando. Que lado eles vão tomar? Sempre vão tomar o lado do Bolsonaro, mas estão esperando ver como é que isso vai se dar."

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Percepção semelhante é relatada pelo programador Guilherme Felitti, da empresa de análise de dados digitais Novelo Data, que foca pesquisas no YouTube. Para ele, os bolsonaristas estão com "dificuldade" em interpretar as baixas relacionadas aos militares. "A demissão do Azevedo racha a crença de unidade entre Bolsonaro e o Exército e contradiz todas aquelas narrativas de 'intervenção' incentivadas, principalmente, desde o começo da pandemia", afirmou. O monitoramento da Novelo acompanha diariamente os 183 maiores canais de extrema direita no Brasil.

Nos últimos dias, tem circulado com frequência entre os grupos de apoio ao presidente uma convocação para manifestação em quartéis. O chamamento, que fala em "intervenção militar com Bolsonaro no poder", é para marcar o aniversário de 57 anos do golpe militar de 1964. "Essa mesma coisa circulou no ano passado e não teve muita adesão. A gente não sabe direito como isso vai se dar. Apesar de ter a chamada, eu acho difícil ter algo muito grande."

Twitter

Segundo análise feita pela Agência Bites, de segunda-feira, 29, data das seis trocas ministeriais, até as 10h desta terça, 30, houve 650 mil citações ao assunto no Twitter. O volume é considerado "grande". As repercussões tiveram foco principal nas mudanças no Itamaraty e no Ministério da Defesa.

Além do domínio narrativo no Twitter, as audiências bolsonaristas também monopolizaram os cinco vídeos de maior repercussão no YouTube, desde ontem, citando o presidente. Os conteúdos abordam as mudanças ministeriais, e três vídeos, juntos, angariaram 747 mil visualizações, segundo monitoramento da Bites.

A possibilidade de Bolsonaro realizar um "autogolpe" é vista com preocupação, mas pelos perfis de esquerda. Isso porque a mudança que causou mais surpresa foi a saída do ministro Fernando Azevedo e Silva da pasta da Defesa. "Alguns perfis de esquerda demonstraram preocupação com a possibilidade de o presidente flertar com um autogolpe, enquanto bolsonaristas repercutiram as trocas na Defesa e debateram o papel das Forças Armadas", apontou relatório da Bites.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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