Taiwan denunciou a China, seu "vizinho do mal", por realizar nesta sexta-feira (5) o segundo dia dos maiores exercícios militares já organizados por Pequim ao redor da ilha, apesar das condenações dos Estados Unidos e de outros aliados ocidentais.
Na manhã desta sexta-feira, "vários grupos de aeronaves e navios de combate realizaram exercícios ao redor do Estreito de Taiwan e cruzaram a linha média do estreito", afirmou o Ministério da Defesa de Taiwan.
"Este exercício militar chinês, seja pelo lançamento de mísseis balísticos ou cruzando a linha média do estreito, é um ato altamente provocativo", acrescentou.
A linha média é uma coordenada não oficial, mas de aceitação geral, entre as costas da China continental e as de Taiwan.
A China iniciou as manobras na quinta-feira, com o lançamento de mísseis balísticos e o deslocamento de sua aviação e navios em seis zonas marítimas ao redor de Taiwan, para expressar sua indignação após a visita a Taipé da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.
Pequim não confirmou oficialmente se os mísseis sobrevoaram a ilha e Taipé se recusou a comentar sobre a trajetória dos projéteis.
Apesar das advertências de Pequim, que vê Taiwan como parte de seu território, Pelosi fez uma visita relâmpago à ilha na terça-feira, na qual garantiu que os Estados Unidos "não abandonarão" a ilha autônoma.
Em resposta, o Exército de Libertação Popular (ELP) chinês declarou várias áreas proibidas ao redor de Taiwan, incluindo algumas das rotas comerciais mais movimentadas do mundo, para manobras militares.
Pequim classificou as manobras, que continuarão até o meio-dia (hora local) de domingo, de uma resposta "necessária" à visita de Pelosi.
Em Pingtan, uma ilha chinesa próxima das manobras em cursos, jornalistas da AFP observaram um avião de combate nesta sexta-feira.
- Reação "exagerada" -
Washington acusou Pequim de ter reagido de maneira "exagerada" à visita de Pelosi e alertou que seu porta-aviões "USS Reagan" continuará monitorando os arredores de Taiwan. O governo dos Estados Unidos também anunciou o adiamento de um teste de mísseis intercontinentais "para evitar uma maior escalada das tensões", segundo um porta-voz da Casa Branca, John Kirby.
Por sua vez, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse nesta sexta-feira que as manobras constituem "uma escalada significativa" das tensões. Para Blinken, a visita de Pelosi "não justifica" os exercícios lançados por Pequim.
O primeiro-ministro de Taiwan, Su Tseng-chang, pediu a seus aliados que pressionem para reduzir a tensão da situação. "Não esperávamos que o vizinho do mal ao lado mostrasse seu poder em nossos portões e colocasse arbitrariamente em perigo as rotas marítimas mais movimentadas do mundo com seus exercícios militares", declarou Su à imprensa.
Pelosi garantiu em Tóquio, última escala de sua viagem asiática, que os Estados Unidos "não permitirão" que a China isole Taiwan. "Eles podem tentar impedir que Taiwan visite ou participe de outros lugares, mas não vão isolar Taiwan impedindo-nos de viajar para lá", afirmou.
A China anunciou nesta sexta-feira que cortará a cooperação com os EUA em vários assuntos, como a suspensão das negociações de defesa e climáticas, e declarou sanções contra Pelosi "e sua família imediata" por "interferir seriamente nos assuntos internos da China".
O Japão pediu o "fim imediato" das manobras chinesas, após indicar que cinco mísseis teriam caído em sua zona econômica exclusiva (ZEE) e que quatro deles poderiam ter "sobrevoado a ilha de Taiwan".
A Austrália também descreveu as manobras militares como "desproporcionais e desestabilizadores".
- Desvio de voos -
Os exercícios acontecem em algumas das rotas marítimas mais movimentadas do planeta, que transporta eletrônicos fundamentais de fábricas no Sudeste Asiático para os mercados mundiais.
O Escritório Marítimo e Portuário de Taiwan emitiu alertas para os navios que circulam nesta área e várias companhias aéreas internacionais disseram à AFP que desviariam seus voos para evitar o espaço aéreo da ilha.
"Fechar essas rotas marítimas - mesmo que temporariamente - tem consequências não apenas para Taiwan, mas também para os fluxos comerciais ligados ao Japão e à Coreia do Sul", disse Nick Marro, analista sênior de comércio global da Economist Intelligence Unit.
A hipótese de uma invasão de Taiwan, com 23 milhões de habitantes, é improvável. Mas, desde a eleição em 2016 da atual presidente, Tsai Ing-wen, as ameaças aumentaram.
Tsai, que ao contrário do governo anterior pertence a um partido pró-independência, se recusa a reconhecer que a ilha e o continente fazem parte de "uma mesma China".